No dia 2 de fevereiro de 2016, as ações da PetroRio (PRIO3) – uma nanica do setor de petróleo – custavam apenas R$ 0,69 centavos. Essa foi a mínima histórica da companhia, que estava engatinhando após seu nascimento em 2015, fruto da reestruturação da HRT Participações. Quase cinco anos depois, os papéis da empresa fecharam cotados a R$ 55,52 na segunda-feira (7).
O salto da ação desde seu fundo do poço foi de 7.946%. Um crescimento intenso se comparado ao Índice Small Cap (SMLL), que avançou 257,35% no mesmo intervalo, e ao Ibovespa (IBOV), que subiu 194,30%.
De fato, quem comprou PetroRio (PRIO3) lá atrás e acompanhou fielmente todas as transformações da companhia se deu muito bem. Nos últimos cinco anos, os papéis da companhia valorizam 5.316%. E a PetroRio deixou de ser uma Small Cap para se tornar uma das companhias do Ibovespa.
Segundo especialistas do mercado, a PetroRio é praticamente um camaleão, porque viveu inúmeras transformações que impulsionaram seu crescimento. Em 2020, iniciou mais uma das suas metamorfoses, após misturar uma estratégia acelerada de expansão com a redução nos custos de extração de petróleo (lifting cost). “O mercado finalmente começou a enxergar o verdadeiro valor da companhia”, defende Bruce Barbosa, sócio-fundador da Nord Research.
Histórico: trocas de estratégias
Não se engane. Barbosa reforça que a PetroRio que vemos hoje não se parece em nada com a petrolífera que conhecíamos no passado. Há um ano, a PetroRio ainda comprava campos de petróleo maduros e independentes com o objetivo de reduzir drasticamente os custos de extração. Foi essa dinâmica que beneficiou os campos de Polvo, Frade e Manati.
No entanto, para esse modelo ter continuidade – considerando que os poços de petróleo maduros têm uma vida útil muito curta -, a companhia precisava fazer sempre novas aquisições. “De três em três meses eles anunciavam uma compra nova”, comenta Barbosa. Mesmo com essa estratégia, a PetroRio conseguia produzir em média 30 mil barris de petróleo por dia, patamar bem inferior se comparado com a produção diária da Petrobras, que alcançava os 3 milhões de barris.
Em 2020, a PetroRio alterou o modelo: começou a adquirir campos de petróleo próximos e, na sequência, criou um sistema chamado “tieback” – um processo para compartilhar a mesma infraestrutura na extração de petróleo de dois campos vizinhos. Tudo isso graças ao FPSO, um navio que recebe e armazena óleo. Nascia assim um novo formato de produção que reduzia ainda mais os custos de extração.
A técnica de tieback foi utilizada nos campos de Polvo e de Tubarão Martelo – este último adquirido em 2020. E também deve servir para o novo campo de Wahoo, situado a 35 km do campo de Frade. Ao compartilhar a mesma infraestrutura para dois campos de petróleo e reduzir os custos com força, a PetroRio mostrou ao mercado que aprendeu a expandir de uma nova forma. “Nenhuma companhia brasileira, com exceção da Petrobras, tinha feito algo semelhante antes”, explica Barbosa.
Ele afirma que a companhia vive uma nova fase em que a sua principal vantagem competitiva é a capacidade de produção. “Agora a PetroRio pode comprar novos campos no valor que achar necessário porque consegue otimizar o gasto na redução dos custos de extração”, avalia.
Há potencial de crescimento?
Quando a pandemia começou, a PetroRio foi uma das companhias mais afetadas. Integrante da velha economia, a ação sentiu a queda abrupta do petróleo Brent. A commodity que começou 2020 negociada a US$ 63,60 o barril viu sua demanda colapsar e despencou até o patamar mínimo de US$ 22,76 por barril entre março e abril.
Segundo Tasso Vasconcellos, analista da Eleven Financial, a restrição de circulação de veículos e aeronaves provocou esse colapso, agravado com a briga pelos níveis de produção de petróleo entre Rússia, Estados Unidos e os Emirados Árabes. Em meio a tanta insegurança, a ação da PetroRio (PRIO3) atingiu sua mínima para 2020 no dia 18 de março, quando fechou cotada R$ 10,35.
Com a retomada da economia e os avanços das pesquisas da vacina contra a covid-19, a ação praticamente quintuplicou seu valor, chegando a ser negociada acima dos R$ 50. Segundo um levantamento feito pela Economática Brasil, a PetroRio (PRIO3) teve a maior recuperação desde o auge da crise até o começo de dezembro, com avanço de 334%.
Em março, o papel da companhia na bolsa acumulava perda anual de 64%. Desde então, passou a alta acumulada de 67,94% em 2020, considerando os dados até o fechamento desta segunda-feira (7).
Entre os motivos que facilitam a recuperação da companhia, Vasconcellos destaca:
- A retomada nos preços do petróleo internacional: Brent e WTI passarem a ser negociados acima dos US$ 40 dólares por barril.
