Em tempos de guerra, os riscos nos mercados são conhecidos. Porém, nem o esperado aumento nos preços do petróleo nem o impacto na economia global se confirmaram, o que mantém o foco dos investidores na narrativa do Federal Reserve sobre taxas de juros mais altas por mais tempo.
É o que aponta análise da Janus Henderson. A gestora internacional fez um levantamento sobre como os mercados se comportam em cenário de guerra e avalia que a dinâmica atual, diante dos riscos geopolíticos relacionados à guerra declarada por Israel contra o Hamas, tem sido diferente.
“Até agora, os mercados permanecem focados nos bancos centrais, com poucos sinais claros de que qualquer movimento nos preços dos ativos seja impulsionado pelo aumento do risco geopolítico”
gestor de portfólio da Janus Henderson, Oliver Blackbourn
Segundo o gestor, embora a escalada e a ampliação do conflito na região permaneçam como uma possibilidade, os mercados até o momento mantiveram o foco no tema que tem estado no centro das movimentações em 2023: os bancos centrais.
Juros e inflação predominam
O crescimento econômico mais forte nos Estados Unidos e a inflação ainda elevada, apesar da rápida desaceleração, indicam que o Fed pode manter as taxas de juros mais altas por mais tempo. Já a zona do euro e o Reino Unido enfrentam maior impacto negativo dos juros na atividade, ao passo que os preços perdem força de forma mais gradual.
Esses, portanto, continuam sendo os principais riscos nos quais os mercados globais estão concentrados. “Os mercados continuam mais sensíveis às perspectivas para as taxas de juros”, destaca Blackburn, da Janus Henderson.
Para ele, o índice do medo, como é conhecido o VIX, não aponta volatilidade, o que indica que os investidores não estão buscando proteção.
No entanto, o aumento nos rendimentos dos títulos do Tesouro nos EUA, o fortalecimento do dólar e a valorização do ouro pressionam as ações globais, “sugerindo que o trio está sendo usado como ativo seguro em meio à incerteza”.
No radar
Enquanto o tema sobre taxas de juros mais altas por mais tempo continua a dominar os preços dos ativos em geral, a Janus Henderson alerta para uma nova gama de preocupações que pode surgir no radar.
“Há um número crescente de fatores que trazem riscos adicionais, como o estresse no setor financeiro, a intervenção na economia chinesa e o impasse político nos EUA”, enumera. Ao mesmo tempo, Blackburn não descarta que a situação no Oriente Médio ainda tem o potencial de uma escalada adicional, caso as tensões continuem a se intensificar na região.
“Muita ansiedade gira em torno de uma intervenção direta do Irã, que poderia limitar o fornecimento de exportações de energia, causando um novo choque no fornecimento global, que provou ser difícil para os mercados em 2022”, pondera o gestor.
Balanço de risco
De todos esses potenciais novos riscos, o principal apontado pela Janus Henderson são as expectativas elevadas para os lucros das empresas. Isso porque qualquer decepção com os números trimestrais tende a deixar os mercados mais vulneráveis a uma eventual reavaliação dos preços das ações, explica o gestor.
Aliás, a temporada de balanços segue a todo vapor nos EUA, com as big techs roubando a cena nesta semana, e também na Europa, onde as gigantes de consumo, como a Unilever e a Nestlé, podem sentir a queda nos gastos dos consumidores devido à inflação e à mudança de hábito.
Por ora, os resultados dos grandes bancos americanos mostram resiliência ao juro alta do Fed. Aqui no Brasil, a safra ganha vigor nesta quarta-feira (25).
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