Economia
Metaverso é o futuro da tecnologia? Entenda a nova aposta do Facebook
Com o nome herdado da ficção científica, o metaverso já atrai a atenção de gigantes da tecnologia.
No mundo real, Hiro Protagonist trabalha como entregador em uma pizzaria controlada por um poderoso mafioso local. Já no metaverso, Hiro é um aclamado hacker samurai. No universo de “Snow Crash”, livro publicado por Neal Stephenson em 1992, o metaverso é um ambiente virtual coletivo e hiper-realista, em que humanos podem viver e se relacionar por meio de avatares criados por eles próprios.
Desde meados da década de 1990, quando a internet era apenas uma fração do que é hoje, a tecnologia futurista proposta por autores da literatura cyberpunk animou o Vale do Silício. Termo cunhado pelo autor de Snow Crash, o “metaverso” passou a ser o nome desse universo tecnológico almejado tanto por amantes de ficção científica quanto por players do mercado de tech.
Recentemente, a palavra esteve em alta quando Mark Zuckerberg, fundador do Facebook (FBOK34), anunciou que a companhia passaria a se chamar Meta, sinalizando a mudança de foco da empresa para o mercado de realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR).
A repaginação veio em momento em que o Facebook precisa, novamente, lidar com polêmicas envolvendo denúncias de mal uso de dados dos usuários e negligência em relação à moderação de conteúdo em suas redes sociais.
A aposta em realidade virtual, no entanto, está em linha com os interesses de Zuckerberg desde, pelo menos, 2014, quando o Facebook adquiriu a Oculus VR, empresa responsável pelo desenvolvimento de óculos de realidade virtual.
O que é o metaverso?
O metaverso é um espaço virtual compartilhado que mistura o mundo físico com a realidade virtual. Durante a live de apresentação da Meta, Mark Zuckerberg afirmou que esta pretende ser a próxima versão da internet, muito mais realista e imersiva.
Como sucessor dos smartphones e das redes sociais, o metaverso tem o objetivo ambicioso de dar um passo à frente na experiência de imersão do usuário. “Apesar de soar como ficção científica, nos próximos 5 ou 10 anos isso vai ser comum”, prometeu.
Como funciona o metaverso?
Com a ajuda de aparelhos de realidade virtual, seria possível habitar um mundo digital totalmente novo, com ambiente diversos e funcionalidades diferentes, que vão desde jogos de videogame a reuniões em um ambiente de trabalho. Para isso, o usuário teria um avatar 3D como seu representante no metaverso.
No entanto, para se tornar realidade, o metaverso ainda enfrenta uma barreira tecnológica grande: o desenvolvimento e popularização dos equipamentos necessários para a imersão, como os óculos de realidade virtual.
Leonardo Ferro, fundador da startup de realidade aumentada More Than Real e membro do conselho do XRBR, explica que esses equipamentos devem ter uma capacidade alta de processamento e conectividade, maior do que a banda larga convencional. “Por isso que se fala tanto que o 5G é importante para que esse o mercado de VR e VA como um todo deslanche”.
O que é possível fazer com o metaverso?
O que o metaverso promete oferecer para o usuário é um senso de presença maior e interação humana dentro do ambiente virtual. “Quando eu enviar uma foto dos meus filhos para os meus pais, eles vão sentir que estão no momento com a gente, não acompanhando por uma tela”, idealizou Zuckerberg em sua live de apresentação do projeto.
Já no ambiente de trabalho, por exemplo, seria possível comparecer a uma reunião dentro de uma sala no metaverso, com contato visual entre avatares e percepção de presença entre colegas.
Na verdade, muita coisa seria possível, já que tanto espaços quanto personagens seriam personalizáveis. Por isso, Ferro afirma que a produção de conteúdo será o pilar essencial para o sucesso da empreitada. “Não adianta eu ter o equipamento se eu não tiver o que fazer nesse mundo paralelo”. Ele acredita que, para isso, o coração do negócio girará em torno de influenciadores e produtores de conteúdo – assim como funcionam as redes sociais hoje em dia.
Arthur Igreja, professor convidado da FGV especialista em inovação e tecnologia, vai pelo mesmo caminho, e afirma que boa parte da aderência do público ao metaverso depende da comunidade formada em torno dele. “Se eu estou usando esse equipamento, mas quem está à minha volta não, cai o incentivo para que eu use. Para ficar interessante, o metaverso exige uma comunidade em torno dele”.
Facebook não é o único construindo um metaverso
O conceito de metaverso não é nada novo, e a tentativa de trazê-lo à vida também não. A primeira iniciativa foi do jogo Second Life, lançado em 2003 pelo Linden Lab. O software 3D imerge o usuário em um mundo online por meio de avatares criados pelos jogadores, e promete uma segunda vida para os interessados em fugir da realidade. Mas, apesar de ainda existir, o jogo não obteve a popularidade esperada e não se consolidou como o futuro da internet.
Na nova leva de empresas aspirantes ao metaverso, gigantes da tecnologia disputam quem será a pioneira.