- Alta do dólar: câmbio favorece a receita da companhia exportadora.
- Movimento de rotação de setores: investidores que, na crise, trocaram ações de companhias de setores vistos como “tradicionais” agora voltam para as commodities, por exemplo.
- Aquisição dos campos de Wahoo e Itaipu: negócio potencializa produção da companhia e redução de custos operacionais.
E os pontos fracos?
Contudo, há pontos de atenção nos quais o investidor deve ficar de olho. Segundo Vasconcellos, em caso de um novo lockdown com a segunda onda de covid-19, a queda nos preços do petróleo internacional impactaria diretamente na companhia, assim como a desvalorização do dólar.
Ele também aconselha os investidores a monitorar os resultados da PetroRio com as aquisições de Wahoo e Itaipu, que vão definir o futuro da empresa.
De qualquer forma, a Eleven Financial mantem sua recomendação de compra para o papel, considerando a PetroRio um case claro de crescimento.
Já a visão da Nord Research é que o mercado financeiro ainda não precificou todo o potencial da PetroRio. Por este motivo, a avaliação é de que, apesar de estar sendo negociada acima dos R$ 50, a ação ainda pode ser considerada barata em vista dos resultados que a companhia pode entregar.
Barbosa afirma ainda que a ação pode ser considerada barata, apontando como justificativa a relação entre a geração de caixa da empresa (Ebitda) e o valor das ações. Atualmente, essa proporção é de 7,5 vezes. Esse número pode ser reduzido para 6 vezes se forem consideradas as produções futuras de Frade e Tubarão Martelo, além da nova aquisição em Wahoo. E, se o investidor considerar a produção do novo campo de Wahoo, a PRIO3 estará negociando a menos de 3 vezes o Ebitda ‘futuro’.
“Produção crescendo forte muda completamente o valuation da ação”, apontou ele em relatório. Para ele, a recomendação é de compra mesmo quando a ação sobe, e especialmente quando cai.
Vantagens competitivas
No dia 19 de novembro, a companhia chegou a disparar 30% com o anúncio da aquisição de dois blocos no pré-sal, 35,7% no bloco BM-C-30 (campo de Wahoo) e 60% no bloco BM-C-32 (Itaipu). O principal motivo foi que esta aquisição poderia garantir um aumento na produção da PetroRio de pelo menos 50%.
Com a compra de Wahoo, a produção pode superar os 40 mil barris por dia. “O lifting cost da PetroRio já chegou aos US$ 27 por barril de óleo. Agora está em US$ 13 e, com a aquisição em Wahoo, vai reduzir para US$ 2″, explica Barbosa. Ele aponta que, com maior capacidade de produção, a PetroRio ganha vantagem, pois o custo de extração pelos campos é fixo.
Outra vantagem competitiva da companhia é o endividamento baixo. Nem mesmo para a aquisição de Wahoo e Itaipu foi necessário queimar muito caixa. A transação terá uma parcela fixa de US$ 100 milhões, que será dividida em cinco pagamentos (US$ 17,5 milhões entre a assinatura e a conclusão do negócio; além de US$ 15 milhões em dezembro de 2021 e o remanescente a ser pago em 2022).
Segundo Vasconcellos, o endividamento da companhia é bastante confortável. E a PetroRio não descartou a possibilidade de recorrer a um follow on (nova oferta de ações) caso seja necessário aumentar o capital da companhia.
“A PetroRio não precisa de mais capital, a relação dívida/Ebitda já está em patamares saudáveis. E, com o aumento de produção de Tubarão Martelo e Wahoo, a companhia vai gerar mais Ebitda para os próximos dois anos”, avalia Vasconcellos.
Petrobras ou PetroRio?
Com boas alternativas no setor de commodities, o investidor pode ficar dividido entre as petrolíferas. Afinal, vai de PetroRio (PRIO3) que cresce aceleradamente ou de Petrobras (PETR4) que é uma companhia madura? Vale a pena investir nas duas?
Segundo Vasconcellos, as duas companhias são cases similares por estarem no mesmo setor. Mas, ao mesmo tempo, são muito diferentes pelas estratégias opostas. Por este motivo, ele afirma que não faz sentido investir em Petrobras e PetroRio ao mesmo tempo.
Para ajudar na escolha, o InvestNews preparou um comparativo com as análises dos especialistas sobre as estratégias de cada empresa. Veja:
PetroRio (PRIO3) | Petrobras (PETR3; PETR4) | |
Estratégia | A companhia está apostando no investimento e crescimento acelerado com o uso do tieback | A companhia não tem como comprar novos campos. Está em um fluxo de desinvestimento |
Dividendos | Não paga dividendos no momento. Reinveste todo seu lucro em aquisições, gerar caixa e pagar dívidas | Tem uma boa política de dividendos, mesmo quando não tem lucro contábil |
Expansão | Está em fase de rápido crescimento, comprando novos campos de petróleo | Apresentou um plano para reduzir sua produção de petróleo e gás nos próximos cinco anos. |