*ARTIGO
O avanço do real digital no Brasil vem ganhando destaque nos últimos meses. Na última segunda-feira (10), o Banco Central realizou um workshop para discutir o piloto do real digital e deixou claro seu interesse em digitalizar e tokenizar a economia brasileira.
No evento, foram apresentadas as diretrizes, os modelos de negócios e as regras para participar da fase de testes do real digital, bem como os próximos marcos e rumos do projeto.
O desenvolvimento e testes do real digital começaram em março deste ano, e vão até fevereiro de 2024. Durante este período, serão simuladas transações de emissão, negociação, transferência e resgate de títulos e valores.
Esta etapa da CBDC (“Central Bank Digital Currency”, ou Moeda Digital do Banco Central) brasileira é conhecida como “Piloto RD”, e a ideia é testar na nova infraestrutura a capacidade da tecnologia de resolver o trilema entre programabilidade, descentralização e privacidade das transações financeiras atreladas ao governo dentro de um ambiente de blockchain.
Isso porque, apesar de o conceito de um real digital ter ganhado força como o nome mais conhecido da versão virtual do dinheiro, a ideia do Banco Central não se limita a ele.
Conforme divulgado no evento, o governo pretende levar o projeto além, registrando três categorias de ativos no ambiente do blockchain, e não só um “real tokenizado”.
Real digital e suas etapas
A avaliação final sobre o real digital está prevista para acontecer em março de 2024, mas seu desenvolvimento está acontecendo em etapas.
O Piloto RD terá quantidade de participantes e horário de funcionamento limitados, sendo de três categorias de ativos:
- Real digital: emissão, transferência entre instituições (atacado) ou serviços interbancários através da CBDC brasileira;
- Real Tokenizado: voltado para o varejo. É uma versão virtual do dinheiro que uma pessoa possui em uma instituição financeira, seja de depósito bancário a vista ou em contas em IP;
- Título Público Federal: referente a possibilidade compras e vendas primária e secundária, resgates e baixas de Título Público Federal, como produtos do Tesouro Direto.
Conforme divulgado no workshop, a expectativa é que em dezembro deste ano o real digital, uma tokenização do real, entre em vigor, sendo seguido pelo TRF, a emissão de Títulos Públicos Federais, em fevereiro de 2024.
A expectativa do Banco Central é que a iniciativa estimule ainda mais a competitividade do sistema econômico nacional mesmo que, por hora, esteja indisponível para a maior parte da população brasileira.
Real digital traz modernidade ao Brasil, mas riscos aos brasileiros…
De fato, a ideia da implementação da tokenização da moeda nacional segue uma tendência mundial no mercado financeiro. Porém, é importante considerar que o real digital não será descentralizado como as criptomoedas e nem mesmo anônimo como o dinheiro físico.
Intrinsecamente, a centralização traz riscos próprios, como a vulnerabilidade a ataques cibernéticos, a possibilidade de uso indevido de informações pessoais e financeiras.
Devido a isso, não se pode ignorar que o real digital pode representar uma ameaça à privacidade e liberdade individual para os brasileiros, particularmente se o governo decidir usá-lo para impor sanções ou punições a certos grupos, instituições ou pessoas consideradas “indesejáveis”.
Em um futuro não tão distante, o próximo passo do Banco Central deve se concentrar em encontrar um equilíbrio entre a descentralização e a regulação do real digital para garantir a segurança e a confiabilidade do sistema.
Mayara é co-autora do livro “Trends – Mkt na Era Digital”, publicado pela editora Gente. Multidisciplinar, apaixonada por tecnologia, inovação, negócios e comportamento humano. |
*As informações, análises e opiniões contidas neste artigo são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews.
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