O número de fundos de investimento exclusivos no Brasil cresceu 55% na passagem de 2019, período pré-pandemia de covid-19, para 2022. É o que mostra levantamento feito pela TC/Economatica a pedido do InvestNews. Segundo especialistas, o movimento foi puxado pelo amadurecimento do mercado financeiro, taxa de juros e liquidez ao longo dos últimos anos. Para eles, trata-se de uma tendência no país.

De maneira geral, fundos exclusivos são aqueles que têm apenas um cotista (ou seja, um único investidor). De acordo com a resolução 175 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), considera-se “exclusiva” a classe ou subclasse de cotas constituída para receber aplicações exclusivamente de um único investidor profissional, de cotistas que possuam vínculo societário familiar ou de cotistas vinculados por interesse único e indissociável.

Ainda de acordo com a CVM, a classe exclusiva é considerada um investidor profissional, ou seja, pessoas naturais ou jurídicas que possuam investimentos financeiros em valor superior a R$ 10 milhões.

De acordo com a TC/Economatica, o ano de 2019 encerrou com 3.980 fundos exclusivos. Já ao final de 2022, esse total era de 6.172. Confira:

Quando se observa o valor total existente nestes fundos, no último dia de 2019, o fundo de investimento exclusivo de maior patrimônio tinha mais de R$ 65 bilhões. Já no último dia do ano passado, o maior patrimônio de um fundo exclusivo totalizava mais de R$ 102,5 bilhões, ainda segundo a TC/Economatica. Confira:

Motivos do crescimento

Gustavo Parizzi, sócio e diretor-executivo da WIT Asset, avalia que são três os principais motivos que justificam essa elevação do número de fundos exclusivos no Brasil:

Já para Arthur Mello,  sócio e co-CIO da Vita Investimentos, outro motivo que justifica o crescimento destes fundos são eventos de liquidez que aconteceram ao longos dos anos, ou seja, empresas sendo vendidas e fusões e aquisições, gerando liquidez e com os donos dos recursos optando por essa estrutura de investimento.

Perspectivas de mais crescimento

Bruno Mori, economista e sócio-fundador da consultoria Sarfin, avalia que o número de fundos de investimento exclusivos pode continuar crescendo no país em função das vantagens tributárias e sucessórias. 

Na mesma linha, Mello também acredita que esse movimento deve ganhar força, e de forma natural, pelo fato de investidores terem passado a buscar maneiras eficientes de gestão de patrimônio – o que, consequentemente, acabou aumentando a competição entre administradoras e diminuindo os custos. 

Já Parizzi aponta que a tendência de crescimento desse tipo de fundo deve continuar, mas que é difícil dizer em qual ritmo. De acordo com o diretor da WIT Asset, o que pode, eventualmente, acelerar a demanda por fundo de investimento exclusivo é a possibilidade de alterações de regra com uma eventual reforma tributária, que está em pauta no âmbito político. 

“Se houver alguma alteração de regra nesse tipo de produto na reforma, pode gerar uma correria para colocar o produto ‘de pé’ e ocasionar um aquecimento desta demanda. Mas, não tendo esse evento, é algo que tende a crescer com um ritmo natural”, acredita Parizzi .

Riscos

Parizzi afirma que, por ser regulado pela CVM, ter um administrador e um gestor, os riscos dos fundos exclusivos são bem mitigados. O especialista alerta, no entanto, que por outro lado a volatilidade e o risco regulatório por uma eventual mudança de regra de tributação podem afetar negativamente esse tipo de fundo.

Já Mello considera que os dois principais pontos de atenção desses fundos são gestão por um terceiro e risco de liquidez, já que só é possível fazer o saque uma vez ao ano, não se tendo, assim, liquidez imediata dos recursos.

Vantagens dos fundos exclusivos

Já em relação às principais vantagens dos fundos de investimento exclusivo estão, segundo Mori:

Já Parizzi, da WIT Asset, aponta como vantagens dos fundos exclusivos:

Custos e recomendações

Parizzi explica que os custos do fundo de investimento exclusivo são, basicamente, as taxas de administração e, eventualmente, uma taxa de performance. O diretor da WIT Asset destaca, no entanto, que vai variar muito caso a caso, pelo fato do fundo exclusivo ser muito mais personalizado e depender do volume financeiro alocado.

Ele alerta, no entanto, que por se tratar de um veículo de investimento mais personalizado, com menos cotistas, este tipo de fundo só faz sentido financeiro a partir de R$ 10 milhões, por causa dos custos da estrutura.

“Quando analisamos o mercado financeiro brasileiro, este tipo de investimento é, sem dúvida, uma das melhores alternativas para grandes fortunas”

Gustavo Parizzi, sócio e diretor-executivo da WIT Asset

Bruno Mori, da consultoria Sarfin, explica que os custos para a constituição e aplicação de recursos de um fundo exclusivo são relativamente maiores do que os fundos comuns.

Ele lembra ainda que, nesta modalidade de investimento, não incide a tributação “come-cotas” nos fundos fechados e que as movimentações internas entre ativos dentro dos fundos exclusivos são isentas de Imposto de Renda, que acontece no momento da alienação das cotas pelo cotista.