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Economia

Troca de ministro de Minas e Energia: como o mercado avaliou a mudança?

Na impossibilidade de alterar a atual política de preços da Petrobras, a troca de nomes é uma forma de Bolsonaro dar sinais de que está insatisfeito, avaliam analistas.

Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, durante cerimônia em Brasília 22/02/2022 REUTERS/Adriano Machado

Em meio à insatisfação do governo em relação à política de preços adotada pela estatal Petrobras (PETR3 e PETR4), o presidente Jair Bolsonaro exonerou nesta quarta-feira (11) Bento Albuquerque da função de ministro de Minas e Energia (MME) e nomeou Adolfo Sachsida, servidor de carreira do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), para o cargo. Sachsida ocupava a chefia da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do Ministério da Economia.

As casas de investimentos no geral avaliaram a troca como uma tentativa do governo reafirmar que não concorda com o aumento nos preços dos combustíveis, diante da impossibilidade de alterar a atual política de preços da Petrobras, que segue o mercado internacional.

Na última segunda-feira a companhia anunciou um aumento do preço médio do diesel de 8,87% nas suas refinarias, com o combustível para distribuidoras passando a valer R$ 4,91 por litro.

Em seu primeiro pronunciamento como novo ministro, Sachsida disse nesta quarta que pediu estudos ao governo federal para privatização da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo (PPSA), responsável pelos contratos da União do pré-sal. Ele também defendeu a continuidade da venda da Eletrobras.

Qual a visão do mercado?

A Ativa Investimentos escreveu em comentário que a saída do ministro é “mais um claro sinal quanto a insatisfação do governo em relação a forma como a política de preços da Petrobras vem sendo tocada”.

A casa reiterou que Bento Albuquerque intermediou a chegada de José Mauro Coelho, atual presidente da Petrobras, empossado no início de abril, após a demissão do general Joaquim Silva e Luna, também indicado pelo governo.

“Na impossibilidade de se contestar o CEO, que foi indicado há pouco tempo, o Executivo acreditou ser prudente afastar seu Interlocutor como forma de demonstrar a sua insatisfação com o aumento no diesel promovido esta semana”, escreveu a equipe da Ativa.

Em contrapartida, os analistas da casa reiteraram que a insatisfação já tinha ficado clara em outras oportunidades, especialmente nas saídas de Roberto Castello Branco, em fevereiro do ano passado, e, recentemente, e do general Silva e Luna e que, portanto, não há “nada de novo nesta decisão”.

Por outro, a Ativa enfatizou que a troca da política de paridade aos preços médios de importação dos últimos doze meses, considerada fundamental para a manutenção da saúde financeira da companhia, não pode ser alterada com tamanha celeridade. “Diante desta situação, o governo enviou mais um sinal de descontentamento e a Petrobras confirma que seus fundamentos atuais estão mais sólidos que outrora”.

A Levante também mencionou em relatório que a demissão de Bento Albuquerque é uma tentativa, por parte do Executivo, de se distanciar, eleitoralmente, das altas dos preços. “Isto é, na impossibilidade de alterar a atual política, sob pena de forte reação negativa dos mercados e agentes econômicos, Bolsonaro dá a entender, com a demissão, que está insatisfeito – e tomou a decisão que está a seu alcance – com o trabalho do Ministério de Minas e Energia (MME)”, escreveu a casa.

A Levante lembrou ainda que Sachsida é um dos assessores mais leais de Bolsonaro e fez parte da campanha presidencial, em 2018, antes mesmo do ministro da Economia, Paulo Guedes, entrar para o time.

Na visão da casa, a tendência é que o novo ministro se envolva no debate sobre como apaziguar os impactos da alta dos combustíveis. “Sachsida é menos simpático do que Albuquerque quando as alternativas dizem respeito à compensação de preços ou subsídios diretos, mas pretende propor outras soluções – como o aumento da importação de biodiesel e etanol, diminuição da mistura de tais produtos no diesel e até mesmo a distribuição de um ‘voucher’ para os caminhoneiros, maiores afetados com o último aumento.”

Bruno Amorim, Joao Frizo e Guilherme Costa Martins, analistas do Goldman Sachs, destacaram que José Mauro Coelho, atual presidente da Petrobras, empossado no início de abril, já havia trabalhado como secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério da Minas e Energia durante a gestão de Albuquerque, de quem é próximo. Por outro lado, a equipe do banco avaliou que ainda não está clara como a chegada do novo ministro poderá afetar a estatal.

“Reconhecemos o debate público em torno da política de preços de combustíveis da Petrobras, mas mantemos recomendação de compra (para o papel da empresa) em meio ao considerável rendimento de 40% nos dividendos em 2022”.

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