A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,62% em dezembro, percentual este acima dos 0,41% registrados nem novembro, segundo apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta terça-feira, (10).
O registro indica que o ano de 2022 completo encerrou com uma inflação acumulada de 5,79%, o que indica que a meta de 3,5% do governo foi ultrapassada; a margem de tolerância era de até 5%. Ainda assim, o resultado veio abaixo dos 10,06% registrados em 2021.
A alta de dezembro vem acima das projeções da Anbima que indicava uma alta de 0,45% no mês, acumulando em 12 meses avanço de 5,60%.
Sazonalidade jogou contra IPCA
Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, “a abertura do IPCA só não foi pior porque a sazonalidade joga contra, já que a época de fim de ano é de inflação elevada”.
Mesmo assim, o analista não vê motivos para alterar a projeção de IPCA de 2023. “Esperamos alta de 5,50%, sem considerar o retorno dos impostos sobre combustíveis”.
Já quanto a subida da taxa básica de juros, a Selic, Borsoi comenta que acredita que o Banco Central vá esperar até o fim do primeiro trimestre de 2023 para decidir sobre uma possível retomada do ciclo de alta de juros, atualmente precificada pelo mercado.
“Por enquanto, nosso cenário básico é de que o BC não vai cortar a taxa Selic em 2023, mas dependendo da transmissão da inflação de serviços pela PEC da Transição e se a desoneração de combustíveis acabar, acreditamos que há chances significativas de o Copom retomar o ciclo de alta no 2T23″.
Para os economistas do Terra Investimentos, o resultado ficou acima das estimativas, com excessão de alimentação em domicílio, cuja alta de 0,71% foi abaixo da projetada pelos economistas (0,96%).
João Maurício Lemos Rosal, Homero Azevedo e Luís Gustavo Bettoni projetam o IPCA de janeiro com alta de 1,03% e de 6,30% no ano. Enquanto que para o analista Luan Alves, da VG Research, o IPCA de janeiro deve atingir 0,7%, considerando a recomposição do ICMS.
Roupas puxaram aumento do índice
A maior variação veio do grupo vestuário (18,02%), que teve altas acima de 1% em 10 dos 12 meses do ano.
No grupo, os preços das roupas femininas e das roupas masculinas acumularam altas acima de 20% no ano. As variações das roupas infantis e dos calçados e acessórios ficaram em 14,41% e 16,83%.
Houve alta acentuada no preço do algodão, uma das principais matérias-primas do setor, entre abril de 2020 e maio de 2022. Outros custos de produção também subiram e houve uma retomada da demanda, após a flexibilização do isolamento social decorrente da pandemia de covid-19.
Alimentos também influenciaram alta da inflação
O resultado de 2022 também foi influenciado pelo grupo alimentação e bebidas, que teve alta de 11,64%, sendo este o maior impacto (2,41 p.p.) no acumulado do ano. O setor foi puxado pela alimentação no domicílio (13,23%). Os destaques foram a cebola (130,14%), que teve a maior alta entre os 377 subitens que compõem o IPCA, e o leite longa vida (26,18%), que contribuiu com o maior impacto (0,17 p.p.) entre os alimentos para consumo no domicílio. Os preços do leite subiram de forma mais intensa entre março e julho de 2022, quando a alta acumulada no ano chegou a 77,84%
Já tubérculo, raízes e legumes registraram alta acumulada de 40,15%; batata inglesa (51,92%); cebola (130%); maçã (52%); melão (34%); peixe (30%); feijão carioca (27,7%); farinha de trigo (31%) entre outros itens.
Habitação
Segundo o IBGE, na categoria habitação, cujo peso no índice é de 0,07%, as principais contribuições positivas vieram do aluguel residencial (8,67%), da taxa de água e esgoto (9,22%) e do condomínio (6,80%). Juntos, os três subitens contribuíram com cerca de 0,62 p.p. no IPCA acumulado de 2022.
Por outro lado, houve queda de 19,01% na energia elétrica residencial, com impacto de -0,96 p.p. no índice acumulado do ano.
O grupo habitação ficou próximo da estabilidade e transportes (-1,29%) teve a maior queda e o impacto negativo mais intenso (-0,28 p.p.) entre os nove grupos pesquisados.
INPC fecha 2022 em 5,93%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a variação da cesta de compras das famílias com renda até cinco salários mínimos, registrou inflação de 0,69% em dezembro e fechou o ano com alta de preços de 5,93%. As taxas ficaram acima do IPCA, que mede a inflação oficial, no período, respectivamente de 0,62% e 5,79%.
A taxa de dezembro ficou acima da observada pelo INPC em novembro, de 0,38%, mas abaixo da registrada pelo indicador em dezembro de 2021, de 0,73%. Em 2021, o INPC acumulado ficou em 10,16%.
Índice da construção civil sobe mais de 10% em 2022
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi) fechou 2022 com elevação de 10,9%. É a segunda maior taxa desde 2014. Em relação ao ano anterior, quando ficou em 18,65%, houve recuo de 7,75 pontos percentuais.
Contribuiu para o resultado a taxa de dezembro, que apresentou variação de 0,08%, ficando 0,07 ponto percentual abaixo da de novembro. Naquele mês, a alta de 0,15% foi o menor índice de 2022 e manteve a tendência de desaceleração no ano.
Veja também
- Efeitos da estiagem sobre energia e alimentos pressionam IPCA em setembro
- Brasil registra primeira deflação do ano em agosto, queda de 0,02% no IPCA, aponta IBGE
- Inflação anual do Brasil supera todas as previsões, sustentando altas taxas de juros
- IPCA desacelera mais que o esperado em junho com alimentos e serviços, mas taxa em 12 meses supera 4%
- IPCA sobe 0,46% em maio, intensificado pelas enchentes no RS