O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira (3) que manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela sexta vez, em linha com a expectativa da maior parte do mercado.
No comunicado, o BC não sinalizou cortes de juros à frente, e inclusive deixou aberta a possibilidade de novas altas se julgar necessário.
“O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.”
Comunicado do Copom.
O comitê ainda informou que essa decisão é compatível com a estratégia para alcançar o objetivo da inflação para o redor da meta ao longo do “horizonte relevante”, que inclui o ano de 2024.
O BC citou ainda os riscos que enxerga para uma alta da inflação, entre eles a maior persistência das pressões inflacionárias globais; a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional; e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Já entre os riscos de baixa, foram colocados a queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Inflação no Brasil
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, acumula alta de 4,65% nos últimos 12 meses até março, abaixo dos 5,6% observados nos 12 meses anteriores, de acordo com divulgação mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
À vista disso, observa-se que o indicador ainda permanece distante da meta determinada pelo BC, que é de 3,25% em 2023. No entanto, a inflação já caiu para o seu intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, na faixa de 1,75% a 4,75%.
Para 2024, a meta de inflação é de 3%, também com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, na faixa de 1,50% a 4,50%.
Contradições entre o governo e o BC
O comunicado vem em meio às diversas críticas do governo em relação ao patamar da taxa de juros. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao lado do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em debate no Senado, afirmou que o país terá problemas fiscais se a economia continuar desacelerando como resultado da condução da política monetária, e pediu “harmonização” entre ações do governo e do BC.
Na mesma sessão, Campos Neto voltou a pregar persistência no combate à alta de preços, defendeu o sistema de metas de inflação e justificou o atual nível dos juros, listando fatores que levaram o país a esse quadro.
Repercussão
Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank, fintech de transações internacionais, menciona que a decisão do Copom se trata sobre dar continuidade ao processo de desinflação, mesmo em meio a dados mais positivos divulgados recentemente.
Na leitura do especialista, a instituição ressalta o objetivo de cumprir a meta e de observar os próximos números para confirmar se o processo de desinflação seguirá em velocidade adequada.
“O tom geral do Comitê permaneceu duro, mesmo admitindo algumas indicações positivas, tendo como objetivo o firme propósito de promover a ancoragem das expectativas.”
Luiz Felipe Bazzo, CEO do Transferbank.
Para ele, o ciclo de relaxamento monetário deve iniciar apenas em agosto, com a Selic atingindo os 11,5% no fim de 2023 e 9,5% no encerramento do ciclo.
Gustavo Bertotti, economista chefe da Messem Investimentos, acredita que o BC avaliou que os balanços de riscos continuam os mesmos apontados na ata anterior do Copom e, por isso, a decisão foi a manutenção da taxa.
“Ainda existem incertezas em relação ao arcabouço fiscal que, na nossa avaliação, é permissivo com o aumento de gastos, o que causa uma preocupação sobre a deterioração da trajetória da dívida pública.”
Gustavo Bertotti, economista chefe da Messem Investimentos.
Segundo Bertotti, o comunicado do BC após a divulgação da decisão sobre a Selic tem um tom menos “hawkish” (política mais austera favorável a juros altos), mas que o afrouxamento monetário (queda da taxa) deverá ocorrer somente a partir do segundo semestre.
Já Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, pontua que as mudanças no comunicado sugerem que o BC não vê espaço para uma flexibilização no curto prazo, mas que pode haver cortes mais adiante a depender do que ocorrer em todo o cenário econômico.
“A frase sobre a necessidade de ‘paciência e serenidade na condução da política monetária’ indica que não há espaço para flexibilização na próxima reunião. Por outro lado, a qualificação sobre o ajuste para cima ser menos provável aponta na direção de sinalização de corte nas reuniões de agosto ou setembro.”
Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital.
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