A adoção do bitcoin pela República Centro-Africana, enquanto muitas das maiores economias do mundo seguem cautelosas com a divisa virtual, intrigou o mundo das criptomoedas e os moradores do país produtor de ouro e diamantes, e provocou um pedido por cautela pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
O uso do bitcoin para comprar e vender bens e serviços depende de internet confiável e rápida e acesso generalizado a computadores ou smartphones.
Mas a República Centro-Africana tem taxas de apenas 11% de penetração na internet, ou cerca de 550 mil pessoas online em 2021, estima o site DataReportal. Enquanto isso, só cerca de 14% das pessoas têm acesso à eletricidade e menos da metade tem conexão de telefone celular, diz a Economist Intelligence Unit.
Analistas e especialistas em criptomoedas disseram que grandes desafios vêm pela frente na adoção do bitcoin em um dos países mais pobres do mundo, com baixo uso de internet, conflito generalizado, eletricidade irregular e uma população pouco familiarizada com moedas digitais.
A República Centro-Africana deu poucos detalhes no anúncio da véspera sobre como planeja enfrentar esses desafios. O governo não respondeu aos pedidos de comentários da Reuters.
O comunicado disse que a medida faz da República Centro-Africana um dos “países mais visionários” do mundo, mas os moradores da capital Bangui, onde a maioria está familiarizada com dinheiro em espécie, ficaram perplexos.
“Bitcoin. O que é isso?!”, disse Auguste Agou, que administra uma madeireira em Bangui.
O país africano de 4,8 milhões de pessoas é o segundo do mundo a recorrer ao bitcoin, além de El Salvador, que adotou o bitcoin como divisa em junho. Mas seu uso comercial foi frustrado por falhas na internet.
A pesquisadora de blockchain Chainalysis, que rastreia o uso de divisas digitais, não tinha dados sobre a República Centro-Africana, há anos dominada pela violência e que abriga mercenários russos que ajudam o governo a superar rebeldes.
Alguns disseram que, ao adotar o bitcoin, a República Centro-Africana envia uma mensagem sobre o franco CFA da África Central, moeda regional usada por seis países governada pelo Banco dos Estados da África Central (BEAC) e atrelada ao euro.
O BEAC deve, por meio da união monetária, manter pelo menos 50% dos ativos estrangeiros com o Tesouro francês, arranjo que tem sido criticado por retardar o desenvolvimento econômico.
“A África Central está extremamente atrasada em termos de desenvolvimento”, disse Chris Maurice, presidente da empresa de câmbio de criptomoedas Yellow Card Financial.
“É um grande dedo do meio para o sistema econômico francês.”
O FMI, que em janeiro instou El Salvador a acabar com sua decisão de tornar o bitcoin uma moeda de curso legal, expressou cautela sobre a decisão da República Centro-Africana.
“É realmente importante não ver essas coisas como uma panaceia para os desafios econômicos que nossos países enfrentam”, disse o diretor do Departamento da África do FMI, Abebe Aemro Selassie.
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