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Por que muitos analistas erram ao recomendar investimentos?
Entenda por que pode fazer sentido fazer o oposto das recomendações de profissionais.
Muitos investidores seguem as sugestões de analistas do mercado para montar seus portfólios. Faz sentido. Dá um trabalho considerável juntar todas as informações. É preciso, por exemplo, aprender a ler balanços. A opinião de um especialista faria toda a diferença. Afinal de contas, trata-se de alguém que conhece o mercado, as empresas e o ambiente econômico.
Mesmo assim, talvez o melhor seja fazer exatamente o oposto do que dizem as análises, segundo um estudo italiano. O economista Nicola Gennaioli e três colegas da Universidade Bocconi, investigaram 35 anos de análises de ações, publicadas entre 1981 e 2016 nos Estados Unidos. Queriam saber se ocorre no mercado financeiro o que o ganhador do Nobel de Economia Daniel Kahneman e seu parceiro de pesquisas Amos Tversky batizaram de viés de representatividade.
Na proposição clássica, julgamos uma pessoa a partir de um estereótipo ou outra informação conhecida. Alguém que é tímido teria muito mais chance de ser um bibliotecário do que de ser um médico ou agricultor. Uma pessoa que milita por causas sociais teria mais chance de trabalhar numa ONG ou dar aulas numa universidade do que de ser CEO de uma grande empresa. Pode ser em alguns casos, mas não em todos.
Outro exemplo de representatividade enganadora é de que, para muitas pessoas, os irlandeses são ruivos. Na verdade, apenas 1 em 10 pessoas nascidas na Irlanda são sardentas ou têm o cabelo vermelho. Mas os irlandeses ruivos são super representados nos filmes e nos programas de TV, levando uma parcela considerável da humanidade a considerar que os ruivos predominam no país.
Todas essas conclusões resultam, segundo a teoria, de um atalho mental com pouco fundamento na realidade, mas que frequentemente usamos para tomar decisões. Já no caso do mercado financeiro, o trabalho queria verificar se analistas podem fazer algo parecido com as empresas, exagerando no otimismo ou no pessimismo influenciados por uma informação anterior.
Por exemplo, se quando olhamos para as empresas de varejo, não estamos buscando o próximo Magazine Luiza (MGLU3), um sucesso da bolsa que se valorizou quase 23.000% entre 2015 e 2020. Ou o risco de que as análises das empresas do ramo de telefonia sejam influenciadas de alguma forma pela derrocada das ações da Oi (OIBR3), que hoje valem 1% do que valiam em 2012.
Os resultados são implacáveis. Em 35 anos, o rendimento das ações sobre as quais os economistas estavam mais otimistas foi de 3% ao ano. Já o grupo dos 10% de ações que mais receberam análises pessimistas rendeu 15% ao ano. Não quer dizer que os analistas sabem pouco de seu trabalho. Longe disso. São profissionais capazes e uma fonte inestimável de informação para acompanhar as empresas.
Mas o estudo também demonstra que são humanos. E, como tal, sujeitos a decisões equivocadas baseadas na conclusão de que um grupo representa o todo.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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