A regulamentação e a conformidade direcionaram uma onda sem precedentes de dinheiro da aposentadoria nos Estados Unidos para ativos privados, mostra um novo relatório da Bloomberg Intelligence. Isso lança uma luz sobre os riscos reais do contínuo avanço das finanças em áreas fora da supervisão tradicional dos reguladores.

Os analistas constataram que, sozinhos, os 20 maiores fundos de pensão dos EUA detêm cerca de meio trilhão de dólares em exposição ao mercado privado, e alguns dobraram as alocações em investimentos não listados na última década. As exposições aos US$ 43,4 trilhões em ativos de aposentadoria dos EUA também crescem em um cenário de declínio no número de empresas americanas de capital aberto e de um número cada vez maior de unicórnios de capital fechado, avaliados em mais de US$ 1 bilhão cada.

“Os investidores estão ganhando exposição a empresas privadas por meio de de 401(k)s, fundos mútuos e ETFs — muitas vezes sem saber disso”, disseram analistas, incluindo Andrew Silverman, no relatório. Eles descreveram como “os requisitos regulatórios, a disponibilidade de financiamento em private equity e a postura de aquisição de grandes empresas desestimularam as ofertas públicas iniciais”.

As conclusões ecoam as preocupações de autoridades em todo o mundo, que vêm acompanhando a migração dos mercados públicos para os privados com crescente urgência. O relatório também surge semanas após o governo Trump anunciar que quer facilitar para indivíduos a possibilidade de colocarem seu dinheiro de aposentadoria em ativos alternativos.

Autoridades da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA, a SEC, há muito tempo alertam para os riscos potenciais de os mercados “ficarem às escuras”, já que as empresas preferem permanecer privadas em vez de uma listagem pública, o que lhes permite contornar as exigências tradicionais de divulgação e governança.

Ao mesmo tempo, o Conselho de Estabilidade Financeira e outros órgãos de fiscalização têm acompanhado a mudança dos empréstimos tradicionais para o crédito privado. Este crescimento já deslocou US$ 1,7 trilhão em empréstimos para fora do alcance dos reguladores e pode se multiplicar para US$ 22 trilhões nos próximos anos.

“Há alguns bolsões onde mais luz solar pode ser valiosa”, disse Tobias Adrian, chefe de estabilidade financeira do Fundo Monetário Internacional, ao descrever o potencial para um “efeito penhasco”, em que os empréstimos diretos passam de aparentemente saudáveis a problemáticos da noite para o dia como “a maior preocupação”.

Repressão regulatória

A migração para ativos privados foi mais forte nos EUA, onde fundos privados administram US$ 22,8 trilhões.

Isso ajudou a provocar uma queda de 50% no número de empresas de capital aberto nos EUA de 1996 até o ano passado, em parte porque firmas de private equity compraram empresas. A ascensão do capital de risco também permitiu que as companhias se financiassem por mais tempo sem recorrer a ofertas públicas iniciais, o que ajudou a aumentar o número de unicórnios para 796 no final de agosto, incluindo 33 empresas avaliadas em mais de US$ 10 bilhões.

Ainda assim, o relatório Bloomberg Intelligence disse que a crescente onda de recursos de aposentadoria fluindo para ativos privados aumenta as chances de uma eventual repressão regulatória no setor.

“Uma falha nas contas de aposentadoria dos EUA vinculadas a investimentos de capital fechado — e o possível ônus para os contribuintes — seria o catalisador mais provável para uma ação federal para expandir a visibilidade”, escreveram os analistas.

A opacidade dos investimentos “gerou alarmes sobre o risco inerente ao investimento” para os detentores subjacentes que “podem não ser tão sofisticados quanto os investidores que estão mais acostumados a investir em empresas privadas”, acrescentaram.