1- Mercado já vê juro de até 11% em 2022
O drible no teto de gastos anunciado pelo governo para conseguir elevar o valor do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, de R$ 200 para R$ 400 deixou uma certeza entre os analistas: o cenário econômico brasileiro vai ficar ainda pior.
Desde sexta-feira há um movimento generalizado de instituições financeiras revisando suas projeções para a taxa de juros. Se antes o consenso era de que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC, na semana que vem, haveria uma alta de 1 ponto porcentual na Selic (para 7,25% ao ano), a aposta agora é de alta de 1,25 a 1,5 ponto.
Para o ano que vem, algumas instituições já estimam os juros na casa dos 10% (o Credit Suisse, por exemplo, fala em 10,5%; a XP fala em 11%), para conter a inflação. E juro maior significa uma trava no crescimento econômico – que já tinha previsões pífias, em torno de 1%, para 2022.
Toda essa turbulência foi provocada pelo ataque ao teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas do governo à inflação do ano anterior. Era o que “atrapalhava” os planos do presidente Jair Bolsonaro de dobrar o valor do Auxílio Brasil no ano que vem, arma considerada fundamental na sua tentativa de reeleição. Para resolver o impasse, o caminho encontrado pelo governo para conseguir recursos foi mudar a regra e furar o teto, em vez de cortar despesas com subsídios ou emendas parlamentares, por exemplo.
Fez um acordo no Congresso para modificar a forma como o teto é calculado. E, com isso, abrir um espaço de R$ 83,6 bilhões no Orçamento. Para economistas e analistas, esse movimento, se aprovado, enterra a última barreira que existia em relação aos gastos desenfreados do governo, principalmente levando-se em conta que 2022 é ano eleitoral.
A reação foi forte. Na semana, a Bolsa caiu 7,28%, o pior desempenho desde março do ano passado.
2- Com o cenário instável, dezenas de empresas adiam abertura de capital
Dezenas de empresas têm postergado os planos de abrir capital na Bolsa brasileira. Ao todo, são mais de 70 companhias que tentavam se capitalizar neste ano, mas foram obrigadas a adiar sua entrada no mercado de ações.
Com uma maior volatilidade por causa da escalada da inflação, subida dos juros e dúvidas sobre o ritmo da retomada da economia, em função da incerteza fiscal que surgiu durante a semana, obrigou as candidatas a uma oferta inicial de ações (IPO) a colocar seus planos em compasso de espera.
O grupo de companhias que deve estrear na Bolsa somente em 2022 inclui nomes conhecidos, como a rede de academias Bluefit, a fabricante de snacks Dori e a rede de restaurantes Madero. A lista tem ainda a Nadir Figueiredo, conhecida pelos tradicionais copos americanos, a Lupo e o Grupo Cortel, do setor funerário.
“Muitas empresas vão entrar num compasso de espera para ver o que acontece. Deveremos ver uma diminuição significativa de ofertas até o final do ano”, disse Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi no Brasil.
Segundo o presidente da corretora BGC Liquidez, Erminio Lucci, a suspensão das ofertas ocorre por conta da volatilidade dos mercados externos e internos, além do aumento do custo de capital em função da alta dos juros, que reduzem o apetite dos investidores por ativos de risco. “Além das incertezas causadas pela eleição de 2022, os ruídos políticos constantes, há a incerteza quanto ao crescimento econômico do ano que vem em diante.” Com isso, diferentemente da primeira metade do ano, em que os fundos de ações estavam recebendo muito dinheiro dos investidores, agora os recursos são direcionados para a renda fixa.
No entanto, mesmo que o ritmo de estreias na Bolsa brasileira diminua, o ano já é de recorde de emissões, superando o total do ano passado. Ao todo foram mais de 70 ofertas de ações, grande parte de estreantes, com um volume que já ultrapassou os R$ 140 bilhões, ante R$ 117 bilhões no ano passado, considerando aqui só as transações realizadas na Bolsa brasileira.
Mesmo assim, a janela para emissões não está fechada, afirma Pedro Mesquita, sócio da XP responsável pelo banco de investimento. “Alguns IPOs voltados para investidores institucionais ainda vão ocorrer, assim como ofertas de empresas já listadas.”
Nessas operações especificamente, o lançamento das ofertas ocorre apenas quando há uma demanda firme de fundos, por exemplo, mas pessoas físicas ficam de fora.
Roderick Greenless, chefe global do banco de investimento do Itaú BBA, disse que a instituição aconselha os clientes que já estavam com o pedido de registro no órgão regulador, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a seguir com o pedido para se tornar uma empresa aberta, mesmo que sem emitir ações. Com o registro, quando o mercado se mostrar mais favorável, a empresa pode lançar uma oferta focada em pessoas físicas. “Não é porque o mercado piorou que a empresa tem de desistir. Um IPO faz parte do plano estratégico da companhia.”
3- Companhias que tiveram queda nas ações são alvo de aquisições
Dois grupos de empresas em diferentes situações podem se tornar alvo de aquisições nos próximos meses. O primeiro é formado por uma fila de dezenas de companhias que ficaram pelo caminho no processo de abertura de capital. Outro inclui empresas que estrearam na bolsa, em meio à euforia do mercado, mas viram suas ações despencarem diante da maior aversão ao risco por parte dos investidores.
No varejo, o Grupo Avenida e o e-commerce Privalia são alguns dos exemplos de empresas que já sondam possíveis saídas para capitalização após desistir de suas ofertas inicias de ações, apurou o Estadão.
