A quantia em dividendos e juros sobre capital próprio relativos a 2023 que a Engie Brasil Energia (EGIE3) vai pagar aos acionistas não agradou em nada quem estava em busca de dividendos mais “robustos”.
Na véspera, junto à divulgação dos resultados do ano e do quarto trimestre, a companhia informou o pagamento de nova parcela de proventos no valor de R$ 994,5 milhões. Com isso, a empresa de energia vai desembolsar um total de R$ 1,9 bilhão aos acionistas.
A quantia, porém, equivale a 55% do lucro líquido do ano (R$ 3,4 bilhão) e representa um rendimento médio de 5,6% ao ano – bem abaixo do que vem ofertando nos últimos anos. No ano passado, por exemplo, o índice foi de 8,1%, de acordo com relatório de resultados da companhia.
Em comentário enviado ao mercado, a Ativa Investimentos enfatizou que o montante é o mínimo estipulado na política de investimentos da companhia e que o valor está abaixo do registrado anteriormente. “Lembramos que, nos últimos anos, a Engie distribuiu cerca de 100% do seu lucro líquido”.
Em análise, Vitor Sousa e Israel Rodrigues, analistas da Genial Investimentos, consideraram o valor “um pouco decepcionante, mas em linha com a política de dividendos da companhia e condizente frente ao plano de investimentos de R$ 14 bilhões”. Isso porque a Engie tem destinado seus ganhos para explorar negócios na aérea de energia renovável.
Para o futuro, a Ativa acredita que a companhia irá praticar valores de dividendos próximos ao mínimo definido em sua política justamente em razão destes projetos em execução.
Dentre os projetos que estão no radar da companhia, os destaques são: os eólicos de Santo Agostinho e Serra do Assuruá; além do Projeto Fotovoltaico Assú Sol e de transmissão Asa Branca, que, segundo a Ativa, irão consumir um “elevado capex nos próximos anos”. Houve também a aquisição de parques solares da Atlas no valor de R$ 3,2 bilhões.
Onde investir?
Para os analisas da Genial, as ações da Engie já foram precificadas pelo que a companhia tem para apresentar. Desde o início do ano, as ações da companhia cederam 7%. Na visão da dupla, existam outras ações do setor de geração que possuem “maior potencial de valorização”.
Auren (AURE3) e Eletrobras (ELET3) são as opções de compra recomendadas pela Genial, enquanto que, para a Engie, a recomendação é manter o ativo em carteira, ou seja, sem novas aquisições ou venda de posição já obtida.
Ao investidor que está em busca de dividendos, a Ativa é mais enfática e indica a substituição do papel por ações de outras empresas, como Copel (CPLE6) e Eletrobras (ELET3).
Para 2024, Ilan Goldbard, analista da Ativa, estima que o dividendo médio pago por Engie alcance 5%, enquanto Eletrobras chegue a 6% e Copel a 6,5%.
Já era esperado
Em outubro do ano passado, quando a companhia anunciou a assinatura de contrato para comprar conjuntos fotovoltaicos da Atlas, por R$ 3,24 bilhões, o Itaú BBA apresentou uma análise de como a transação poderia afetar o rendimento de dividendos esperado para a empresa.
Na ocasião, a expectativa era de uma reação negativa do mercado, visto que a maioria dos investidores alocados no papel tinham a expectativa de ver a Engie atingir um payout de 100% no ano.
Em relatório divulgado na última terça-feira, Marcelo Sá, analista do Itaú BBA, voltou a destacar que, apesar dos recursos provenientes da venda da participação na Transportadora Associada de Gás (TAG) ao fundo canadense CDPQ, o pagamento de dividendos deve cair, “dado o elevado compromisso de investimento e as oportunidades de crescimento esperadas”.
Em relatório, o banco de investimentos acredita que Equatorial e Energisa sejam os destaques de 2023 no setor – levando em conta que boa parte das companhias do segmento de energia ainda não reportaram balanço financeiro.
Histórico de pagamento
O conselho de administração da Engie aprovou, em reunião realizada em agosto de 2023, o crédito de dividendos intercalares, no valor de R$ 767,2 milhões (R$ 0,940 por ação). O montante foi pago em 27 de dezembro de 2023.
Posteriormente, em dezembro de 2023, foi aprovada a distribuição de juros sobre o capital no valor de R$ 145 milhões (R$ 0,177 por ação).
Adicionalmente, na véspera o conselho aprovou a proposta de distribuição de dividendos obrigatórios e complementares no montante de R$ 994,5 milhões (R$ 1,2188).
A proposta ainda passará por aprovação da Assembleia Geral Ordinária, a quem caberá definir as condições de crédito e pagamento.
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