No primeiro mês de 2023, economistas do mercado financeiro esperavam um real mais fraco, prevendo que a moeda norte-americana encerrasse o período perto de R$ 5,30, segundo o primeiro Boletim Focus, publicado em 9 de janeiro.
As incertezas pairavam em meio à volta de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente da República, diante dos desafios fiscais e em meio ao histórico de governos anteriores de esquerda em relação aos gastos públicos. Além disso, a escalada da inflação e dos juros no exterior turvaram o cenário.
De fato, logo após o início do terceiro mandato do governo Lula, o dólar alcançou o maior valor de 2023, perto de R$ 5,50. Porém, com o avanço da agenda econômica no Congresso e a entrada de investidores estrangeiros na bolsa brasileira, a moeda dos Estados Unidos foi perdendo força em relação ao real, até romper a marca simbólica de R$ 5, em abril.
De lá para cá, a pausa no aperto dos juros nos Estados Unidos, em junho, combinada com o início do ciclo de cortes na taxa Selic, em agosto, fez a taxa de câmbio oscilar ao redor desse patamar – ora para cima, ora para baixo – ao sabor dos bancos centrais. Na última sessão antes do Natal, na sexta-feira (22), o dólar fechou abaixo de R$ 4,90, caindo quase 8% no ano.
E 2024?
Não é à toa, portanto, que as projeções coletadas pelo InvestNews para a cotação do dólar ao final de 2024 junto a 10 instituições financeiras estão dentro de um intervalo largo, indo de R$ 4,30 a R$ 5,25. Ou seja, entre a estimativa mais otimista e a mais pessimista, há uma variação de cerca de R$ 1.
Ainda assim, chama a atenção o fato de que praticamente todas as instituições consultadas preveem estabilidade no preço do dólar ao longo do próximo ano, com um ligeiro viés de alta ou de baixa em relação à cotação atual. A exceção fica com apenas três casas de análise.
Dentre elas, está a do economista André Perfeito, que estima um real valorizado em 2024, com o dólar a R$ 4,30. Em comentário, ele afirma que quatro razões validam esta perspectiva, a saber: o superávit comercial; a aposta de corte nos juros dos EUA; o crescimento econômico doméstico e a recente melhora na nota de crédito do Brasil.
“A projeção do dólar a R$ 4,30 em 2024 pode soar exagerada, mas parece até conservadora. Basta lembrar que este era o patamar antes da crise da covid-19 e não há motivos para não voltarmos ao nível pré-pandemia”.
André Perfeito, economista, em comentário.
Ou seja, o cenário global vai mudar em 2024. De um lado, o ambiente externo mais calmo favorece o início de um ciclo de corte de juros nos países desenvolvidos, em especial pelo Federal Reserve. De outro, a redução dos riscos fiscais eleva o Brasil a outro patamar, o que deve ficar mais evidente ao longo do próximo ano.
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Melhora ou piora à frente?
Assim, o risco de uma depreciação do real é pequeno, avalia o estrategista-chefe da Warren, Sérgio Goldenstein. “Há espaço, inclusive, para o real se apreciar mais, com o Brasil continuando atrativo para investidores estrangeiros, o que favorece a moeda, mesmo com o processo de queda da taxa Selic”, afirma, em relatório.
Contudo, a equipe econômica do Santander inclui outros dois ingredientes na lista, que podem fazer com que o real fique mais desvalorizado à frente, voltando a superar a faixa de R$ 5, apesar de alguma melhora no cenário no curto prazo.
Trata-se do lento crescimento da economia da China e da acomodação dos preços das commodities em 2024. Combinados, tais fatores podem prejudicar os ativos de países exportadores de matérias-primas, como o Brasil.
Com tantas variáveis a serem observadas, fica claro porque a “lei de Bacha” determina que não se deve jamais confiar nas previsões para o dólar. A não ser que se queira arriscar para sofrer alguma humilhação depois. Na dúvida, o melhor palpite é prever alguma estabilidade do câmbio – caminho escolhido pela maioria das “casas” consultadas.