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Coluna do Samy

Ação da Oi é um exemplo preocupante do efeito-ancoragem

Empresa é protagonista de uma das mais espetaculares quedas de preço da história da B3.

De cada dez investidores na B3, quatro são acionistas da Oi (OIBR3, OIBR4). A provável segunda recuperação judicial em menos de dois meses de uma empresa, que já vendeu grande parte dos ativos que possuía e mesmo assim segue altamente endividada, não assusta 1.354.834 deles, segundo levantamento da Trademap, divulgado pela revista Exame. Em termos exatos, 41% das pessoas físicas investem na empresa.

Como comparação, a Vale (VALE3), empresa de maior peso no Ibovespa, tem valor de mercado 300 vezes maior do que a Oi, mas menos da metade dos acionistas. Também costuma ter a mais recomendada por analistas e conta com a participação de grandes fundos internacionais entre seus acionistas, enquanto a Oi hoje é praticamente ignorada pelo mercado, exceto os pequenos investidores.

É mais um exemplo do efeito-ancoragem. A ação da Oi é protagonista de uma das mais espetaculares quedas de preço da história da B3, acumulando um recuo de 99,8% nos últimos dez anos. Após um agrupamento recente, é negociada por R$ 2. Chegou a valer R$ 954 em 2012. Mas um ano atrás valia R$ 8,90. Muitos investidores acabam virando acionistas da empresa apostando em uma volta rápida a preços mais altos.

Mas por que voltaria? Com a nova recuperação judicial pela frente, a tendência é a ação passar a andar de lado, na melhor das hipóteses, ou seguir caindo. Mas, como mostra o trabalho de Daniel Kahneman, ganhador do Nobel de 2003, e Amos Tversky, de dois gigantes do estudos que unem economia e comportamento, são investidores que tomam decisões tomando o preço mais alto como referência.

Pelo mesmo motivo, a ação do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) também foi uma das favoritas do mercado nos últimos anos, mesmo com a empresa enrolada em problemas, com um número de acionistas muito maior do que quando os balanços eram saudáveis. Nos dois casos, um número considerável de pessoas considerou que a ação estava barata só porque um dia foi mais cara.

Os sinais de que as ações IRBR3 estão saindo da crise, como a possibilidade de voltar a fazer parte do Ibovespa, podem vir a recompensar a aposta no futuro, mas o fato é que quem entrou um ano atrás acumula uma perda de 77%. Não há nenhuma garantia de que, hoje cotada na faixa dos R$ 21, será capaz de voltar aos R$ 1.242 de janeiro de 2020. Quer dizer, nada, exceto a crença de muitos no mercado de que preços anteriores atraem os preços atuais.

A boa série GameStop Contra Wall Street, do Netflix, revela um bom número de pequenos investidores no mercado à procura de uma tacada de sorte para ganhar muito dinheiro rápido. Isso envolve correr mais riscos, o que torna especialmente vulneráveis as pessoas que correm para as ações da Oi.

De acordo com a Trademap, entre todos os investidores, as ações só são as preferidas entre quem tem menos de R$ 10 mil na bolsa. O grupo corresponde a 66% das 4,6 milhões de pessoas hoje na bolsa. Pessoas que, segundo dados da B3, costumam concentrar seus portfólios. Há apenas uma ação na carteira de 45% dos pequenos investidores.

É preocupante se este papel for justo o da Oi.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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