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Economia

Como o open banking vai acirrar a competição no setor bancário

Baixa renda deve ser atraída pelos bancos digitais, enquanto grandes bancos já ofertam crédito para a classe média.

OPEN BANKING

Em um cenário de maior competição bancária com a chegada do open banking, que permitirá que os clientes autorizem o compartilhamento de seus dados com instituições financeiras, os grandes bancos deverão usar o crédito como “escudo” na concorrência com as fintechs.

Dinheiro, as grandes instituições já têm: os ativos totais das cinco gigantes do mercado – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – chegam a R$ 7 trilhões. Agora, chegou a hora de aplicar tecnologia e inovação no negócio, para garantir uma “sintonia fina” nas liberações.

Leia mais: 5 coisas que você precisa saber sobre o open banking

Além dos desafios tecnológicos, incluindo a conexão entre as instituições financeiras para o compartilhamento desses dados, os bancos terão de definir o nicho em que são mais competitivos, diz o diretor da área bancária da consultoria alemã Roland Berger, João Bragança.

“As ofertas de crédito precisam ser customizadas, e o desafio será esse. Serão necessárias escolhas”, diz. Um dos pontos-chave, para Bragança, é o foco na faixa de clientes na qual o crédito é um trunfo: a renda média, que precisa de financiamentos para automóveis e residências, por exemplo.

“Os bancos precisam olhar para suas fortalezas, os nichos que alcançam e trabalhar esses segmentos. Terão de olhar para cada segmento, tomar essas decisões estratégicas e brigar para preservar a base de clientes”, frisa Bragança. É necessário que os bancos se preparem para um contexto de maior concorrência para não perder dinheiro para as fintechs.

De acordo com o especialista da consultoria alemã, os grandes bancos têm a vantagem de já terem uma oferta organizada de crédito para a classe média. Esse é um segmento menos atrativo para as gigantes de investimentos, como XP e BTG, que devem continuar focadas na alta renda. Já a baixa renda, segundo a Roland Berger, deve ser atraída pelos bancos digitais, que oferecem contas gratuitas e serviços de pagamento.

Além disso, é muito difícil para uma fintech ou plataforma conseguir prover crédito no nível dos bancos, dada a necessidade de capital robusto. Presidente da Xsfera, assessoria de negócios especializada na indústria financeira, Fausto Ferraz de Arruda aponta que os bancos têm funding (captação de recursos) muito barato, principalmente por meio do depósito à vista, nome dado para o dinheiro que o cliente deixa parado na conta-corrente.

Olhar para dentro

Com o open banking, o cliente de um banco poderá ser constantemente assediado e tentado a levar seu dinheiro a um concorrente. Por isso, especialistas apontam que, se os bancos não melhorarem o leque de produtos e investirem na experiência digital dos clientes, os recursos migrarão – como já ocorreu no caso dos investimentos.

É importante o olhar dos bancos em relação aos próprios clientes – algumas instituições já começaram a adequar produtos ao perfil do cliente e ajustar para cima o limite do cartão de crédito, antes que um concorrente o faça. Outro trabalho é evitar que o consumidor não seja incomodado por propostas que não têm relação com seu perfil: hoje, é comum pessoas de alta renda receberem ofertas de crédito consignado ou clientes que não têm carro serem impactados por propaganda de seguro de automóvel.

Para Jean Lopes, diretor para instituições financeiras da Fitch, o open banking acelera uma agenda que já estava nas mãos dos grandes bancos: a segmentação de seus clientes. “Será um jogo em que vale o poder de adaptação de cada banco, com foco na experiência do cliente. É isso que vai fidelizar”, diz.

Competição entre bancos

O open banking, já realidade em outras regiões do mundo, como União Europeia e Reino Unido, acaba de entrar em sua segunda fase de implementação no Brasil, na qual teve início o compartilhamento de dados cadastrais e transacionais sobre serviços bancários, como contas e crédito. Todo o compartilhamento é feito apenas com o aval do cliente. Esse processo será concluído apenas em 2022.

A última fase vai incluir um “filé” do compartilhamento de informações entre produtos de investimento. Nesse novo ambiente de competição, executivos de grandes bancos ressaltam entre seus diferenciais, além da capacidade de crédito, a segurança.

No Itaú Unibanco (ITUB4), segundo o diretor Marcos Cavagnoli, responsável pelo open finance na instituição financeira, até 2022 a transformação digital do banco seguirá evoluindo, com cada vez mais informações na nuvem. “Isso quer dizer mais velocidade e uma infraestrutura elástica, características geralmente atribuídas a uma fintech”, comenta.

Nesse ambiente mais competitivo, ele reforça que, além da prateleira de produtos e serviços, o crédito é um dos trunfos do Itaú. “Diria que temos uma combinação de fatores a nosso favor: expertise em segurança, privacidade, análise de dados e inteligência artificial, por exemplo. Com o aumento do tráfego de informação, a segurança vira algo ainda mais relevante, e o cliente começa a perceber o valor desse atributo”.

Líder do projeto open banking do Banco do Brasil (BBAS3), Karen Machado afirma que, para o cliente que tem conta em mais de um banco, o compartilhamento dos dados ajudará os bancos a entender melhor a vida financeira dos clientes e a oferecer produtos mais ajustados a cada perfil. “Poderemos ser mais assertivos no crédito. O open banking só não seria uma oportunidade para os grandes bancos se eles não estivessem olhando para isso”, diz.

Conforme Machado, o banco poderá traçar também o perfil de um cliente que não tem comprovação de renda, mas que tem receitas em outras instituições. Com isso poderá passar a oferecer – ou a melhorar – seu perfil de crédito. Ela frisa que, além do crédito e da cesta de produtos completa, a segurança é uma fortaleza para os grandes bancos.

Proposta do open banking

A proposta do open banking é proporcionar uma igualdade de condições para as instituições financeiras em termos de ofertas, o que deve aumentar a concorrência entre elas e garantir melhores oportunidades para o consumidor.

Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), “os clientes vão ter maior conveniência e facilidades e poderão optar por melhores ofertas e oportunidades de crédito e serviços existentes no mercado, como já ocorreu com outras ferramentas, como mobile banking e internet banking. “A competição é fundamental para o setor bancário. Nós a estimulamos em todos os níveis”. 

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