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Finanças

CoCo bonds: o que são e como fizeram evaporar US$ 17 bi em títulos do Credit?

Títulos do banco suíço transferiram todo o risco da dívida para os detentores dos papeis que perderam cifra bilionária.

Em um esforço pra conter as preocupações quanto a uma possível crise financeira em cadeia, o governo suíço deu um “empurrão” para a compra do Credit Suisse pelo UBS, oferecendo assim um alívio momentâneo para o setor bancário.

No entanto, o governo suíço disse que cerca de US$ 17,3 bilhões em títulos do Credit Suisse migrados para o UBS seriam zerados, o que significa que seus detentores perdem todos os seus investimentos. Já os acionistas do Credit vão receber cerca de US$ 3,25 bilhões com a transação.

Mas, antes da decisão, havia a expectativa de ao menos parte da conversão desses papéis em ações, o que não aconteceu, e fez os investidores se organizarem para pleitear na Justiça o capital que “virou pó”.

O que são CoCo bonds

Esses títulos, que foram zerados, são os chamados Contingent Convertible Bonds, ou simplesmente, CoCo bonds. Na tradução livre, significam “bônus conversíveis contingentes”. Não são papéis comuns no mercado. Eles foram projetados após a crise financeira de 2008, com o intuito de dar a bancos como o Credit Suisse uma proteção financeira no caso de um grave revés. Também conhecidos como Additional Tier 1 Bonds (AT1s), eles são emitidos por bancos americanos.

Credit Suisse/Reuters
Agência do Credit Suisse em Berna, Suíça 28/10/2020 REUTERS/Arnd Wiegmann

Como os CoCo bonds funcionam?

Em títulos comuns de dívida privada, as empresas levantam dinheiro e permanecem em dívida com os detentores de títulos até o pagamento completo dos rendimentos – sejam eles periódicos ou no vencimento do título. Caso as companhias emissoras do papel entrem em colapso e fiquem inadimplentes, há toda uma proteção jurídica para os investidores além de possibilidades de resgate.

Já os CoCo bonds podem ser convertidos em ações ou completamente rebaixados para zero caso o banco emissor enfrente sérios problemas. Em troca (até que dê tudo certo), esses títulos pagam rendimentos mais altos, mas com maior risco para seus detentores, já que caso os negócios do banco caiam de maneira drástica, a instituição pode apagar sua dívida atrelada aos CoCo bonds. 

Os detentores destes títulos, por sua vez, receberiam ações do banco em colapso – ou não seriam pagos, como no caso do Credit Suisse. Logo, estes papéis são o mais baixo degrau de dívida bancária. Se o banco emissor for à falência, são os últimos na fila de credores, apesar de ainda terem prioridade na fila dos acionistas, segundo a Barron’s.

O Credit Suisse, que agora é propriedade do UBS, tem US$ 17 bilhões em dívidas fora de sua contabilidade, o que permitiu ao banco um aumento no capital, segundo a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço, ou FINMA.

Logo, os US$ 17 bilhões não desapareceram de fato, mas foi “transferido” para a instituição e seus acionistas.

A baixa contábil de US$ 17,3 bilhões do Credit é a maior perda já registrada no mercado de AT1, segundo a mídia estrangeira. Antes disso, foi na venda do espanhol Banco Popular ao Santander, onde os detentores de US$ 1,45 bilhão em títulos viram seus investimentos reduzidos a zero.

O mercado europeu de “CoCo bonds” é estimado em US$ 275 bilhões e, na segunda-feira (20), teve forte venda dos papéis, com investidores temendo um risco que até então não estava no radar. Segundo apurou o “Estadão”, o nervosismo com os bônus AT1 do Credit Suisse impactou alguns bancos brasileiros, a exemplo do Banco do Brasil e Itaú. Ambos estão entre as instituições que usam dos CoCo bonds para captar recursos.

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