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Economia

Dólar deve perder força se Biden vencer eleições, diz economista

No entanto, Fábio Akira ressalva que não espera ‘estresse’ do mercado nenhum dos resultados.

Fábio Akira
Fábio Akira

Uma vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos deve fazer o dólar se desvalorizar, enquanto a reeleição de Donald Trump teria o efeito contrário, com uma alta da moeda norte-americana. É o que aponta Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset Management. No entanto, ele ressalva que os investidores não devem esperar um dia de “estresse generalizado” no mercado financeiro após a divulgação do resultado.

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As eleições presidenciais nos Estados Unidos acontecem nesta terça-feira (3), e vem gerando expectativas pelo impacto que a disputa tem sobre os mercados em todo o mundo – incluindo o Brasil.

Akira aponta que “o mercado parece estar apostando mais na vitória do Biden porque é isso que as pesquisas estão apontando. Mas não significa que ele prefere o Biden ao Trump”.

Em entrevista ao InvestNews, o economista apontou que, “como nenhum dos dois é visto como anti-mercado, não tem por que o mercado se desesperar”.

Veja abaixo a entrevista completa:


Quem o mercado financeiro prefere que seja o vencedor das eleições nos EUA? Trump ou Biden?

Akira: Essa é uma pergunta complicada porque as pessoas que trabalham no mercado financeiro podem até ter preferências políticas, mas as decisões de mercado são racionais, elas visam lucro. Então, o mercado tende a fazer suas apostas conforme a sua convicção do resultado eleitoral. O mercado parece estar apostando mais na vitória do Biden porque é isso que as pesquisas estão apontando. Mas não significa que ele prefere o Biden ao Trump. Como nenhum dos dois é visto como anti-mercado, não tem por que o mercado se desesperar sendo um ou outro. O que o mercado vai fazer é analisar os efeitos secundários, as consequências das nuances das plataformas (de governo de cada um). Agora, um estresse generalizado porque um ou outro venceu, acho que não ocorreria.


O que aconteceria então se Trump vencer seria algum movimento de ajuste do mercado, porém sem desespero. É isso?

Akira: É isso.


Por que não existe uma preferência tão marcante por um dos lados?

Akira: Eu acho que tem nuances, mas não existe uma clara preferência. Isso não vai ser resolvido no processo eleitoral, isso já foi resolvido em fevereiro, nas prévias do Democratas. Se, durante as prévias democratas, o partido escolhesse um candidato mais à esquerda – e realmente tinham candidatos bem à esquerda, como o Bernie Sanders e a Elizabeth Warren -, que têm um perfil muito mais, digamos, contra o mercado, aí teria uma preferência muito clara em favor do Trump versus o candidato democrata.

Como o Biden é que foi escolhido e ele é um candidato bem mais centrista, a diferença entre os candidatos dos dois partidos para o mercado está muito mais na composição de setores que se beneficiam ou não do que uma clara diferença na tendência geral dos mercados. Eu acho que não existe uma diferença clara, não.


As campanhas dos candidatos aconteceram em meio às negociações sobre o pacote de ajuda emergencial por causa da Covid-19. A expectativa era de que os democratas defendessem gastos maiores que os republicanos. Mas Trump, republicano, muitas vezes chega a defender ideias na direção oposta de seu partido. Essa falta de previsibilidade entra na conta?

Akira: Eu acho que entra um pouco. Mas o pacote de estímulo emergencial está muito mais ligado a emergência, urgência da Covid. Isso fez com que não só os Estados Unidos, mas o mundo inteiro, independentemente da inclinação do partido, mais à esquerda ou mais à direita, vissem na expansão fiscal uma coisa unânime. Até o próprio FMI, que historicamente prega muito a austeridade fiscal, no seu último encontro anual fez um apelo para ter mais gasto fiscal. A discussão do pacote de curto prazo nos Estados Unidos está obviamente influenciada pelo processo eleitoral, mas ela está menos ligada à linhagem de cada partido.

