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Em que os investidores e executivos do setor de saúde devem ficar atentos?

Entenda como a disrupção das healthtechs está transformando o setor e como empresas consolidadas como Dasa, Fleury, RaiaDrogasil e Rede D’or.

Executivos e investidores do mercado de saúde precisam ficar atentos. As mudanças marcadas pela inovação nos modelos de negócios no setor nunca estiveram tão aceleradas e impactam principalmente dois tipos de negócios.

O primeiro tipo é formado pelas healthtechs, ou startups do segmento que surgem, que usam tecnologia e querem transformar o mercado. O segundo é formado por empresas tradicionais que buscam inovar para responder à disrupção na área da saúde, como Dasa (DASA3), Fleury (FLRY3), Raia Drogasil (RADL3) e Rede D’or (RDOR3), que são listadas na bolsa de valores brasileira.

Para ter um termômetro sobre o que está por vir no mercado, vale olhar primeiramente para as startups. Nos Estados Unidos, a Everlywell transformou o tradicional serviço de exames laboratoriais e diagnósticos. A inovação foi que o paciente, em vez de ter que ir ao laboratório, ganhou acesso a kits vendidos digitalmente para realização de exames em casa de maneira acessível e conveniente, resolvendo a insatisfação dos clientes que precisavam gastar muito tempo, esforço e dinheiro para fazer, esperar e retirar seus exames nos laboratórios tradicionais.

A empresa foi fundada em 2015 por uma ex-aluna de Harvard, Julia Cheek, que dizia que “os consumidores estão mudando a forma como usam o sistema de saúde, adotando soluções digitais e domésticas em taxas rápidas que nunca vimos antes”. Julia foi até o Shark Tank, em 2017, buscando investidores. Na época, era estimado que o negócio valia US$ 20 milhões.

Poucos anos depois, estima-se que seu negócio tenha atingido um valor de mercado próximo a US$ 3 bilhões ao adquirir, em 2021, duas empresas do setor da saúde e lançar a marca do seu grupo corporativo chamada Everly Health. 

Uma das empresas adquiridas foi a PWNHealth, uma rede de médicos que fornece acesso fácil a diagnósticos e telemedicina. Dessa forma, a Everly Health se tornou uma plataforma com capacidade para a logística dos exames, conectando laboratórios, médicos e até mesmo alguns planos de saúde com os pacientes, já tendo mais de 20 milhões de vidas servidas anualmente.

Outra empresa que não poderia ficar de fora dessa análise é a Amazon (AMZO34). Em 2018, por US$ 750 milhões, a Amazon comprou a Pillpack, uma farmácia online dos Estados Unidos em que o cliente recebe as receitas prescritas por profissionais da área médica e compra diretamente os medicamentos para recebê-los em sua casa, prometendo rapidez e grandes descontos. 

A Amazon também passou a oferecer telemedicina e assistência com um projeto piloto para atender seus funcionários, originando a Amazon Care, em 2019. A unidade parece realmente focar no mercado corporativo e já começou a vender serviços médicos online aos funcionários de outras empresas, como a rede de hotéis Hilton, e expandiu a região de atuação.

Mudando o foco para algumas das empresas estabelecidas que atuam no Brasil, listadas na bolsa, o Grupo Fleury, que assim como a Everlywell tem um serviço de laboratórios, diz em no seu portal de relações com investidores que uma das metas estratégicas da empresa é a de ser um grande ecossistema de saúde no Brasil.
Para isso, em setembro de 2020, o Fleury lançou a startup Saúde iD, uma plataforma que une pacientes, médicos, empresas e operadoras, permitindo ao paciente contratar consultas por telemedicina, compra de exames, descontos em medicamentos e até a compra de cirurgias pelo seu website. Segundo a empresa, são feitos entre 40 mil e 60 mil atendimentos por mês.  

A plataforma Saúde iD inclusive anunciou parcerias com redes de farmácias, como a Pague Menos (PGMN3), listada na bolsa e que quer também ser um hub completo de serviços de saúde, competindo com a RaiaDrogasil.

Nessa parceria, por exemplo, a Saúde iD passa a vender medicamentos com descontos e, por sua vez, o Grupo Feury também começou a oferecer serviços de diagnósticos dentro das farmácias da Pague Menos.

Para se tornar um hub de serviços médicos, o Fleury tem comunicado ao mercado parcerias e aquisições nos mais variados segmentos da saúde. Mas há outras empresas listadas na bolsa que também querem crescer e se consolidar como um hub, ou ecossistema da saúde, como a RaiaDrogasil, a Dasa e a Rede D’or. 

Sobre a RaiaDrogasil, hoje ela atua além da venda de medicamentos, até mesmo com telemedicina, e diz querer integrar serviços e produtos em um ecossistema de saúde, tendo adquirido várias outras startups e negócios.

Já a Dasa é uma grande rede de medicina diagnóstica e um grupo hospitalar, por exemplo, com o Hospital 9 de Julho, em São Paulo, que tem feito várias aquisições e que também tem a ambição de consolidar um ecossistema de saúde.

Outra gigante do setor, e que tem um dos maiores valores de mercado de toda bolsa brasileira, é a Rede D’or. A empresa é uma grande operadora e administradora de hospitais privados no Brasil, com mais de 50 hospitais. O interessante é que o Grupo D’or foca mais no seu segmento principal até mesmo quando diversifica negócios. O Grupo D’or tem participação na Qualicorp, uma operadora de planos de saúde coletivos por adesão que conta com mais de 470 entidades de classes, 2,6 milhões de beneficiários e 10 mil empresas. Isso possibilita aumento no fluxo para os hospitais do grupo, com maior utilização da rede com planos mais acessíveis.

No que ficar de olho

Enquanto nos Estados Unidos as empresas de tecnologia ganham escala, no Brasil as empresas tradicionais aceleram suas inovações, comprando empresas de tecnologias e querendo elas mesmas serem protagonistas.

Com isso, há quatro grandes questões urgentes que o investidor vai precisar tentar responder: 1- se a estratégia de diversificação com crescimento orgânico e inorgânico é o melhor caminho para essas empresas;  2- quem está mais preparado montando as peças certas para ser um grande hub de saúde com soluções de ponta a ponta; 3- que tipo de empresa e de qual segmento da saúde tem mais chances de virar o centro de um ecossistema; 4- e, por último, se haverá mesmo espaço para o protagonismo de mais de uma empresa do setor. 

Vários analistas argumentam que há bastante espaço para a expansão de todas essas grandes empresas, com um nível de sobreposição que não deverá ser muito prejudicial e que irá acelerar a concentração no setor. Mas não dá para, no futuro, todas elas serem protagonistas atuando praticamente de ponta a ponta com soluções aos pacientes. É pouco provável existirem várias empresas se tornando centrais com múltiplos ecossistemas de saúde. 

A empresa que poderá ter mais sucesso e destravar o valor será aquela que melhor selecionar as peças críticas do ecossistema. Quem fizer um movimento errado, vai se engajar em um potencial queima de caixa e perda de foco, pois, ao montar um ecossistema, praticamente qualquer peça pode inicialmente parecer atrativa, o que demanda um grande cuidado na gestão dos seus negócios. 

*Leandro Guissoni é Ph.D., professor de estratégia no Brasil e Estados Unidos, empresário, palestrante e autor de livros, artigos e casos de empresas por Harvard. Assessora grandes empresas em inovação digital e analytics.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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