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Economia

Coerência em comunicação do BC está ancorando expectativas em cortes de 0,5 p.p., diz Galípolo

Por Fernando Cardoso

SÃO PAULO (Reuters) – O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta quinta-feira que a “coerência” na comunicação da autarquia está ancorando as expectativas do mercado em torno de um ritmo contínuo de cortes de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, mesmo com a volatilidade do cenário externo.

Seus comentários vieram depois que o Banco Central cortou os juros em meio ponto pela quinta vez seguida em sua última reunião de política monetária, indicando manutenção desse passo para os encontros seguintes em meio à cautela com as expectativas de inflação e de olho no ambiente global.

“Acho que ao longo desse período com toda essa volatilidade no mercado internacional, a coerência na comunicação do Banco Central foi gradativamente ancorando tanto as expectativas dos economistas quanto as apostas do mercado em torno desse 0,5 p.p.”, disse Galípolo em evento organizado pela Câmara Espanhola em São Paulo

Galípolo afirmou que, com o atual ritmo de afrouxamento monetário, o BC está conseguindo ganhar tempo para analisar as reações do mercado em meio a todas as variáveis levadas em conta pela autarquia.

Ele explicou que termos como “serenidade” e “parcimônia” na comunicação do BC representam a “humildade” que as autoridades tem tido para acumular o máximo de informações possíveis e interpretá-las com cautela.

Questionado sobre a questão fiscal do país, Galípolo disse que o tema é um desafio, mas que deposita “bastante confiança” no trabalho de revisão de gastos que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, está fazendo, que, segundo ele, pode trazer surpresas positivas.

O diretor indicou que, caso a meta de déficit primário zero para este ano não seja alterada ou ocorra uma mudança inferior à esperada, o mercado tende a reagir de forma positiva, uma vez que as expectativas atuais de não cumprimento da meta já estão precificadas nos ativos

“Se não ocorrer uma mudança de meta ou se eventualmente for uma mudança inferior ao que se imagina, acho que o mercado tende a reagir como uma surpresa positiva”, afirmou.

No entanto, Galípolo disse também que a queda dos investimentos é uma preocupação para o Brasil do ponto de vista estrutural.

Segundo ele, o país tem uma taxa de investimento “relativamente baixa” há muito tempo, mas ponderou que o Brasil está em posição privilegiada para reverter essa situação, principalmente por suas vantagens competitivas na transição energética.

TENSÕES GEOPOLÍTICAS E CENÁRIO EXTERNO

No evento, Galípolo apontou que elementos geopolíticos recentes, como os conflitos em andamento na Ucrânia e na Faixa de Gaza, ganharam mais relevância para a dinâmica global de preços, principalmente em relação ao petróleo e a alguns produtos agrícolas

Para o diretor do BC, deve se evitar que as tensões geopolíticas promovam um amplo processo de desglobalização, argumentando que o Brasil possui um papel fundamental “pelo tamanho que tem” em impulsionar uma “reglobalização”, após as alterações na dinâmica de cadeias produtivas geradas pela pandemia da Covid-19.

“Cabe à gente como sociedade esse desafio de não deixar que esses eventos se transformem em uma desglobalização”, disse.

Ele acrescentou que o cenário externo pode, no entanto, ser visto de forma positiva do ponto de vista brasileiro, devido à balança comercial favorável do país e à sua exportação líquida de petróleo.

Os comentários de Galípolo vieram em linha com fala recente do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre os riscos inflacionários de interrupções do transporte marítimo na região do Mar Vermelho.

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