A média de preço do gás de cozinha no Brasil recuou para R$ 110,62, ante R$ 112,13 registrados anteriormente, segundo a última leitura semanal da Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP), de 2 a 8 de outubro. Essa é a segunda queda consecutiva nos preços médios ao consumidor nos 26 estados e no Distrito Federal.
No dia 22 de setembro, a Petrobras (PETR4) anunciou uma redução de 6% no preço do gás liquefeito de petróleo (GLP), ou gás de cozinha, como é conhecido popularmente, vendido às distribuidoras. A partir de 23 de setembro, o quilo passou de R$ 4,0265 para R$ 3,7842, o equivalente a uma diminuição média de R$ 3,15 no botijão de 13 quilos.
Apesar da mudança, segundo especialistas entrevistados pelo InvestNews, ainda não é possível determinar como e quando uma diminuição significativa chegará efetivamente ao consumidor final, já que o repasse depende de diversos fatores.
O produto agora é vendido às distribuidoras por R$ 49,19, frente aos R$ 52,34 anteriores.
No dia 12 de setembro, a Petrobras já havia divulgado uma primeira redução, de 4,7%, no entanto, na leitura da ANP (de 11/09/2022 a 17/09/2022), o produto havia subido pela terceira semana consecutiva, mostrando uma demora até a queda chegar ao consumidor final.
Pedro Rodrigues, sócio no CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), explica que a diminuição do valor não depende somente da Petrobras.
“É muito difícil afirmar que, tendo uma diminuição de preço da Petrobras para a distribuidora, essa redução vai ser repassada na mesma velocidade e integralmente. O mercado é composto de vários agentes e eles também podem se apropriar de certa margem, dependendo da localidade”, diz Rodrigues.
Ele lembra que o preço do botijão é livre no Brasil. “As distribuidoras e revendedoras podem por o preço que quiserem, não é um mercado competitivo. Agora, não é um preço tabelado pelo governo”, acrescenta.
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Do que o gás de cozinha é composto
Assim como no caso de outras commodities, o preço do gás de cozinha varia de acordo com as oscilações do mercado internacional de petróleo e, consequentemente, conforme a cotação do dólar, já que parte do produto é importada.
Do valor total do gás, a Petrobras é responsável por 43,9% do custo, como mão de obra e utilização de equipamentos, de acordo com a própria estatal. Já o Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) representa 10,1%. Não há cobrança de impostos federais. Por fim, a distribuição e revenda correspondem, atualmente, pela maior parcela do custo ao consumidor, de 46%.
Confira a composição do valor com base no preço médio registrado pela ANP de 25 de setembro a 1 de outubro.
A Petrobras é a única vendedora de gás de cozinha para as distribuidoras. “Somos, no Brasil, importadores de GLP. A gente produz aqui, mas também importa. Só que, às vezes, quando a Petrobras diminui o preço para revenda para a distribuidora, pode haver outros custos que sobem, por exemplo, caminhões. Tem outros outros fatores que podem influenciar”, explica Pedro, do CBIE.
Segundo o site da ANP, o Brasil é importador de parcela importante do GLP aqui consumido. “Se a Petrobras reduzir o preço abaixo das cotações internacionais, ficaria diante de duas opções: deixar o mercado desabastecido ou importar a preço mais alto e vender a preço mais baixo”, esclarece a agência.
Preço do gás só sobe
A média mensal de preço do gás de cozinha no país está acima de R$ 100 desde outubro de 2021. Desde então, o valor aumentou consideravelmente.
De acordo com Pedro, talvez exista no Brasil uma certa dificuldade de ver essa diminuição de preços, porque, durante quase 13 anos, ele ficou estabilizado e foi praticamente tabelado pela Petrobras, uma política pública que era adotada por outros governos.
Segundo o especialista, no passado, a Petrobras “tomava esse prejuízo” quando o preço do petróleo subia. “Talvez esse seja o motivo de o consumidor sentir sempre esse aumento e que o preço realmente nos últimos anos subiu muito, mas não em razão de uma política errada, porque a política errada era a do passado, a que tabelava e fazia com que a Petrobras ficasse com esse prejuízo quando o petróleo subia e não repassasse o preço quando caía”, diz.
Como a Petrobras é a única importadora, ela trazia o GLP e acabava vendendo barato no Brasil, acrescenta o sócio do CBIE, para quem criou-se uma artificialidade no mercado de preço. “Depois de 2016, quando esse preço foi liberado e a Petrobras deixou de fazer esse tipo de política, o consumidor, principalmente, sentiu um aumento. Talvez seja o porquê de os consumidores de GLP acabarem achando que o preço só sobe. Durante muito tempo, foi praticamente o mesmo”, completa.
Confira o preço médio mensal do gás de cozinha no Brasil nos últimos meses:
Preço do gás deve cair?
Apesar dos reajustes da Petrobras, o preço médio do botijão de gás segue acima dos R$ 100 em todas as capitais pesquisadas, com exceção do Rio de Janeiro, cujo valor médio foi de R$ 98,46, segundo a leitura da ANP de 2 a 8 de outubro.
Pedro Rodrigues acredita que é possível haver uma redução maior do preço.
“O que vai determinar basicamente essa diminuição é o preço do petróleo. Se tiver petróleo a US$ 70, US$ 60, como já aconteceu, o botijão de gás vai ficar mais barato”, afirma o sócio da CBIE.
Segundo o especialista, vive-se hoje um cenário internacional de queda do petróleo, apesar de muita volatilidade, principalmente causada pela guerra entre Rússia e Ucrânia. P cenário hoje, de longo prazo, é de queda no preço.
“Quando tem a queda do petróleo no cenário internacional, e a Petrobras segue o preço da paridade internacional atualmente, é que esse repasse, essa diminuição, também seja feita para o consumidor do GLP. Então vai poder ver botijão mais barato”, argumenta.
Ele aponta que, em uma curva de médio, longo prazo, se houver uma queda no barril do petróleo, queda na venda de GLP pela Petrobras, a tendência é que esse mercado competitivo acabe repassando, talvez não a totalidade, mas parte dessa diminuição de preço para o consumidor e assim sucessivamente.
Pedro diz que não é possível determinar o prazo em que a redução deve ocorrer, dadas as incertezas no mercado internacional, mas se o conflito entre Rússia e Ucrânia for estabilizado ou terminar, a tendência, em razão da recessão da economia mundial, principalmente dos Estados Unidos, é que o preço do barril caia e tenda a se estabilizar ao patamar ao redor de US$ 70.
Em nota enviada ao InvestNews, o Sindigás (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo) disse não ser possível afirmar que haverá uma diminuição do valor:
“O Sindigás esclarece que os preços do GLP são livres em todos os elos da cadeia e suscetíveis às variações do mercado. As distribuidoras associadas não reportam ao Sindigás qualquer aumento ou baixa de preço e não há como fazer uma previsão ao consumidor. É recomendado aos consumidores que façam sempre uma pesquisa antes de efetuar a compra, de forma a buscar a melhor combinação de oferta de serviço e preço sempre tendo em conta sua relação de confiança com sua marca e revenda de preferência”.
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