A disputa pela taxa Ptax de fim de mês deu força ao dólar até o início da tarde desta sexta-feira, com investidores com posições compradas impulsionando as cotações, o que abriu espaço para mais um dia de alta firme da moeda norte-americana ante o real, ainda que no exterior a divisa cedesse após a divulgação de dados de inflação acomodados nos EUA.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,2510 na venda, em alta de 0,78%. Este é o maior valor de fechamento desde 16 de abril, quando a moeda fechou a R$ 5,2686. Na semana, a divisa dos EUA acumulou elevação de 1,60%. Em maio, o avanço acumulado foi de 1,12%.
Às 17h22, o contrato futuro do dólar para julho — que nesta sexta-feira passou a ser o mais líquido no Brasil — subia 0,78%, a R$ 5,2615.
Como na quinta-feira o mercado brasileiro permaneceu fechado em função do feriado de Corpus Christi, nesta sexta-feira as cotações já abriram se ajustando às notícias da véspera nos EUA — em especial, à revisão para baixo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no primeiro trimestre.
Este dado alimentou as expectativas de que o Federal Reserve poderá cortar juros ainda em 2024, o que pesou sobre o dólar. Às 9h04 desta sexta-feira, pouco depois da abertura, a moeda norte-americana à vista marcou a cotação mínima de R$ 5,1933 (-0,33%).
Os números divulgados logo depois também reforçaram a visão de que o Fed terá espaço para cortar juros. Bastante observado pelo banco central dos EUA, o índice de inflação PCE subiu 0,3% em abril, igualando o dado de março. Na base anual, o indicador avançou 2,7%, mesmo percentual de março. Os resultados tanto para o mês quanto para o ano vieram em linha com as projeções de economistas consultados pela Reuters.
Já o núcleo do PCE teve alta de 0,2% em abril, abaixo do 0,3% esperado pelos economistas.
Os números do PCE fizeram o dólar ampliar perdas ante diversas divisas no exterior, mas no Brasil a disputa pela formação da Ptax passou a dar o tom dos negócios.
Taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
Assim, perto das 10h, das 11h e das 12h — horários em que o BC realiza coletas para cálculo da Ptax — o dólar à vista renovou máximas do dia, em um claro movimento de pressão dos comprados. Às 12h, no pico da sessão, o dólar à vista foi cotado a R$ 5,2592 (+0,94%), ainda que no exterior o viés para a moeda norte-americana fosse de baixa.
Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, dados vindos da China contribuíram para a pressão exercida pelos comprados na formação da Ptax.
De forma inesperada, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) oficial do setor industrial chinês caiu para 49,5 em maio, ante 50,4 em abril e abaixo da marca de 50 que separa o crescimento da contração. Analistas esperava por um PMI de 50,4.
Neste cenário, o minério de ferro para setembro voltou a ceder na Bolsa de Mercadorias de Dalian (DCE) da China, acumulando queda de 4,7% na semana.
“Os dados da China vieram bem mais fracos que o esperado, o que tem impacto grande em preço de commodities, com muito efeito no Brasil”, comentou Massote. “Hoje (sexta-feira) o real está apanhando mais que o resto porque commodities são muito importantes para a nossa economia. No fim das contas, a Ptax trouxe volatilidade e a China deu a direção ao dólar”, avaliou.
Formada a Ptax no início da tarde (R$ 5,2416 para venda), o dólar passou a oscilar de forma mais livre no Brasil, mas como a sexta-feira foi de sessão espremida entre o feriado e o fim de semana, a liquidez também diminuiu.
No exterior, o dólar seguia em queda ante boa parte das demais divisas, na esteira do PCE.
Às 17h21, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,15%, a 104,610.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.
Por Fabricio de Castro
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