Finanças
‘Não importa quem você é’: 6 lições do Favelado Investidor para ganhar dinheiro
Aos 25 anos, Murilo Duarte quer provar que é possível mudar de vida com educação financeira e persistência, mesmo ganhando pouco.
Quando Murilo Duarte tinha apenas 11 anos de idade e estudava na 5ª série de uma escola pública, sentiu pela primeira vez o peso de uma sociedade excludente. Morando apenas com a mãe e a avó no Jardim João XXIII (comunidade localizada na zona oeste de São Paulo), lembra que nunca faltou comida em casa. Sua mãe dona Jusceli trabalhava arduamente para garantir as necessidades básicas, mas os recursos ainda eram escassos para comprar um uniforme escolar.
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Ficou gravado na memória o dia em que, durante a aula de português, uma professora o chamou de “pobretão” na frente da turma por não se vestir como os outros alunos. Apesar do peso da situação, Murilo conseguiu transformar a dor em um desejo constante por evolução. Nos próximos 14 anos, foi à procura insaciável de conhecimento, se interessando por educação financeira, mercado financeiro e empreendedorismo. E encontrou nos livros seus principais aliados. Um deles foi o “Tesouro Direto, a Nova Poupança” de Marcos Silvestre, que lhe ajudou a fazer sua primeira aplicação em 2015, quando investiu R$ 100 no Tesouro Selic, título público atrelado à taxa básica de juros.
Depois surgiram outros exemplares que inspirariam o investidor iniciante, desta vez de autoria de Napoleon Hill, como “Mais esperto que o Diabo” e o livro “Quem pensa enriquece” — este último que também inspirou a avó de Murilo, dona Dalva Nascimento, de 74 anos, a criar o hábito da leitura. Ainda entre seus livros de cabeceira, ele cita “Pai Rico, Pai Pobre”, best-seller de Robert T. Kyiosaki e Sharon Lechter.
Para Murilo, o incidente na escola foi o ponto da virada. “Naquele dia eu pensei: O que devo fazer para nunca mais passar por uma situação como essa? Foi quando comecei a ir atrás de conhecimento”, lembra.
O resto da história provavelmente você já conhece. Murilo Duarte, hoje com 25 anos, é o Favelado Investidor, uma das principais referências entre os influenciadores jovens que falam de economia e investimentos nas redes sociais, mas sem “economês”.
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O jovem, que no passado foi humilhado pela professora por sua condição financeira, já conseguiu aposentar a mãe, comprou um carro novo à vista e em breve deve realizar seu primeiro sonho, dar uma casa nova para sua mãe. No seu canal do YouTube, Murilo já tem mais de 160 mil inscritos e, no seu Instagram, mais de 260 mil seguidores.
Para chegar lá, o investidor iniciante evoluiu para um perfil mais arrojado. Sua carteira de investimentos tem hoje 59% de ações. Entre as favoritas estão Itausa (ITSA4), do setor financeiro, Taesa (TAEE3), do setor elétrico, e Via Varejo (VVAR3), do setor varejista. O restante de seus investimentos está em fundos imobiliários (39%) e renda fixa (1%), além da reserva de emergência.
‘Não importa quem você é’
Em casa, Murilo não é o único na jornada da educação financeira. Há alguns anos deixaram de chegar cartas de cobrança no seu endereço. Hoje chegam cartas de dividendos. Sua mãe e sua avó passaram a investir em títulos do Tesouro Direto.
Com gírias da periferia paulista e a famosa saudação “Salve quebrada”, Murilo ensina que não importa quem você é nem quanto você ganha, mas sim como você vai reagir às pressões da vida. “Diariamente várias pessoas da periferia sofrem alguma ameaça ou humilhação. Você escolhe se vai abaixar ou levantar a cabeça. Aos 11 anos, eu decidi que não iria permitir alguém definir o meu futuro. Eu nasci naquela condição, mas não aceitei permanecer nela”, conta.
Sua missão no universo das finanças faz eco com o refrão de um rap de Orochi e Maquiny: “Por mais que eu nasci na favela meu futuro é ser milionário”. Com frases simples, ele tenta ensinar que é possível se tornar investidor mesmo ganhando um salário mínimo.
‘A bolsa é para todos’
Para ele, a bolsa de valores é para todos, mas admite que muitas vezes a dificuldade está nas pessoas que não querem ser ajudadas ou não têm coragem para dar o primeiro passo. Porém, também destaca a situação de vulnerabilidade de muitos brasileiros. “No Brasil, infelizmente ainda temos milhares de pessoas sem acesso a saneamento básico, é preciso antes que o governo proporcione assistência”, aponta.
