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Economia

Pix ainda precisa de ajustes para atingir todo seu potencial, diz estudo

Recompensas e tempo de operação são apontados como barreiras para adesão ao meio de pagamentos instantâneo.

Apesar de ter se popularizado entre muitos usuários de serviços bancários no Brasil, o PIX, meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central, ainda enfrenta algumas barreiras para conquistar mais adeptos.

É o que mostra o estudo “Pix no Brasil: Cenário e Oportunidades”, da consultoria Capco. De acordo com o levantamento, a ferramenta ainda precisa de alguns ajustes para atingir todo seu potencial como meio de pagamentos no varejo, como na quantidade de etapas para efetivação da compra e a falta de recompensas do sistema, conforme acontece com os cartões de crédito

O estudo da Capco apontou que, das cerca de 1 mil pessoas entrevistadas em todo o Brasil, 66% disseram preferir fazer pagamentos com cartões de débito ou crédito ao invés de PIX, principalmente por causa dos sistemas de recompensas. Um total de 82% dos entrevistados indicou que prefere pagar com cartão de crédito por causa do programa de fidelidade e 70% migraria para o PIX apenas em troca de descontos ou cashback.

Consumidor espera por recompensas

Mathias Mattos, consultor da Capco Brasil, explica no estudo que alguns entrevistados relataram que, ao pagarem com PIX, estão assumindo um processo que antes era feito pela loja ou comércio, já que celular e a internet usados durante o pagamento são de responsabilidade dos clientes. 

“Por isso, esperam que sejam recompensados por assumir este novo papel através de algum tipo de desconto, cashback ou pontuação”, conclui Mattos.

Já em relação ao tempo que o cliente leva para realizar um pagamento via PIX,  Aline Lemos, consultora da Capco Brasil, explica que pode ser até duas vezes maior na comparação com outros meios de pagamentos físicos. 

Gastão Mattos, cofundador e CEO da consultoria GMattos, defende, no entanto, que a proposta de valor do PIX como plataforma de pagamento instantâneo de baixo custo não comporta funcionalidades e benefícios como os citados pelos pesquisados no estudo da Capco, o que não quer dizer, segundo ele, que não tenham seu espaço.

Para Mattos, a inclusão de uma nova forma de pagar no sistema será primordial para um segmento de consumidores não adeptos do cartão ou que, por meio de motivação de desconto do vendedor, vão preferir efetuar transações dessa forma.

Por outro lado, Thiago Silva Garcia, superintendente do Tribanco, defende que o PIX já vem sendo aprimorado no varejo para que a transação se torne cada vez mais confiável e ganhe maior adesão dos lojistas, e que próprio Banco Central possui uma agenda evolutiva do produto, com objetivo de agregar novas funcionalidades, além de otimizar a transação.

Preferência pelo parcelamento

Outra demanda também em relação ao PIX, segundo o estudo, é por pagamentos parcelados. De acordo com a Capco, 40% dos entrevistados indicaram que ficariam mais propensos a migrar seus pagamentos de cartão para o PIX com a possibilidade de parcelar suas compras.

Para Mattos, é inadequada a comparação do PIX com cartões. Segundo ele, o meio de pagamentos instantâneo conquistará, e em alguns casos, já conquistou, seu segmento de uso como forma de liquidação instantânea, segura e de baixo custo. 

“Nas transferências bancárias, esta proposta já foi suficiente para ser dominante e, para o pagamento de compras, terá seu espaço pela inclusão de novos consumidores ou pelo uso motivador do lojista com a oferta de descontos e benefícios aos consumidores”, defende o cofundador e CEO da consultoria GMattos.

Melhorias no PIX: maior aceitação?

O sistema de pagamento instantâneo começou a operar no país em novembro de 2020 e, em março de 2021, já tinha superado DOCs e TEDs somados em transferências de dinheiro. 

De acordo com o Banco Central, o país tem mais de 770 instituições financeiras cadastradas no sistema. Em junho, eram mais de 469 milhões de chaves PIX cadastradas, com mais de 130 milhões de usuários , com uma movimentação de mais de R$ 772 bilhões no mês.

