Um novo ruído envolvendo a Petrobras (PETR3; PETR4) resgatou o temor de ingerência política na estatal, que marcou governos anteriores, em especial a gestão de Dilma Rouseff. Relatos recentes de agências internacionais deram conta de que integrantes do governo conversam nos bastidores sobre uma possível substituição do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. O motivo seria a insatisfação com sua atuação no comando da empresa.
Os conflitos ocorrem em duas frentes: a política de preços e o plano de investimentos. Enquanto o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, cobra uma redução nos preços dos combustíveis, em especial do diesel, Lula mostrou insatisfação com o planejamento estratégico da estatal, que ainda será anunciado este mês, pedindo maior foco na indústria nacional.
“Os atritos com a ala política do governo teriam como pano de fundo tanto os preços dos combustíveis quanto os planos de transição energética, que envolvem disputas pelos projetos envolvidos”.
LEVANTE INVESTIMENTOS, EM RELATÓRIO.
Nesta terça-feira (21), o presidente Lula tem uma reunião, às 15 horas (de Brasília), com o CEO da Petrobras e o ministro de Minas e Energia. Os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa, também devem participar. O encontro ocorre em meio a esses rumores, que provocam uma pressão negativa nos ativos da companhia.
Mercado reage
Os ruídos pesaram nas ações da Petrobras no pregão desta segunda-feira (20), encurtando o fôlego de alta do Ibovespa. As ações ordinárias (ON) fecharam em baixa de 0,33%, indo na contramão dos ganhos de 0,95% do índice acionista à vista que, por sua vez, renovou o maior nível desde julho de 2021, fechando acima dos 125 mil pontos.
Já os papéis preferenciais (PN) da estatal tiveram ligeiro ganho de 0,08%. Ainda assim, o analista da Guide Investimentos, Matheus Haag, vê um impacto neutro sobre o desempenho das ações da Petrobras no curto prazo. Isso porque o ágio entre os preços domésticos em relação ao praticado nos mercados internacionais é “bem pequeno”.
“Não acreditamos que seria tomada uma medida drástica como mudar o comando da Petrobras por pouca coisa. Além disso, rumores a respeito de alterações no cargo de presidente da Petrobras são bem frequentes. Acreditamos que esse deva ser mais um desses casos”.
Matheus Haag, analista da Guide Investimentos, em relatório.
Porém, levantamento feito pela Genial Investimentos mostra que os preços praticados nas refinarias da Petrobras estão com prêmio de 16,3% na gasolina e 7,1% no diesel em relação à paridade de preços no mercado internacional. Ou seja, existe um ágio de R$ 0,50 no litro da gasolina cobrado nas refinarias e R$ 0,28 por litro no diesel.
Segundo afirmam os analistas Vitor Sousa e Israel Rodrigues, em relatório, a gasolina está sendo negociada com o maior prêmio em quase um ano. Por isso, eles acreditam que é possível esperar “em breve” um corte nos preços dos combustíveis pela Petrobras, de modo a alinhar os preços nacionais aos internacionais.
Déjà vu
Vale lembrar que no mês passado, a decisão da Petrobras de cortar os preços da gasolina foi criticada no mercado, assim como o aumento do litro do diesel. Na ocasião, o argumento de especialistas era de que a medida estava apenas distorcendo a defasagem em relação aos níveis internacionais, aumentando uma e apenas reduzindo a outra.
Desde então, o barril do petróleo vem se afastando da marca simbólica de US$ 100, tendo atingido a máxima do ano ainda antes do ataque terrorista do Hamas contra Israel. Esse comportamento da commodity no exterior mostra que, no fim, a decisão da Petrobras em outubro foi acertada, com a tensão geopolítica no Oriente Médio tendo efeito localizado.
Para o analista da Ajax Asset, Rafael Passos, o presidente da Petrobras tem conseguido equilibrar governança interna e pressões do governo. Por isso, “qualquer possível substituição do CEO da companhia deve soar negativamente no curto prazo”, avalia.
Ainda mais se for devido ao descontentamento do alto escalão do governo com os rumos da empresa e uma relação ruim com o Executivo. Daí porque os mercados têm a sensação de déjà vu, com a certeza de que já viram essa cena em governos passados.
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