Executivos da Microsoft (MSFT34) já sinalizaram a tentativa da empresa de construir um “metaverso empresarial”, que iria convergir mundo real e virtual. Além disso, o Xbox, videogame da companhia, também teria passado por um planejamento de construção de realidade mista, de acordo com Phil Spencer, responsável pelo produto.
A Epic Games, dona do jogo Fortnite, também possui projetos avançados na área de realidade virtual, e pretende incorporar a tecnologia aos jogos online.
Enquanto isso, a Snap, controladora da rede social Snapchat, anunciou, ainda este ano, a construção de seus primeiros óculos de realidade aumentada.
À elas, somam-se ainda empresas como a chinesa Tencent, a fabricante de chips Nvidia e a plataforma de videogame Roblox Corporation, além do mercado aquecido de startups voltadas a fornecer novos produtos de VR e VA às grandes empresas.
Relação entre NTFs e o metaverso
No início de 2021, a Gucci entrou no mercado de NFTs ao lançar o seu primeiro tênis digital. Por US$ 12, uma pessoa poderia comprar um par de tênis que, na vida real, custaria cerca de US$ 850. A parte ruim, no entanto, é que a peça jamais seria usada, já que ela existe apenas em formato virtual.
No metaverso, comprar esse tipo de produto poderia fazer um pouco mais de sentido. Isso porque, com os avatares personalizáveis, os usuários poderiam calçar o tênis virtualmente e embanjar um estilo de vida luxuoso, apesar de online. “Hoje em dia, ter um NFT de tênis da Gucci serve só para sinalizar certa extravagância e exclusividade, mas, no metaverso, com o seu avatar de fato vestindo o tênis, isso passa a fazer mais sentido”, afirma Igreja.
Ferro vai além e comenta que o mercado de cripto pode ser a sustentação econômica desse universo virtual. “Dentro desse sistema econômico virtual, pautado pelas criptomoedas, existe essa possibilidade de trabalhar em atividades que, mesmo digitais, conseguem reproduzir o sistema de trocas”.
Isso significa que, com as criptomoedas, seria possível fazer daquele universo um sistema rentável para marcas e usuários, com um sistema de moedas próprias que podem ser transacionadas no mundo real.
Segundo ele, o blockchain tem um papel fundamental para que não aconteça o que aconteceu com o Second Life. “Boa parte do motivo daquilo não ter vingado foi a falta de um modelo econômico que pudesse dar sustentação para aquele ‘segundo mundo’”.
Metaverso é o futuro da interação social?
Os especialistas consultados pelo InvestNews divergem sobre o sucesso do metaverso. Arthur Igreja se mantém cético sobre a aderência do público à nova tecnologia, mas admite que apenas o médio prazo vai responder essa pergunta.
No curto prazo, ele desconfia do momento em que o Facebook decidiu anunciar o produto, já que, com o avanço das vacinações contra covid-19 e a queda massiva de casos da doença, as pessoas passaram a procurar por mais atividades presenciais e fugir da fadiga da tecnologia. “O que a gente está vendo por todos os lados são sinais das pessoas desesperadas por fugirem da internet. O metaverso vai na contramão disso”.
Ele ainda afirma que as limitações de hardware representam uma barreira grande para a consolidação do metaverso e impede uma adoção rápida do produto. Isso significa que, mesmo com os esforços das gigantes de tecnologia, é pouco provável que tenhamos um espaço de realidade virtual tão desenvolvido em um período curto de tempo. “A visão de Mark Zuckerberg é de 3 a 5 anos, mas ainda tem muita coisa para amadurecer até lá”, coloca Igreja.
Leonardo Ferro já é mais otimista sobre o assunto, e acredita que o metaverso pode ser ter futuro promissor. “Esse é um tipo de ambiente que gera valor para todos, é muito mais abundante e as regras são mais bem definidas. Vai muito além do que a gente consegue experienciar no contexto físico, e eu acredito que inevitavelmente isso vai ter reflexos na nossa sociedade”.
Para ele, o importante é que esse ambiente seja construído de forma aberta e colaborativa, seguindo de condutas de governanças bem estabelecidas com a comunidade.
Privacidade e segurança no metaverso
Se as redes sociais já sabem muito sobre as preferências dos usuários, a capacidade de absorção de informações do metaverso conseguiria ser ainda mais certeira, já que a coleta de dados de comportamento seria exponencialmente maior. “É uma capacidade de compreensão das pessoas sem igual”, coloca Igreja.
Por isso, saber que o Facebook pretende ser pioneiro nesse novo universo pode preocupar. Depois de múltiplos escândalos envolvendo vazamento de dados de usuários, a companhia passa novamente por uma crise envolvendo denúncias internas de que a empresa priorizou o lucro à segurança dos usuários.
Durante a live de apresentação da Meta, Zuckerberg reiterou diversas vezes o pilar de governança da nova controladora do Facebook. No entanto, como lembra Igreja, as mesmas promessas já haviam sido feitas em 2016 e 2018, após o escândalo da Cambridge Analytica. “O desafio da Meta será de fato não ser o Facebook” afirma o especialista.
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