O Consumer Price Index (CPI), principal indicador de inflação nos Estados Unidos, por três meses vem apresentando resultados mais elevados do que o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principais indicadores de inflação no Brasil, de acordo com levantamento feito pelo TradeMap.
Apesar do CPI ter mostrado números mais elevados do que os outros indicadores brasileiros, ele veio caindo dentro do período citado. De outubro a dezembro, o CPI recuou de 7,75% a 6,45%.
Para André Meirelles, diretor de alocação e distribuição na InvestSmart XP, o agravante dos resultados de inflação da economia americana foi o mercado de trabalho.
“Durante a pandemia, os indivíduos conseguiram acumular uma boa quantidade de poupança e parte da população economicamente ativa saiu permanentemente do mercado de trabalho. Isso fez com que a taxa de desocupação reduzisse drasticamente, gerando uma vacância de vagas em diversas áreas. Isso, somado à recuperação da demanda pós-pandemia, levou ao aumento nos salários, o que tende a pressionar a inflação pelo lado da demanda”, comenta.
Ele ainda acrescenta que outro fator da alta dos preços dos produtos e serviços no país norte-americano foi causada pela desordem da cadeia produtiva em meio à guerra da Rússia na Ucrânia.
Inflação no Brasil
Meirelles, da InvestSmart XP, comenta que uma das principais justificativas para os índices brasileiros estarem nestes últimos três meses abaixo do indicador norte-americano é que o Brasil iniciou o ciclo de aumento de juros (considerado o principal remédio para inflação) em março de 2021, “bem adiantado em relação ao Fed, que iniciou o ciclo de aumento de juros apenas em 2022”.
Ele adiciona que as recentes desonerações de imposto sobre combustíveis e gás de cozinha ajudaram a reduzir a inflação brasileira.
Por outro lado, nos últimos quatro anos a inflação no Brasil registrou altas muito acima da inflação nos EUA.
Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, menciona que a inflação norte-americana é historicamente inferior à brasileira. “Não foi exclusividade somente desse período… A capacidade produtiva, a dinâmica da economia e por ser o emissor mais forte de moeda no planeta são elementos que contribuem para ter um nível de preço mais controlado”, diz.
O maior pico do IGP-M foi em maio de 2021, pouco mais de um ano após a pandemia da covid-19, com elevação de 37,04%. No mesmo período, o IPCA teve alta de 8,06%.
Essa diferença significativa entre os indicadores de inflação do país foi causada porque, segundo Meirelles, da InvestSmart XP, a maior parte do IGP-M tem exposição a produtos cotados em dólar. Portanto, “esse índice conseguiu capturar mais amplamente a variação do câmbio e do preço das commodities durante 2021, causando essa disparidade de variação quando comparado ao IPCA, que considera apenas o preço de produtos e serviços ao consumidor final”.
Na mesma linha, Mauro Rochilin, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que a alta do IGP-M no período foi muito influenciada pela disparada do dólar no ano anterior e o desequilíbrio das cadeias produtivas.
A maior alta do IPCA nos últimos quatro anos foi em julho de 2022, em 11,89%.
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