Em outros casos, ele enxerga a dificuldade de as pessoas acreditarem em transformação. Sua meta com o Favelado Investidor é ajudar a reduzir o número de endividados no país de 64% para 30% nos próximos 5 anos, além de aumentar o número de investidores na bolsa de valores, de 1% para 5% de brasileiros.
E, apesar de em breve ter planos de sair da favela, Murilo quer a levar a frase do grupo Racionais adiante: “Você sai da favela, mas a favela nunca sai de você”. Murilo está ciente da sua missão de transformar e incluir, levando mais pessoas de baixa renda a mudarem seus hábitos financeiros e investirem na bolsa. Ele garante estar contente pelas conquistas, porém ainda não satisfeito.
Entre suas principais inspirações está Luiz Barsi, maior investidor individual da Bolsa. “Ele saiu de engraxate a bilionário, mas continua sendo humilde e não deixou o dinheiro subir à cabela dele”, explica.
Murilo é a prova de que, com paciência e planejamento, qualquer pessoa pode investir. Por isso, separamos algumas lições que o Favelado Investidor ensina sobre enriquecimento:
1 – Dinheiro não é ruim
Para Murilo, um grande problema do Brasil é que o dinheiro é concebido culturalmente como algo errado. “Há muitas histórias de quem teve muito dinheiro conseguiu por meios ilícitos”, comenta. Ele acredita que esta filosofia ainda está enraizada, o que faz muitas pessoas acreditarem que enriquecer é privilégio apenas de quem tem patrimônio alto ou seguiu pelo crime. “Por isso muitas pessoas repudiam o dinheiro. Mas chega a ser hipocrisia. Se todos querem ter dinheiro, como repudiar então quem tem?”, comenta.
Murilo apontou dois mitos que atrapalham o enriquecimento de muitas pessoas. O primeiro é que as pessoas querem ficar ricas do dia para a noite. Essa ansiedade de curto prazo se traduz na procura de jogos de loteria como a Mega Sena, no lugar de acreditar no enriquecimento pelo trabalho.
“As pessoas acreditam que se elas estão pobres é porque outro alguém tem muito dinheiro. Mas não é um jogo de soma zero”, defende. Para ele, não se trata de ter R$ 1 milhão, e sim de correr atrás de uma vida financeira saudável e confortável, respeitando as particularidades de cada pessoa. O segundo mito mais comum, segundo Murilo, é enxergar a riqueza pelo crime. O que considera um erro, porque nem toda pessoa rica foi pelo caminho errado e também há pobres na criminalidade.
2 – É possível começar com pouco
Para aqueles que duvidam se é possível enriquecer ganhando um salário mínimo de R$ 1.045, Murilo admite que é difícil, mas não impossível, desde que se procure ter acesso à educação financeira.
A receita do bolo é conhecer seus ganhos e gastos, procurar aumentar sua receita com uma renda extra ou empreendendo e usar esse dinheiro para diversificar seus investimentos. “Se a pessoa ganha R$ 1.045, ela pode destinar pelo menos R$ 50 para seus investimentos. Hoje tem bancos e corretoras que não cobram taxas para fazer aplicações”, comenta. Ele aconselha os jovens a focar em uma receita cada vez maior para fortalecer o patrimônio no longo prazo.
Murilo começou investindo R$ 100 no Tesouro Direto aos 20 anos e com um salário menor do que R$ 700. “Eu trabalhava num cartório no centro de São Paulo. Meu salário era de R$ 680 e a minha mensalidade na faculdade era R$ 640. Todo mês sobrava R$ 40. Então juntei esse dinheiro por três meses e fiz meu primeiro investimento no Tesouro Selic”, conta. Depois, em 2018, com um pouco mais de conhecimento, comprou sua primeira ação: colocou R$ 100 na holding Itausa.
3 – Paciência é seu bem mais valioso
Para Murilo, a paciência é o ingrediente mais importante para o enriquecimento, Principalmente, quando o assunto é o padrão de vida.
Provavelmente você já se deparou com uma situação semelhante. Uma pessoa que ganha R$ 2 mil vive com R$ 2 mil. Mas, quando ela começa a ganhar R$ 3 mil, longe de se manter no mesmo padrão de vida e destinar os R$ 1 mil restantes para investir e aumentar seu patrimônio, ela quer aumentar o padrão de vida.
Murilo afirma que é esta falta de paciência que atrapalha muito o enriquecimento das pessoas. “O problema não é o quanto a pessoa ganha. Ela pode ganhar R$ 30 mil e gastar R$ 35 mil e isso atrapalha”, defende. Ele recomenda juntar duas coisas para facilitar a liberdade financeira: viver sempre um degrau abaixo do que você ganha e controlar seus gastos, e com uma boa quantia de dinheiro entrando na sua conta, provavelmente pelo lucro dos seus dividendos.
