O principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em forte queda nesta quinta-feira (25), acompanhando a tendência nos mercados globais diante do aumento do rendimento dos títulos nos Estados Unidos e repercutindo a baixa das ações da Petrobras. O câmbio também reagiu a esse movimento, com o dólar chegando a alcançar R$ 5,5374 na máxima do dia.

O Ibovespa fechou em baixa de 2,95%, aos 112.256,36 pontos. Já o dólar encerrou a quinta-feira em alta de 1,7%, cotado a R$ 5,5129.

Mesmo com o Banco Central intervindo duas vezes no mercado de câmbio com leilões à vista, as operações locais replicaram o rali da moeda no exterior provocado pelo aumento da curvas de yields do Treasury nos EUA – ou seja, a subida da remuneração para os investidores de títulos de dívida do Tesouro norte-americano. O yield do Treasury de dez anos – referência para os custos globais de empréstimos – se aproximou de 1,6% nesta quinta, máxima em um ano.

Aumentos de juros de títulos reduzem a atratividade de ativos mais arriscados, como moedas emergentes (incluindo o real) e ações, uma vez que pioram a relação entre risco e retorno de manter ativos arriscados em carteira, enquanto melhora os retornos de um ativo considerado risco de base do mercado – os títulos do Tesouro dos EUA.

“Mais uma vez, o foco está nos movimentos das curvas de yields dos EUA”, disse Mohamed A. El-Erian, conselheiro econômico da Allianz e ex-CEO da Pimco, lembrando que a liquidação nos bônus ocorria mesmo depois de dois dias de falas do chefe do banco central dos EUA, o Federal Reserve (Fed), sobre os rumos das taxas de juros no país. Jerome Powel assegurou que os juros ficarão baixos até que a inflação volte.

No cenário interno, O lucro da Petrobras bem acima do esperado e a entrega do projeto de lei que abre caminho para a privatização dos Correios à Câmara dos Deputados ajudaram a atenuar a cautela com o risco fiscal do país.

Contudo, declarações de Jair Bolsonaro sobre surpresas positivas para quem depende dos produtos da Petrobras foram interpretadas como mais uma intervenção política na companhia, o que fez as ações da petroleira despencarem novamente, puxando junto o Ibovespa.

Destaques da bolsa

Em dia vermelho nos mercados, apenas duas companhias fecharam no positivo. São Multiplan (MULT3) e Vivo (VIVT3) que avançaram 0,45% e 0,29%, respectivamente.

No lado oposto do Ibovespa, a maior queda foi da Weg (WEGE3) que despencou 8,3%. A companhia apresentou resultados sólidos no seu balanço do 4º trimestre de 2020, mas próxima dos R$ 80 já é considerada uma ação cara por diversos analistas.

Recuou também a Ultrapar (UGPA3) com baixa de 7,52%. A companhia lucrou R$ 431,5 milhões no 4º trimestre e deve pagar R$ 479 milhões em dividendos a partir de 12 de março.

Ainda entre as quedas, a CSN (CSNA3) desvalorizou 6,70%.

No radar corporativo, a Petrobras e Ambev também foram destaque. As ações da petroleira começaram o dia em forte alta repercutindo os resultados da companhia no 4º trimestre. O lucro de R$ 59,89 bilhões da Petrobras é o maior da história considerando os resultados trimestrais das empresas de capital aberto.

Contudo, os papéis inverteram sinal com fala de Bolsonaro sobre “surpresas” para quem depende dos produtos da companhia. O mercado interpretou isso como uma nova tentativa de interferência política. As ações da (PETR3;PETR4) fecharam em queda de 3,87% e 4,96%, respectivamente.

E os papéis da Ambev (ABEV3) recuaram 3,47%, mesmo após crescimento de volumes e receitas, uma vez que as margens continuaram pressionadas e a fabricante de bebidas estimou impactos significativos de câmbio, assim como de commodities, que pressionarão a margem Ebitda em 2021.

Bolsas globais

Os principais índices de Wall Street encerraram em forte queda nesta quinta-feira, com o índice Nasdaq sofrendo a maior baixa percentual diária em quatro meses, com as ações tecnológicas ainda sob pressão após um aumento nos yields dos Treasuries.

As ações europeias fecharam em queda, com a alta nos rendimentos dos títulos e a volatilidade nos mercados dos Estados Unidos ofuscando o otimismo sobre a recuperação econômica da zona do euro.

O mercado acionário da China se recuperou nesta quinta-feira, uma vez que fortes ganhos no setor imobiliário ajudaram o mercado a se recuperar das perdas do dia anterior.

(*Com Reuters e Estadão Conteúdo.)