O dólar terminou o ano de 2022 em queda de 5,27% sobre o real. Com isso, a moeda do Brasil ficou entre as mais valorizadas do ano, com desempenho superior a outros países emergentes e divisas de países ricos, como o euro. Nesta quinta-feira (29), o dólar subiu 0,47%, terminando o dia em R$ 5,278.
O valor ficou abaixo da previsão que o mercado fazia no começo do ano. A primeira divulgação do Boletim Focus em 2022, de 7 de janeiro, trazia projeção de R$ 5,60 para o câmbio ao término do ano.
Para especialistas ouvidos pelo InvestNews, entre as principais razões para o real ter registrado desempenho acima de outras moedas e melhor do que o esperado inicialmente está a alta da Selic, taxa básica de juros da economia.
Isso porque, com juros mais altos, o país passa a oferecer retornos maiores e, assim, atrai o interesse de investidores estrangeiros. O compromisso de controlar a inflação subindo os juros também é fator positivo para a moeda, já que eleva a confiança do mercado.
“A gente foi o primeiro país a começar a tratar do problema da inflação de forma mais séria. (…) Começamos a fazer esse movimento até antes dos americanos”, comenta o economista Thiago Calestine, sócio da DOM Investimentos. “E isso fez com que o nosso câmbio ficasse bem apreciado e comportado com relação às demais moedas, principalmente com nossos vizinhos aqui da América Latina.”
Ricardo Aragon, sócio-fundador da Matriz Capital, concorda que a principal razão para a queda do dólar em 2022 sobre o real foi “sem dúvidas o pioneirismo do nosso Banco Central em aumentar a taxa de juros para conter a inflação“.
“Com o arrefecimento da inflação neste ano, passamos a ter juros reais e isso atraiu o capital estrangeiro para nossa renda fixa“, diz o especialista, acrescentando outros fatores que contribuíram para a desvalorização do dólar perante o real:
- Risco de possível recessão nos EUA e Europa.
- Problemas fiscais e econômicos nos países emergentes.
- Rússia em guerra
- China reforçando política a de “covid zero”
“Todos esses fatores corroboraram para a atratividade do nosso mercado ao capital estrangeiro”, avalia Aragon.
Já Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, cita como fator positivo para o câmbio a alta das commodities em 2022, já que “o Brasil é exportador e por isso se beneficia dos preços mais altos”.
“Quando comparado com os pares emergentes, o Brasil era a melhor escolha e com isso atraiu fluxo estrangeiro. Este movimento beneficiou a moeda brasileira, mesmo em um cenário de apreciação do dólar por conta do aumento de juros pelo Fed”, diz Komura.
Sobe e desce
Apesar de ter terminado o ano em queda, o dólar passou por períodos de sobe e desce no ano. Komura lembra que o câmbio começou o ano em patamar elevado, perto de R$ 5,60, “por por conta do mau humor vindo da flexibilização do teto de gastos“. Na sequência, “foi caindo até o final de abril, a R$ 4,60. A partir de junho, o mercado global estressou e o mercado brasileiro não se recuperou desde então, ficando perto de R$ 5,30″.
Nesse cenário, um dos principais fatores de volatilidade foi a eleição presidencial de 2022, que terminou com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL).
“A moeda é um dos principais termômetros e válvula de escape de incertezas. Então, a gente viu um dólar bem mais volátil no período do resultado das eleições”
Thiago Calestine, sócio da DOM Investimentos
Aragon cita outros momentos que marcaram um período mais volátil para o câmbio neste ano, como a elevação de juros pelo Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, e medidas de restrição na China para combater a covid-19.
“O dólar começou o ano caindo forte, devolvendo toda a valorização acima de 7% no ano de 2021. No entanto, no mês de abril, o anúncio do Fed de aumentar taxa de juros trouxe uma momentânea aversão ao risco, causando evasão da moeda americana para o seu país de origem. Naquele mês, o dólar subiu quase 4%”, lembra ele.
“O mês de junho foi o período de maior apreciação do câmbio, quando o dólar subiu mais de 10%, devido tanto a efetivação do aumento de 0,5 p.p nos juros norte-americanos, para conter a inflação, quanto o lockdown na China, pressionando os mercados”, comenta ainda o especialista.
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