Ele mesmo aplica o conselho quando o assunto são finanças pessoais. Em 2015, Murilo trabalhava num cartório ganhando R$ 680. Logo depois passou a trabalhar no Bradesco com rendimentos de R$ 2.500. Em 2017, surgiu uma oportunidade de aumentar os ganhos e crescer profissionalmente, então entrou como trainee na consultoria KPMG, onde permaneceu por três anos. Seus ganhos foram de R$ 1.400 até R$ 3.500.
Ainda em 2018, ele se formou em contabilidade e também viu seu canal de YouTube crescer aos poucos. Apesar da evolução do seu salário, Murilo nunca mudou seu padrão de vida. Não mudou de casa, não mudou de roupa, permaneceu na simplicidade. Para ele, a paciência nos investimentos é importante para ter um bom retorno. “Warren Buffet e Luiz Barsi começaram a investir cedo, todo mês, usando o tempo a seu favor. Se eles deram certo no longo prazo, não precisamos reinventar a roda”, explica.
4 – Tenha prazos para cada meta
Se você acha que o Favelado Investidor não tem sonhos de consumo, errou. Ele é gente como a gente. A diferença é que cada sonho tem data de validade.
Para Murilo, o fato de estabelecer metas para os sonhos ajuda a lutar contra os impulsos. Por exemplo, um dos seus sonhos é ter uma BMW. Para isso, ele colocou a data de 17 de fevereiro de 2027 para cumprir o sonho. “Quando você coloca uma data para o seu sonho, você cria limites e começa a correr atrás”, explica.
Além da BMW, Murilo já conseguiu conquistar alguns sonhos, como aposentar sua mãe por pelo menos 2 anos. “Ela trabalhava como copeira num hospital e faz parte do grupo de risco, graças aos meus investimentos consegui aposentar ela do trabalho”, comenta.
Outro sonho que ele cumpriu foi sair da favela. O que ocorrerá em dois meses, quando deve se mudar com a família para um bairro melhor. E ainda espera poder comprar uma casa própria para a mãe. Este sonho também tem data, será no dia 13 de abril de 2025. Ainda entre os planos de Murilo, está poder viajar e conhecer diversas culturas.
5 – Encare seu orçamento
Murilo defende que para aprender a lidar com os impulsos, primeiro precisamos entender se vivemos no padrão adequado. Para isso é preciso conhecer quanto você ganha e quanto realmente você gasta. Só assim será possível ir arrumando aos poucos a vida financeira. Para ele, a pandemia deixou isso como lição além da importância de criar uma reserva de emergência. “Precisamos nos preparar ao máximo se houver uma próxima crise” diz.
Um dos benefícios de conhecer o próprio orçamento, segundo Murilo, é poder pensar em como ganhar uma renda extra. Entre as dicas ele aconselha criar uma loja virtual no site da Magazine Luiza, para vender produtos garantindo uma renda extra na quarentena.
Além do e-commerce, ele defende que a melhor forma de sair do endividamento e a pobreza é o empreendedorismo. “Nem sempre devemos nos conformar apenas com um trabalho que paga mal, se uma pessoa empreender e comprar um produto por R$ 50 e vender a R$ 100 vai começar a ter um lucro. Não é fácil, mas é possível”.
6 – Conhecimento também é investimento
Murilo defende de que “antes de sair da pobreza é preciso sair da ignorância”. E para isso, o conhecimento é fundamental.
Mas nem sempre conhecimento é sinônimo de diploma. Ele defende que graças à internet hoje é possível encontrar conteúdo bom e barato sem tirar dinheiro do bolso, nas redes sociais ou com influenciadores. Outra alternativa é se apegar aos livros de educação financeira e investimentos.
Murilo também é um defensor de democratizar a educação financeira entre os jovens, por meio de inserção de aulas do assunto em escolas e faculdades. Além da união dos influenciadores para ajudar as pessoas a ter uma vida financeira equilibrada.
Até para investir, ele destaca o conhecimento como essencial, especialmente quando o assunto é segurança. Foi assim que ele teve certeza dos seus investimentos apesar da queda das ações na pandemia. “No dia 21 de fevereiro, minha carteira tinha valorização de 79,76%. Mas, na pandemia ela caiu para até 5,96%. Agora recuperou para 72,27%. Fiz poucas vendas porque estava convicto que este era um problema de curto prazo”, comenta. O conhecimento foi vital para ele entender os fundamentos pelos quais adquiriu cada companhia.
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