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Economia

Ritmo da alta da Selic só muda se inflação der sinais, diz Campos Neto

Mudança em “normalização parcial” demandaria alteração importante em perspectiva de inflação, afirmou.

Campos Neto
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em Brasília 07/04/2020 REUTERS/Adriano Machado

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira que o Comitê de Política Monetária (Copom) só alterará sua estratégia de “normalização parcial” da política monetária caso veja sinais de elevação significativa da inflação e das expectativas para a alta dos preços à frente.

Ele reiterou, durante evento do banco Itaú, que a decisão do BC de elevar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual em março e sinalizar nova alta da mesma magnitude para maio seguiu entendimento de que agir rápido na política monetária implica fazer “menos ao final”.

Questionado sobre o que poderia levar o BC a optar por uma normalização total da política monetária – ao invés do processo de normalização “parcial” citado na última decisão sobre os juros -, Campos Neto mencionou os preços elevados das commodities em reais e os prêmios fiscais na parte longa da curva de juros impactando a inflação e as expectativas.

“Esses elementos teriam que mudar muito para a gente fazer algo diferente”, disse Campos Neto, em inglês.

“Estávamos vendo contaminação nas expectativas de 2021 para 2022 e até além. Então não é sobre consertar 2021, que estará fora do cenário muito em breve, mas é sobre o processo de contaminação que estava se estabelecendo, acho que foi por isso que fizemos o que fizemos”, afirmou.

Campos Neto frisou que o BC atua com a preocupação de equilíbrio e que o risco visto no ano passado de a inflação ficar próxima de 1,5% o preocupou tanto quanto a possibilidade de inflação superar a meta agora.

Em apresentação inicial, Campos Neto afirmou que a expectativa é que, após a forte recuperação da economia após o baque da primeira onda da pandemia da Covid-19, a segunda onda da doença afetará negativamente a atividade do país em março, abril e maio.

Ele reiterou, contudo, que a perspectiva para o segundo semestre é favorável, com a expectativa de reabertura da economia. Destacando que o país “finalmente” atingiu a marca de mais de 1 milhão de vacinados por dia, Campos Neto disse que a expectativa é de aceleração do processo de imunização a partir daí.

Calamidade

Campos Neto alertou que o eventual acionamento do estado de calamidade para aumentar a margem que o governo tem para gastar na pandemia traria mais prejuízos do que ganhos.

Se esse for o caminho a ser seguido, o país precisará ter cautela em adotar uma “narrativa correta” para justificá-lo, frisou.

“Se eu disser que vou para calamidade porque quero gastar R$ 20 bilhões a mais, R$ 25 bilhões a mais, posso te garantir que o efeito econômico do ponto de vista de turbulência nos mercados e nas variáveis macroeconômica será muito maior do que o efeito que você tem de gastar R$ 25 bilhões”, disse Campos Neto.

“Nós temos que ser muito cautelosos com a narrativa que será usada se esse for o caminho adotado. Eu vejo claramente que, se você não tem a narrativa correta, vejo um efeito negativo em termos de algo para o qual você espera um efeito positivo. Acho que é isso que o mercado está nos dizendo, que as variáveis estão nos dizendo.”

Campos Neto também afirmou que o processo de aprovação do Orçamento gerou incertezas que tiveram impacto no prêmio de risco do cenário fiscal.

“Acho que temos que explicar às pessoas o que será feito porque acho que precisamos remover isso (prêmio), acho que isso é relativamente fácil de se fazer”, afirmou.

Apesar das preocupações, Campos Neto destacou que o Congresso Nacional não está parado e, citando a aprovação da Lei do Gás e o projeto de autonomia do Banco Central, afirmou que o país é um dos únicos do mundo que está aprovando medidas estruturais em meio à pandemia.

Ele também afirmou que a PEC Emergencial foi uma “conquista” que estabeleceu marcos importantes para a política fiscal.

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