Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -O Brasil registrou uma taxa de desemprego de 7,8% no trimestre até fevereiro diante do aumento no número de pessoas em busca de trabalho, marcando a taxa mais alta desde agosto do ano passado.
O dado divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters, e se iguala à taxa vista nos três meses até agosto de 2023. No entanto, é a mais fraca para trimestres encerrados em fevereiro desde 2015.
O resultado mostrou ainda alta em relação ao trimestre até janeiro, quando a taxa apurada pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) havia sido de 7,6%.
No trimestre imediatamente anterior, de setembro a novembro, a taxa havia ficado em 7,5%, enquanto, no trimestre até fevereiro de 2023, ela tinha sido de 8,6%.
O mercado de trabalho no Brasil vem mostrando resiliência desde o ano passado, mas sazonalmente há uma tendência de aumento no número de desempregados nos primeiros meses do ano.
Ainda assim, analistas avaliam que a taxa de desemprego deve permanecer baixa por algum tempo, acompanhando o desempenho da economia. Um mercado de trabalho aquecido e tende a favorecer o consumo das famílias, com destaque para o setor de serviços, ponto de atenção para a inflação.
“O fato é que a taxa permanece em um patamar historicamente baixo para o padrão brasileiro. Na nossa visão, o aquecimento do mercado de trabalho é reflexo da atividade econômica forte, principalmente no setor de serviços”, avaliou Claudia Moreno, economista do C6 Bank.
No período, a renda média dos trabalhadores chegou a 3.110 reais, com alta de 1,1% no trimestre e de 4,3% na comparação anual.
“Este movimento de alta nos salários tem ligado um sinal de alerta para o Banco Central, sendo inclusive citado nos últimos documentos da autoridade monetária, já que pode pressionar a inflação de serviços e dificultar uma queda mais acentuada dos preços”, destacou em nota Rafael Perez, economista da Suno Research.
O BC decidiu na semana passada fazer uma nova redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, a 10,75% ao ano e apresentou uma visão mais negativa especificamente ao tratar das medidas de inflação subjacente, que desconsideram itens mais voláteis. Na ata do encontro, ainda apontou maior preocupação com uma possível pressão de salários sobre os preços no Brasil.
PROCURA POR TRABALHO
O aumento da taxa de desemprego nessa época do ano está associado “ao retorno de pessoas que, eventualmente, tinham interrompido a sua busca por trabalho em dezembro e voltaram a procurar uma ocupação nos meses iniciais do ano seguinte”, explicou a coordenadora do IBGE Adriana Beringuy.
“À medida que o mercado se distancia do quarto trimestre, perde a influência positiva das contratações de fim de ano e vai registrando alta da taxa, como agora em fevereiro”, completou ela. “O mercado não deu conta de absorver a maior procura por trabalho em fevereiro.”
No trimestre encerrado em fevereiro, o número de desempregados aumentou 4,1% em relação aos três meses imediatamente anteriores, totalizando 8,535 milhões de pessoas. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve queda de 7,5%.
De acordo com o IBGE, foi o primeiro aumento desse contingente desde o trimestre móvel encerrado em abril de 2023 e deveu-se especificamente ao aumento da procura por trabalho.
Já o total de ocupados recuou 0,3% na comparação trimestral e aumentou 2,2% na base anual, a 100,250 milhões de pessoas.
Os trabalhadores com carteira assinada no setor privado subiram 0,7% nos três meses até fevereiro sobre o trimestre até novembro, enquanto os que não tinham carteira recuaram 1,1%.
Segundo Beringuy, as categorias em que ocorreram as dispensas “têm predomínio de trabalhadores informais. Isso ajudou a manter estável o contingente de empregados com carteira assinada”.
Na quarta-feira, o governo informou que o Brasil abriu 306.111 vagas formais de trabalho em fevereiro, melhor resultado em dois anos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
(Camila MoreiraEdição de Luana Maria Benedito)
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