Mas, olhando um pouco mais à frente, olhando o plano de governo de cada candidato para os próximos 4 anos, aí sim você vê uma diferença muito grande. A plataforma fiscal do Biden é muito mais gastadora, pela expansão fiscal de gastos de mais de US$ 7 trilhões, parcialmente compensada com aumento de impostos. Na do Trump, o plano fiscal é de redução de gastos para os próximos 4 anos.

Então, passando essa turbulência e essa disputa mais de curto prazo relacionada ao pacote de estímulo, as plataformas fiscais de médio prazo dos dois candidatos são diametralmente opostas. E isso tem consequências diferentes em determinados setores da economia americana e também no destino do dólar.


O que dizem os defensores da ideia de que o mercado reagiria melhor a uma vitória de Trump?

Akira: É muito claro: uma aposta em redução de impostos. Embora o espaço para cortar imposto já tenha se reduzido bastante, na plataforma do Trump ainda tem cortes adicionais de impostos, principalmente para pessoa física. Tem alguma expansão de gastos com infraestrutura, mas, como eu falei, no geral, na parte de gastos ele é muito mais tímido. Na verdade, na plataforma tem corte de gastos.

Então, o impacto positivo de uma eventual reeleição do Trump está numa redução adicional de carga tributária, numa política menos intervencionista do ponto de vista dos setores – por exemplo, do setor financeiro, do setor de energia. Então, seria uma regulação, digamos, mais liberal. Uma menor regulação dos mercados e uma taxação mais baixa. São esses os pontos que tenderiam a beneficiar por exemplo a bolsa americana de maneira mais ampla.


E o que dizem os que acreditam que a eleição de Biden seria mais vantajosa?

Akira: Do lado do Biden, é o extremo oposto, porque o que se espera é que ele beneficie bastante os setores mais contemplados pela plataforma de gastos dele, que são infraestrutura, transportes, construção, energia limpa, saúde, educação. A plataforma democrata de aceleração dos gastos desses setores. E, dado que a economia ainda está patinando, como no mundo inteiro, na verdade, um estímulo adicional para esses setores seria muito bem-vindo.

Só que, por outro lado, tem o peso negativo de um aumento de imposto. O que está na plataforma do Biden é um aumento de imposto sobre as empresas, e isso tira, obviamente, a rentabilidade das empresas. Então, a percepção é de que, talvez, a vitória do Biden não seja tão boa para a bolsa como um todo, mas certamente ela gera ganhos específicos para esses setores que vão ser mais beneficiados pelos gastos.


O que deve acontecer com o dólar depois das eleições nos EUA?

Akira: O que se imagina é que, se o Biden vencer e, principalmente, se ele tiver uma maioria tanto na Câmara quanto no Senado, o dólar tende a se enfraquecer em relação às moedas do resto do mundo.

As plataformas estão explícitas, já foram divulgadas. Então, na vitória do Biden, o mercado vai antecipar um gasto mais forte, uma expansão fiscal maior, e isso deve fazer com que o dólar se deprecie em relação a outras moedas do mundo.


Se Trump vencer, então, podemos esperar que o dólar suba?

Akira: Sim, acho que sim. Além da questão da bolsa americana, a questão setorial, a sinalização para o dólar realmente é diametralmente oposta. Enquanto a plataforma do Biden levaria a um enfraquecimento do dólar, a do Trump levaria a um fortalecimento.


E a bolsa?

Akira: Eu acho que o potencial para a alta da bolsa, do índice como um todo, é maior com Trump. Ele tem um benefício, digamos, mais espalhado entre vários setores. No caso do Biden, como tem ganhadores e perdedores dentro da bolsa, o índice como um todo, que é uma média de diversos setores, tem um potencial menor de alta. Se você tiver posicionado no setor certo, você pode ganhar mais.

A questão é que a bolsa não é um ativo em si, ela é uma cesta de diversos setores, diversas empresas. Aí você pode adotar uma política econômica que beneficia todos os setores de uma vez, mas de maneira menos intensa talvez, e uma política econômica que beneficia alguns setores específicos e pode ser ruim para outros. Isso significa que a média pode até subir, só que a média tem um potencial menor.

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