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Finanças

Fundos de renda fixa: 5,5 milhões pagam taxas caras demais. Para onde fugir?

Segundo levantamento da Economatica a maior parte dos fundos não entrega nem 50% do CDI de retorno líquido.

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Um levantamento da provedora de informações financeiras Economatica fornecido ao InvestNews revela que 5,5 milhões de cotistas de fundos de renda fixa pagam hoje taxas de administração superiores ou iguais a 1,5% – apenas 0,5 ponto percentual abaixo da taxa Selic ou, em alguns casos, o mesmo patamar da taxa básica de juros, hoje em 2% ao ano.

Com isso, a rentabilidade se torna irrisória ou até inexistente, deixando os ganhos na mão do fundo ou do gestor. A realidade é tão caótica que alguns fundos não conseguem entregar de rendimento sequer 50% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).

Veja também: Selic em 2%: onde investir agora e quanto rendem as aplicações

Os números trazem à tona uma questão preocupante. Afinal, com a taxa de juros ainda mais baixa, qual é o percentual máximo que um investidor de fundos de renda fixa deve aceitar pagar para não jogar dinheiro fora?

Para onde fugir?

Segundo especialistas, a alternativa para os investidores mais conservadores que não abrem mão da renda fixa é encontrar investimentos que paguem acima de 110% do CDI ou diversificar ativos aplicando em debêntures ou investimentos atrelados à inflação.

Fazendo alguns cálculos, suponhamos que uma pessoa opte por investir em um CDB que pague 110% do CDI, considerando um CDI em 1,94%. Seu retorno nominal ao ano seria de 2,13% com a aplicação. Agora, suponhamos que esta mesma pessoa decida investir em um fundo que entrega, com taxas de administração já descontadas, 50% do CDI. Seu retorno nominal da aplicação seria 0,95% ao ano.

Se a diferença é tão grande, o que faz com que 5,5 milhões de cotistas ainda optem por aplicar nestes fundos tão caros mesmo com baixo retorno?

Vinicius Araujo, coordenador de distribuição de fundos da Easynvest, explica que desde que a pandemia começou, a captação dos fundos de renda fixa voltou a subir. Nos meses de junho e julho, esta categoria de fundos teve uma captação positiva de mais de R$ 70 bilhões, segundo dados da Anbima. Apesar disso, eles ainda não recuperaram as quedas de 2020, com forte impacto nos meses de abril e maio, quando a captação líquida foi negativa. No acumulado do ano, os fundos de renda fixa ainda estão negativos em R$ 40,3 bilhões até julho.

Araújo acredita que o fenômeno da alta procura do investidor por este tipo de fundos a partir de junho, mesmo com taxas exorbitantes, seria provocado por 2 motivos:

  • O primeiro é a falta de informação e o aumento de insegurança do investidor. Segundo o especialista, com a pandemia, muitas pessoas acreditaram que as companhias iriam quebrar e que grandes bancos poderiam desabar, o que colocaria em risco seu dinheiro.
  • O segundo motivo foi o surgimento de benefícios atrelados à Caixa Econômica, como pagamento de auxílio emergencial e FGTS. Segundo Araújo, muitas vezes o recurso caiu nas contas da Caixa e sobrou um pequeno residual que a pessoa optou por aplicar em algum fundo ligado ao banco.

Estes seriam alguns dos motivos pelos quais os fundos de renda fixa começaram a captar mais recentemente.

Apesar de ser um momento de insegurança, Araújo esclarece que o investidor não pode aceitar pagar o que o fundo cobra. Por este motivo, o InvestNews solicitou um levantamento para Economatica para identificar quais são os fundos de renda fixa mais caros no Brasil e com os quais você deve ficar atento.

Os fundos mais caros

O levantamento da Economatica considerou dois tipos de fundos: fundos abertos para pessoas físicas e fundos fechados ou exclusivos. Considerando o universo total de ambos, os fundos, 5,5 milhões de cotistas pagam taxas caras de administração de 1,5% ou superiores. Ao todo, são 86 fundos que, juntos, possuem R$ 251,6 bilhões de patrimônio.

O período escolhido para análise da rentabilidade foi de 31 de dezembro de 2019 até 03 de agosto. A taxa de administração era válida até 5 de agosto e o CDI predominante no período é de 1,96%.

Na tabela, foram considerados 54 fundos de investimento na renda fixa abertos para pessoas físicas, com as taxas de administração mais caras no mercado. Nesta imagem, foram excluídos 10 fundos exclusivos, não abertos a pessoas físicas, e cujo patrimônio acumulado é de R$ 121,3 bilhões.