Segundo a Capso, o levantamento também mostrou uma falta de homogeneidade na percepção do cliente sobre a aceitação do PIX pelas empresas e prestadores de serviço, com os entrevistados dizendo que o sistema é mais aceito ou incentivado em sites na internet, pequenas lojas de rua, prestadores de serviço formais ou informais e campanhas de doação e com uma menor aceitação em mercados, lojas de rede e em shopping centers.

Alexandre Bueno, head da Capco, diz ver grande oportunidade de crescimento do PIX para pagamentos de produtos e serviços e que o uso depende não só da decisão do cliente pagador, mas também do beneficiário, ou seja, o comércio. 

Mattos explica que o PIX conquistou rapidamente espaço relevante na aceitação de lojas online, mas o mesmo não aconteceu no mundo físico. Ele diz acreditar que a usabilidade seja o fator decisivo. 

“Enquanto no online é muito mais fácil pagar com PIX do que com débito, no físico, o uso do meio de pagamentos instantâneo é ainda complexo, principalmente em grandes lojas. A integração do PIX nos sistemas de caixa do mundo físico é também bem mais difícil do que integrá-lo no check-out online”, diz o o cofundador e CEO da consultoria GMattos.

Segundo Mattos, apesar de melhorias nesses processos poderem favorecer a utilização da modalidade em compras presenciais, o PIX não deve conquistar no meio físico, ao menos a curto ou médio prazo, o protagonismo que adquiriu no digital.

Já Garcia defende que o principal desafio do PIX é equalizar o processamento das transações para que seja otimizado tanto o volume em transações quanto o tempo para se fazer a comprar.

“O PIX pode crescer muito em uso, se entraves forem resolvidos. Ele já vem crescendo, tanto em forma de pagamento, como meio de recebimento. E tem outros fatores que contribuem para o uso do PIX, como redução de custos, o recebedor tem na hora o dinheiro em conta, aumenta o fluxo de caixa e otimiza o processo de pagamento e recebimento de quem está envolvido na transação”, destaca o superintendente do Tribanco.

Para Garcia, com a evolução do PIX, melhoria da estabilidade e dos processos, as barreiras de aceitação vão cair ao longo do tempo, o varejo vai ganhando mais confiança na transação, e isso contribuirá para que, cada vez mais, a aceitação do PIX aumente.

Na mesma linha, Carlos Netto, CEO da Matera, também defende que o uso do PIX vai crescer, sendo um sistema mais eficiente, com menores custos para os agentes, que podem oferecer custos menores para os lojistas e recompensas melhores para os consumidores. Apesar disso, ele afirma que haverá usuários que não querem mudar seus hábitos.

“A resistência cultural vai sempre existir. Quem já está acostumado com o cartão vai seguir usando ele pela força do hábito. Por isso, observamos o PIX sendo utilizado tão intensamente pelos recém bancarizados. Para a elite brasileira que tem cartão de crédito, a briga com o PIX é dura: ele só vai conseguir ocupar a transação com o cartão se o lojista oferecer algum desconto considerável no PIX ou se o futuro PIX Crédito for mais interessante para o banco do que o cartão”, diz Netto.

O CEO da Matera afirma ainda que o PIX não é muito bom para o banco de quem paga, mas é muito bom para os lojistas. Para Netto, estes, que ganham com o PIX, deveriam ser os protagonistas de aumentar a aceitação.

Outros pontos de melhorias no Pix

Segundo estudo da consultoria Capco, os pontos críticos a serem aperfeiçoados para que o ecossistema do Pix como meio de pagamento seja mais usado pelo comércio são:

  • Fraudes e garantia de recebimento: as prestadoras de serviço financeiro precisam entregar segurança, como um modelo de prevenção que detecte antecipadamente atividades suspeitas. Outra ação seria o redesenho dos comprovantes de pagamento que dê maior destaque do tipo de operação e um alerta imediato e efetivo no sistema da conta do lojista.
  • Integração com softwares de PDV: muitos softwares utilizados pelo comércio varejista oferecem recursos para a aceitação de diversas formas de pagamento, porém muitas delas ainda não incorporaram o sistema Pix.
  • Velocidade no atendimento: otimização das jornadas de pagamento para reduzir o tempo gasto pelos usuários na realização das transações em lojas físicas.
  • Jornada PIX: muitas instituições financeiras oferecem um processo para pagamento que exige mais passos. É preciso otimizar o processo de pagamento por meio do PIX.

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