“Vemos uma boa oportunidade para aquisições nesses IPOs que ficaram no caminho. Podemos ver tanto operações com investidores estratégicos como com fundos, que podem substituir a estratégia de IPO”, disse o responsável para área de fusões e aquisições do Bank of America, Diogo Aragão.
Segundo o executivo, outro tipo de empresa que se tornou foco de atenção é aquele em que o preço das ações sofreu forte baque desde o IPO, como ocorreu com algumas empresas de tecnologia. “Várias dessas empresas já estavam no radar e optaram pelo voo solo com o IPO. Agora pode ser que algumas cogitem buscar um investidor”, disse Aragão.
Os exemplos já começam a aparecer. A holding de comercialização de energia Comerc, que estava em vias de abrir capital e que tinha, a despeito da enorme volatilidade, demanda para concluir sua oferta, conseguiu melhores condições em um M&A – e acabou sendo vendida à Vibra, antiga BR Distribuidora.
Entre as empresas que conseguiram fazer o IPO, mas que acabaram se tornando alvo de aquisição está a do setor de tecnologia Mosaico, dona do site Buscapé, que foi vendida para o banco Pan, do BTG Pactual, transação anunciada no mês passado.
Com as empresas partindo para consolidar seus mercados, o ano já é de recorde quando se trata de fusões e aquisições no Brasil. Este ano já superou o total de transações do ano passado, segundo a consultoria PwC, quando foram registradas um pouco mais de mil operações no Brasil, pelo levantamento. A projeção é de que o ano tenha 1,4 mil transações. Segundo Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC, será o maior volume da história.
4- MME reitera que horário de verão não resulta em economia de energia
Um novo estudo encomendado pelo Ministério de Minas e Energia reitera avaliação anterior de que a adoção de horário de verão não resulta em “economia significativa de energia”, e que as medidas adotadas pelas autoridades do setor são suficientes para garantir o fornecimento de energia.
Em nota, o ministério informa que “considerando análises técnicas devidamente fundamentadas, o MME entende não haver benefício na aplicação do horário de verão e que as medidas tomadas pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) e pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG) têm se mostrado suficientes para garantir o fornecimento de energia elétrica ao Sistema Interligado Nacional de energia elétrica (SIN) na transição do período seco para o período úmido”.
De acordo com a pasta, a aplicação do horário de verão “não produz resultados na redução do consumo nem na demanda máxima de energia elétrica ou na mitigação de riscos de déficit de potência. Além disso, na avaliação mais recente das condições de atendimento eletroenergético do SIN, realizada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para este mês de outubro, verifica-se que o sistema se encontra com recursos energéticos suficientes para o adequado atendimento à potência”.
O MME acrescenta que, segundo os novos estudos, a redução observada no horário de maior consumo (entre as 18 e 21h) acaba sendo compensada pelo aumento da demanda em outros períodos do dia, em especial no início da manhã. “Pelas prospecções realizadas pelo ONS, não haveria impacto sobre o atendimento da potência, pois o horário de verão não afeta o consumo no período da tarde, quando se observa a maior demanda do dia”, complementa a nota.
5- Petrobras quer operar na foz do Rio Amazonas
A Petrobras (PETR3; PETR4) apresentou ao Ibama um pedido de licença de operação para explorar petróleo na região da foz do Rio Amazonas, uma área de sensibilidade ambiental. A solicitação da licença de operação, documento necessário para autorizar as perfurações, foi enviada ao órgão ambiental no dia 30 de agosto, mas a Petrobras só tornou o ato público ontem por meio de aviso no Diário Oficial da União.
A insistência em perfurar cinco blocos na região marítima da foz do Amazonas ocorre após o Ibama rejeitar quatro pedidos feitos pela antiga dona das concessões, a petroleira francesa Total E&P. Os blocos estão localizados em águas profundas no norte do Brasil, a aproximadamente 120 km do Estado do Amapá, uma área que, segundo a Petrobras, é uma “fronteira exploratória de alto potencial na margem equatorial brasileira”.
Em fevereiro, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) aprovou a transferência dos cinco blocos de petróleo da Total para a Petrobras. A decisão ocorreu após a empresa francesa não conseguir avançar com o processo de licenciamento ambiental dos blocos, que estão localizados em uma das áreas mais sensíveis da região e de extrema riqueza ambiental.
As áreas foram leiloadas em 2013, arrematadas em um leilão pelo consórcio formado entre a Total e a britânica BP.
A licença ambiental para exploração dos blocos, porém, nunca foi obtida pelas companhias. Em 2018, o Ibama rejeitou, pela quarta vez, um pedido da Total para iniciar a perfuração na bacia.
À época, a Petrobras afirmou, em comunicado, que entrou em acordo com a Total para assumir “a operação e a integralidade das participações” da empresa nos blocos. Nos cálculos de geólogos, haveria até 14 bilhões de barris de petróleo, o que supera as reservas provadas do Golfo do México.
A reação internacional ao projeto alerta para os riscos ambientais dessa exploração. O Greenpeace chegou a contratar pesquisadores especialistas para examinar os riscos das atividades. A organização alertou para impactos como perturbação ao bem-estar de animais como baleias, golfinhos, tartarugas e peixes-boi, risco de contaminação de um dos maiores manguezais do mundo e devastação dos corais da Amazônia, antes mesmo de a ciência conhecer bem esse ecossistema.
(*Com informações de Estadão Conteúdo e Agência Brasil)
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