Olhando para o levantamento, pegaremos alguns exemplos de fundos de renda fixa, cujo retorno está abaixo do CDI e cuja taxa de administração consegue eliminar boa parte da rentabilidade.

O primeiro exemplo é um fundo de renda fixa soberano, com duração baixa. Segundo Araujo, fundos soberanos geralmente investem em títulos públicos como o Tesouro Selic.

O fundo Caixa FIC Pratico RF CP localizado na 1ª posição da nossa tabela, cobra taxa de administração de 2%, igual a taxa de juros atual. Aplicando neste tipo de fundo, o investidor tem um retorno líquido de apenas 0,10%, o que representa apenas 5,04% do CDI. Ou seja, ele está deixando nas mãos do gestor do fundo um retorno de 1,85%, e ficando com as migalhas.

Ainda olhando para a última coluna do levantamento, se o investidor optasse por não pagar a taxa de administração do fundo ou investir por contra própria, seu retorno com o mesmo ativo seria de 1,95% ao ano.

Olhando para outro exemplo, na 6ª posição da tabela o fundo Santander Fc FI Liquidez Simples RF CP, também um fundo soberano, possui taxa de administração de 2%. O retorno líquido do período (31 de dezembro até 03 de agosto) para o investidor foi de apenas 0,49%. Essa rentabilidade na verdade representou 24,77% do CDI, praticamente a quarta parte dessa taxa.

Ainda olhando para este fundo, se o investidor não pagasse taxas de administração ou investisse por conta própria, seu rendimento seria de 1,87%. Como o rendimento dele foi de 0,49%, significa que o investidor está deixando nas mãos do fundo um ganho de 1,38%.

De todos os fundos da lista, Araújo cita apenas uma exceção. É o fundo de crédito privado Anga High Yield que apesar de ter uma taxa de administração de 1,6%, ele não considera caro. O retorno líquido foi de 4,44%, o que representa 226,32% do CDI. “Esse tipo de fundo compra também produtos estruturados que são mais complexos e tendem a render acima do CDI. Para investir nesse tipo de fundo, é necessária uma análise diferenciada, semelhante a uma gestora de ações, o que justificaria a taxa de administração elevada”, defende.

Qual o valor justo a pagar?

Provavelmente você deve estar se questionando porque alguns fundos citados no levantamento rendem acima de 100% do CDI e ainda são considerados caros. Por esse motivo, separamos algumas dicas na hora de escolher um fundo na renda fixa.

O primeiro fator é qual é o propósito do fundo. Araújo, da Easyvest, explica que se o objetivo é criar uma reserva de emergência, não vale a pena aplicar em um fundo de renda fixa. Ele aconselha que se o montante for menor a R$ 10 mil, uma opção boa seria aplicar diretamente no Tesouro Selic.

“Tem fundos do tipo soberanos que aplicam na sua maioria em títulos do Tesouro Selic. Então é um absurdo cobrar uma taxa alta, porque o único trabalho que o gestor teve foi pegar o dinheiro do investidor, entrar no site do Tesouro ou da B3 e investir no título”, explica.

Leia mais:

Para outros propósitos como segurança e retorno, Araújo aconselha o seguinte patamar nos pagamentos de taxas de administração:

  • Até 0,20% de taxa: para fundos de renda fixa conservadores, em especial aqueles que buscam aplicar em títulos públicos. O especialista recomenda ficar atento com fundos de taxa zero, que geralmente são come cotas e rendem no máximo 99% do CDI. A melhor alternativa nestes casos é optar por aplicar diretamente no Tesouro Selic.
  • Entre 0,5% e 0,8% de taxa: fundos mais robustos, que incluam debêntures, curva de juros futuros, entre outros ativos que possuem mais risco mesmo na renda fixa.
  • Entre 0,8% até 1% de taxa: fundos de renda fixa que precisem de uma analise robusta para obter retornos acima do CDI. Araújo cita que este tipo de fundos acostumam ter entre seus ativos CRI e CRA.
  • Acima de 1% de taxa: apenas para fundos de investimento em Direitos Creditórios (FIDC), que rendem sempre acima de 100% do CDI.

O especialista da Easynvest esclarece que quanto mais especializado o fundo, maior a taxa administrativa. Mas adverte que em tempos de Selic em 2%, fundos que cobrem muito acima de 1,5% podem ser considerados caros.

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