Uma queda acentuada no bitcoin (BTC) se aprofundou nesta sexta-feira, à medida que investidores correram para ativos seguros após as mais recentes ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, marcando uma dura realidade para uma das apostas mais populares relacionadas a Trump.
A criptomoeda despencou até 7,1% nesta sexta, atingindo o nível mais baixo desde o início de novembro, em US$ 78.248, e já acumula uma queda de cerca de 27% desde que atingiu sua máxima histórica há menos de seis semanas. A liquidação ocorreu em meio a um recuo generalizado nas criptomoedas, com ether, polkadot e XRP caindo mais de 7% no dia.
“A última vez que vimos um sentimento assim foi em 2022”, disse Caroline Bowler, CEO da BTC Markets Pty, referindo-se ao ‘inverno cripto’, período em que os preços despencaram devido ao aumento das taxas de juros e problemas na indústria. “Essa queda pode ser vista como uma resposta aos temores macroeconômicos em relação às tarifas de Trump e à incerteza geopolítica.”
Trump anunciou na quinta-feira que tarifas de 25% sobre Canadá e México entrarão em vigor a partir de 4 de março, minando as esperanças de que ele pudesse reverter sua posição após um adiamento anterior. Ele também afirmou que as importações chinesas enfrentarão uma nova tarifa de 10%, levando autoridades em Pequim a prometerem “todas as medidas necessárias” em resposta.
O foco nas tensões comerciais levou a uma ampla aversão ao risco nos mercados nesta sexta-feira, derrubando quase todas as bolsas asiáticas e pressionando os futuros europeus. No entanto, as criptomoedas — altamente sensíveis a mudanças no apetite por risco — foram algumas das mais atingidas.
O bitcoin já caiu mais de 20% em fevereiro. Se a queda se mantiver até o fim da sexta-feira, será a maior baixa mensal desde junho de 2022.
Problemas com a aposta em Trump
A liquidação destaca uma rápida mudança de perspectiva para o que antes era uma das apostas mais populares nos mercados globais relacionados a Trump: comprar bitcoin na expectativa de que a postura favorável do presidente às criptomoedas levaria a um rali generalizado.
Isso funcionou por um tempo. O bitcoin atingiu sua máxima histórica de US$ 109.241 em 20 de janeiro, dia da posse de Trump. No entanto, as criptomoedas recentemente sofreram pressão devido a preocupações de que a abordagem agressiva de Trump no comércio global possa causar prejuízos generalizados.
“Dado o ambiente macroeconômico, não é surpreendente estarmos onde estamos”, disse Stefan von Haenisch, diretor de trading da região Ásia-Pacífico na empresa de custódia cripto Bitgo. Ele acrescentou que os traders ainda aguardam medidas concretas de Trump para o setor, incluindo um possível estoque de bitcoin.
O que dizem os estrategistas
“O verdadeiro pânico pode ainda estar à frente. O bitcoin sempre tem outra queda de mais de 70% em seu futuro, por construção. A zona crítica parece estar entre US$ 72 mil e US$ 74 mil, o que pode desencadear o próximo inverno cripto”, disse Mark Cudmore, Editor Executivo da MLIV.
Os investidores agora são forçados a considerar até onde a maior criptomoeda do mundo pode cair. Há suporte para o bitcoin na faixa de US$ 70 mil, disse Ruslan Lienkha, chefe de mercados da plataforma cripto YouHodler, com base em análise técnica. No entanto, ele alertou que os investidores não devem presumir que a queda será tão severa.
“Só veremos esse nível se o sentimento negativo dominar os mercados de ações”, afirmou Lienkha.
O sentimento pessimista desta semana também afetou os fundos negociados em bolsa (ETFs) de bitcoin nos EUA, com investidores retirando mais de US$ 1 bilhão na terça-feira — a maior saída diária desde sua estreia no ano passado.
Trump já fez algumas mudanças que agradaram os entusiastas das criptomoedas, incluindo a nomeação de defensores do setor para posições-chave. A Securities and Exchange Commission (SEC), que conduziu uma repressão ao setor durante anos sob a liderança do ex-presidente Gary Gensler, também encerrou recentemente investigações sobre diversas empresas cripto.
Trump declarou que quer transformar os EUA na “capital cripto do planeta e a superpotência mundial do bitcoin”.