A produção industrial subiu 0,3% em maio na comparação com abril, em um resultado puxado por bens de capital, como equipamentos para fabricação de outros itens, e bens duráveis, como veículos. Mas, apesar dos dados um pouco melhores do que o esperado da produção industrial, especialistas destacam que o setor ainda deve ter crescimento fraco no ano, impactado pelo patamar das taxas de juros.
De acordo com dados divulgados nesta terça-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em relação a maio de 2022, a produção subiu 1,9%. No acumulado do ano, a indústria tem uma queda de 0,2%.
A produção de bens de capital subiu 4,2% na comparação mensal, mas caiu 11,6% sobre maio de 2022. Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, destaca que o resultado da produção de bens de capital “é uma boa notícia, apesar de não apagar completamente a queda do mês anterior”.
Já a produção de bens de consumo registrou queda de 0,8% entre abril e maio. Na comparação com maio de 2022, houve elevação de 2,2%. Na categoria de bens de consumo duráveis, a produção cresceu 9,8% em maio ante abril. Em relação a maio de 2022, houve alta de 11,1%.
O economista Rafael Perez, da Suno Research, comenta que “o principal destaque para o setor de bens duráveis foi a produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, com expansão de 7,7%”.
“Esse crescimento deve-se à retomada da produção no segmento, que vinha de paralisações e férias coletivas nos meses anteriores”, diz Perez.
Já Costa, da Monte Bravo, avalia que “o destaque da produção de automóveis é provavelmente pela expectativa de produção, esperando que o governo tivesse o programa dos descontos, que acabou acontecendo”. “A produção atende essa demanda agora de curto prazo, mas, para ela se manter, teria que ter uma continuidade do programa, algo que parece pouco provável. Então, essa alta não deve permanecer”, diz o economista.
Perspectivas
Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, comenta que, “se a gente observar a produção industrial de bens de capital, de bens duráveis, a gente teve altas interessantes. Isso quer dizer que, olhando para a renda, a indústria está entendendo que a população tem a intenção de consumir aquilo que não é só essencial”.
“Realmente, passa uma perspectiva mais positiva, mas em relação ao número cheio, eu acho que ainda é um pouco precoce a gente falar que a indústria teve uma melhora”
Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais
Costa, da Monte Bravo, também enxerga “a indústria com crescimento fraco no ano”, e comenta que os principais destaques positivos da pesquisa deste mês não devem seguir mostrando a mesma força nos próximos números. Como exemplo, ele cita “a parte de bens de capital, que tem melhorado, mas ainda está mostrando uma queda no composto, vendo abril e maio”.
“Então, não muda muito a perspectiva do curto prazo de que o investimento deve ser fraco. Juros altos desestimulam investimentos, e isso afeta a produção de bens de capital.”
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos
Na mesma linha, Perez, da Suno, afirma que “a indústria em geral tem sido um dos setores que mais tem sofrido este ano com os efeitos da forte elevação das taxas de juros pelo Banco Central, o encarecimento do crédito e o arrefecimento da atividade”.
“Por isso, esperamos que a indústria ande de lado nos próximos meses, com alguns setores menos dependentes do crédito ou que sejam favorecidos por medidas de estímulo do governo sustentando alguma expansão do segmento”, comenta.
Para Costa, o resultado geral divulgado nesta terça “é uma sinalização positiva, porém não tem a percepção de um resultado que realmente seja consistente no médio prazo”.
“Talvez ao longo do ano que vem, com corte de juros, com a demanda de bens subindo, principalmente os mais ligados a crédito, a produção industrial tenha um resultado um pouco melhor. Mas por enquanto, no curto prazo, ainda vai ter um desempenho mais fraco que o restante da economia”, diz ele.
Eduardo Cavalcanti, consultor de valores mobiliários e cofundador do Fundamentei, aponta que, “olhando o histórico da produção industrial dos últimos 25 anos, percebemos ainda uma lateralização do crescimento nos últimos anos pós-pandemia, num ritmo ainda bem abaixo dos anos 2000 a 2012, por exemplo, e ainda abaixo do nível do início de 2019″.
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