A falta de peças tem mostrado seus efeitos na indústria automotiva. E quem mais está sentindo as consequências no Brasil é a Chevrolet, que vê a liderança do mercado brasileiro conquistada em 2016 cada vez mais distante em 2021.
Isso porque a fábrica de Gravataí, responsável por produzir o Onix, carro mais vendido do país desde 2015, está parada desde abril. Além dele, o local também monta o Onix Plus, sedã que foi o 3º veículo mais popular do país no ano passado.
Crise é global
Os “vilões” da empresa são os semicondutores, componentes essenciais para que sistemas eletrônicos dos veículos funcionem.
Vale lembrar que a falta de semicondutores é um problema global, e já parou fábricas de automóveis mundo afora. É importante mencionar isso, porque esses componentes não são feitos no Brasil e também não são exclusividade da indústria automotiva.
Quando a pandemia teve início, no ano passado, a demanda de semicondutores na indústria automotiva caiu. Assim, as fabricantes desse componente (localizadas majoritariamente na Ásia) voltaram as atenções para outros setores que também usam tais peças, como eletrônicos e smartphones.
Agora, quando a indústria automotiva voltou a produzir em níveis parecidos com os de antes da pandemia, não há oferta suficiente para abastecer as linhas de produção. A Anfavea, associação das fabricantes de veículos, estima que a produção global deve ser de 3% a 5% menor em 2021 por conta da escassez de semicondutores.
Por que a Chevrolet sofre mais?
De volta ao Brasil, é preciso entender as razões para a Chevrolet estar sofrendo mais com a falta de semicondutores do que outras fabricantes. Para Raphael Galante, consultor da Oikonomia, essa mudança é reflexo de diferentes leituras das empresas desde o início da pandemia.
“No começo da pandemia, o “sofrimento” dela [Chevrolet] foi menor, porque se preparou para um cenário pior. Aí, esse ano, talvez não tenham se preparado para uma alta tão grande como a Fiat”, afirma Galante.
Com a aposta de que o mercado se recuperaria de forma mais rápida, a Fiat comprou os semicondutores necessários para manter a produção em ritmo normal. Por outro lado, provavelmente a Chevrolet não acreditou que as vendas subiriam tanto, e colocou o “pé no freio” nas encomendas.
Consequências
Um reflexo da longa paralisação na produção de Onix e Onix Plus é que a dupla, acostumada a ocupar as posições mais altas nos rankings de emplacamentos da Fenabrave, ficou de fora do top 10 em maio. Enquanto o Onix foi o 13º carro mais vendido no mês, o Onix Plus acabou três posições abaixo. No acumulado do ano, o Onix já viu a liderança ser tomada pela Fiat Strada.
A “dependência” de Onix e Onix Plus também ajuda a explicar a queda da Chevrolet no ranking das fabricantes. Em 2020, essa dupla foi responsável por 64,6% das vendas da empresa no Brasil. Entre janeiro e maio deste ano, a participação de hatch e sedã foi menor, de 58,7%.
Com a queda de Onix e Onix Plus, a Chevrolet está sendo superada nas vendas pela alemã Volkswagen e pela italiana Fiat, que vai retomando a liderança perdida em 2016.
Nota rápida
A mudança de comportamento do público e a preferência por SUVs pode ser percebida não apenas no mercado de veículos, mas também entre fornecedores de componentes. Semana passada, durante o lançamento do Volkswagen Taos, conversei com Débora da Cruz, gerente de marketing da Goodyear.
Durante o bate-papo, ela comentou que a empresa tem percebido um aumento na demanda por pneus com medidas maiores, usados principalmente em picapes e SUVs.
No Brasil, a projeção da empresa é que os pneus de aro 13, usados praticamente apenas em carros populares, devem perder espaço para aqueles de medidas maiores nos próximos anos. Atualmente, 13 polegadas é o segundo tamanho de pneu mais popular no país, perdendo apenas para o de 14 polegadas, também muito usado em modelos de entrada.
Até 2025, a medida deve ser superada pelos pneus com aros de 15 polegadas e aqueles com medida igual ou superior a 17 polegadas, além de ter os pneus de 16 polegadas praticamente empatados em vendas.
* André Paixão é jornalista automotivo e editor do Primeira Marcha. |
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