Ao final deste texto, você deve encontrar todos os motivos para investir em um fundo de Previdência Privada. Mas será que este investimento é para todo mundo? Primeiro, é preciso saber se seu perfil é compatível. Qual a constância da sua renda? Quanto tempo você têm para investir? Você tem pouco tempo no seu dia-a-dia para administrar sozinho seus ativos?
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Como, em tese, um fundo de previdência irá render por um longo tempo, um nível maior de risco fica mais tolerável, já que as oscilações do mercado serão descontadas à medida que a economia, de modo geral, tem seu crescimento espontâneo. A maioria das pessoas que investem em previdência complementar vai impulsionada pela desconfiança na Previdência Social.
Algo que tem fundamento, já que o Brasil tem um déficit previdenciário enorme (R$ 318,4 bilhões em 2019) e acaba de reformar seu sistema previdenciário, dificultando o acesso à aposentadoria. Isso faz com que muita gente acabe com um plano previdenciário feito por comodidade, no próprio banco em que a pessoa é correntista, sem se informar o suficiente sobre a rentabilidade, taxas e composição da carteira deste investimento. “É um elefante branco”, diz a advogada especialista em Previdência, Ivy Cassa.
Existem dois tipos de previdência privada:
- a fechada, destinada aos funcionários de uma organização específica.
- a aberta, que até pode ser coletiva, mas geralmente sé contratada de forma individual. Nesse ponto, a fonte de renda é determinante para a escolha.
Se a empresa onde você trabalha já oferece um plano de previdência, na maior parte das vezes, ele costuma ser mais vantajoso que qualquer plano individual. Então vamos focar em quem precisa complementar a aposentadoria, ou quem é a própria empresa, um profissional liberal, e portanto terá que pensar em um fundo de previdência aberto.
Por onde começar?
“A dinâmica da Previdência sempre foi muito engessada do ponto de vista de recursos. Mas o mercado como um todo, por meio dos órgãos reguladores, foi se adaptando e tornando os fundos cada vez mais flexíveis”, explica o head de Previdência Privada da Easynvest, Daniel Bellangero. Ele esclarece que se criou um senso comum, por trás dos fundos abertos, de que eles são um investimento de baixo retorno, atrelado à renda fixa e comumente utilizado por pessoas inexperientes.
Segundo Bellangero, os planos vêm mudando de perfil e essa mudança partiu do próprio investidor, ao tentar alcançar maior rentabilidade, buscando fundos que alocassem um aporte maior em renda variável. Os fundos de previdência atuais são tão versáteis que concedem até alguns paralelos com os fundos de ações comuns. “Você tem fundos multimercado que podem investir até 70% da carteira em ações. Para investidores qualificados, existem fundos com 100% da carteira em ações”, diz.
A diferença, segundo ele, é que mesmo podendo fazer alocações em renda variável, os fundos de previdência ainda carregam características conservadoras: “não podem fazer alavancagem”, ou seja, uso de ativos ou recursos para aumentar os efeitos de variações do lucro antes de juros e Imposto de Renda, e a “estrutura de derivativos só pode ser usada para hedge [proteção]”, relata.
Do ponto de vista do contratante, uma das vantagens mais importantes é a portabilidade para outros fundos, visto que boa parte das pessoas pode ter se arrependido em escolher um plano da forma mais cômoda, mas nem sempre a mais rentável para acumular um patrimônio. Por lei, a portabilidade na previdência privada permite trocar, sem custos, seu plano atual por um mais rentável, da mesma ou de outra instituição financeira. Basta fazer uma solicitação ao banco, e ele ficará responsável por entrar em contato com a instituição financeira que passará a gerir seu patrimônio.
Quais as taxas cobradas?
Como qualquer outro fundo, você deve imaginar que o fundo de previdência complementar também cobra taxas de administração. Ela é uma remuneração para os profissionais que fizeram todo o pensamento por você e escolheram as alternativas para fazer seu dinheiro render. Mas, diferentemente dos fundos tradicionais, os previdenciários não têm o temido come-cotas (recolhimento antecipado do Imposto de Renda, a cada seis meses).
Além disso, alguns planos também cobram uma taxa de carregamento. Ou seja, uma tarifa que incide sobre cada aporte feito no plano, cobrada a cada nova aplicação ou no momento do resgate.
Ivy explica que o mercado é rigorosamente regulado, e a responsável por controlar a cobrança das taxas é a Superintendência de Seguros Privados (Susep). “O que acontece é que, às vezes, o investidor despreza a taxa de administração. Ele só enxerga que a seguradora zerou o carregamento. E não dando atenção a isso, acaba fazendo um mal negócio”, relata.
Como funciona a tributação
“A previdência privada tem suas próprias regras, justamente no sentido de premiar quem a usa por mais tempo. E até mesmo de prejudicar quem sai antes”, alerta Ivy. Segundo Bellangero, da Easynvest, é melhor ter uma reserva de emergência e esgotar todas as alternativas, antes de fazer um resgate prematuro do seu investimento previdenciário.
Para explicar melhor como funciona a tributação, vamos antes separar uma sopa de letrinhas: qual a diferença entre um plano PGBL e um VGBL? Veja abaixo:
- O PGBL significa Plano Gerador de Benefício Livre, com foco na possibilidade de dedução do Imposto de Renda, que será aplicado sobre o valor total do investimento, incluindo o rendimento.
- O VBGL significa Vida Gerador de Benefício Livre, é mais comum e funciona como um seguro de vida. Nele, os impostos incidem apenas sobre o lucro do investimento.
Para quem tem renda menor, compensa mais adotar um regime tributário de tabela progressiva, com desconto de IR estabelecido conforme o valor sacado, tendo como base uma alíquota única de 15%. Já pensando em uma modelo de tributação regressivo, é possível chegar na menor alíquota de IR, de 10%, quando todos os demais investimentos que cobram imposto, incluindo ações, de no mínimo 15%.
Previdência, reforma e pandemia
Ivy lembra que a reforma da Previdência, bem no final do ano passado, tinha como objetivo, dentre outros, cuidar da saúde financeira da Previdência Social (INSS), ao mesmo tempo que fomentaria os fundos de pensão [fechados]. “Esse era para ser o ano das empresas serem estimuladas, das seguradoras oferecerem mais atratividade”. diz. “Era para ser”, porque em março a pandemia do novo coronavírus (Covid-19) afastou a rentabilidade desses fundos.
Em recente entrevista ao InvestNews, Luciano Snel, presidente da Icatu Seguros, disse que apesar de o percentual de resgates permanecer em linha com outros anos, a captação líquida, ou seja, novos aportes na seguradora, teve uma queda significativa. Antes da pandemia, a indústria de fundos previdenciários caminhava para seu primeiro trilhão em patrimônio. No ano passado, a empresa voltada para Previdência e Vida, obteve um lucro histórico, 18% maior que o ano anterior.
Ivy conta que, durante a pandemia, a liquidação destes investimentos se concentrou mais nos fechados do que nos abertos.
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