O dólar e o Ibovespa fecharam em alta nesta quinta-feira (19), após críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à independência do Banco Central (BC), além de declarações sobre os juros e o mercado financeiro. No exterior, o foco foi sobre a política monetária dos Estados Unidos.
No dia, o dólar subiu 0,17%, a R$ 5,1702, após chegar a R$ 5,2546 na máxima. O Ibovespa teve alta de 0,62%, aos 112.921 pontos.
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Falas de Lula
Lula disse em entrevista à GloboNews na quarta-feira (18) – após o fechamento do mercado – que o BC independente não faz mais agora do que quando o presidente da instituição era trocado sempre que um novo governo assumia, e voltou a afirmar que a responsabilidade social precisa andar junto à responsabilidade fiscal.
“Minha divergência é que nesse país se brigou para ter um BC independente achando que ia melhorar o quê?”, disse Lula. “É uma bobagem achar que vai fazer mais do que quando o presidente indicava”, continuou, acrescentando que, mesmo com BC independente, os juros e a inflação continuam altos.
Durante a campanha, Lula disse por algumas vezes que não pretendia propor, ao menos inicialmente, uma legislação que revertesse a independência do BC. A medida, sancionada em 2021 após aprovação no Congresso, estabelece que os mandatos do presidente e diretores do BC não coincidam mais com os do presidente da República. Assim, novos governos convivem por algum tempo com autoridades indicadas pelos seus antecessores.
Já nesta quinta-feira, Lula questionou novamente a taxa básica de juros do país e reclamou de que ninguém aborda a questão da dívida social, mas desconfia quando se fala em investimentos nessa área.
“Qual a explicação de um juro de 13,5%?”, perguntou, durante discurso em encontro com reitores de universidades e institutos federais no Palácio do Planalto. A taxa Selic, na verdade, se encontra atualmente em 13,75% ao ano.
Lula disse ainda que o Estado precisa estender a mão para os mais pobres e que pode ser o regulador da dívida social do país.
Cleber Alessie, gerente da mesa de câmbio da Commcor, disse à Reuters que o assunto da independência do BC ainda parece ser “mais ruído” do que uma crença dos agentes financeiros de que a medida pode ser revertida por Lula, mas destacou o caráter “delicado” da questão. Ele também afirmou que a preocupação com o fiscal após as declarações de Lula na véspera seguem impactando o mercado. No entanto, Alessie observou que o dólar já devolveu parte do movimento mais forte da abertura.
“Teve um susto inicial às falas, mas ainda existe essa leitura, e faz preço, de que o Brasil, entre outros países da região, merece fluxo. Tem muita gente que deve aproveitar esse momento para entrar comprando”.
Cleber Alessie, gerente da mesa de câmbio da Commcor
As reações no mercado às afirmações de Lula ocorrem após uma série de declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, bem recebidas nos últimos dias pelos agentes financeiros, incluindo sobre reforma tributária e uma nova âncora fiscal.
Segundo o analista de renda fixa da Nu Invest, Eduardo Perez, criticar a independência do Banco Central é, no mínimo, “preocupante”.
“É muito importante essa imagem de um BC independente. Apesar de na teoria termos 2 anos de BC com independência pelo mandato, um presidente só precisaria revogar essa lei para poder passar a indicar alguém diretamente no banco”, afirma Perez.
O analista também pondera que, com a experiência que o mercado teve, especialmente no último mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, “essa ameaça à independência do BC preocupa ainda mais”.
A crítica por Lula ao sistema de metas de inflação atual para ter o aumento do PIB também foi apontada como não favorável.
Cenário externo
Vendas no varejo e a produção industrial nos EUA vieram fracas em dezembro e elevaram o temor de recessão econômica, reforçando apostas de um Federal Reserve (Fed) menos agressivo nos juros – o que ajuda na queda do dólar. Paralelamente, porém, membros do Fed apontaram que a elevação dos juros pelo banco central norte-americano precisa chegar acima de 5%, nível maior do que estava precificado no mercado.
Nesta quinta-feira, indicador de auxílio desemprego nos EUA era destaque na agenda econômica, enquanto mais declarações de membros do Fed estavam no radar, incluindo a vice-chair da instituição, Lael Brainard, e o presidente do Fed de Nova York, John Williams.
Destaques
As ações das Americanas (AMER3) fecharam em queda de 42,53%, cotadas a R$ 1,00, a mínima do dia. Com isso, o papel acumula desvalorização de 91,6% desde o anúncio do rombo.
BTG Pactual (BPAC11) recuou 2,74%, cotada a R$ 22,03, em meio aos problemas envolvendo a Americanas, da qual é um dos principais credores. Especulações sobre a exposição dos bancos às dívidas da varejista e o sentimento mais negativo com os riscos de um governo mais intervencionista, pesavam no setor.
MRV (MRVE3) também encerrou em queda de 1,4%, negociada a R$ 7,04, em dia negativo para construtoras, dado o aumento da inclinação da curva de juros. A prévia operacional da companhia na véspera mostrou queima de caixa de R$ 539,5 milhões no quarto trimestre, uma vez que não conseguiu repassar integralmente para clientes a alta nos custos de insumos acumulada nos últimos dois anos.
Reduzindo as perdas do Ibovespa, Vale (VALE3) avançou 0,43%, cotada a R$ 93,74, acompanhando a alta dos contratos futuros de minério de ferro, uma vez que o otimismo quanto à recuperação econômica na China, maior produtora mundial de aço, elevou a expectativa de demanda, e traders buscavam barganhas após uma recente queda nos preços.
A Petrobras também subiu. PETR4 teve alta de 3,03%, em R$ 25,83, e PETR3 teve elevação de 3,4%, em R$ 29,5, em dia positivo para os preços do petróleo. O contrato Brent também subiu. A empresa paga nesta quinta-feira a segunda parcela da remuneração aos acionistas referente aos resultados do terceiro trimestre. A distribuição corresponde a R$ 1,611607 por ação ordinária e preferencial em dividendos, e a R$ 0,074787 por ação ON e PN sob juros sobre capital próprio (JCP).
Bolsas mundiais
Wall Street
Os índices acionários dos Estados Unidos fecharam em baixa nesta quinta-feira.
Segundo dados preliminares, o S&P 500 perdeu 0,76%, para 3.899,16 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq recuou 0,96%, para 10.852,25 pontos. O Dow Jones caiu 0,75%, para 33.045,98 pontos.
Europa
As ações europeias registraram sua pior perda diária no ano nesta quinta-feira.
O índice pan-europeu STOXX 600 caiu 1,55%, quebrando uma sequência de seis dias de ganhos consecutivos e marcando a maior perda percentual desde 15 de dezembro.
A deterioração de balanços corporativos este ano está entre as razões pelos temores de recessão. Somando-se ao clima pessimista, o Banco Central Europeu rebateu as apostas do mercado de que diminuirá o ritmo de suas altas de juros.
- Em LONDRES, o índice Financial Times recuou 1,07%, a 7.747,29 pontos.
- Em FRANKFURT, o índice DAX caiu 1,72%, a 14.920,36 pontos.
- Em PARIS, o índice CAC-40 perdeu 1,86%, a 6.951,87 pontos.
- Em MILÃO, o índice Ftse/Mib teve desvalorização de 1,75%, a 25.596,28 pontos.
- Em MADRI, o índice Ibex-35 registrou baixa de 1,57%, a 8.793,10 pontos.
- Em LISBOA, o índice PSI20 desvalorizou-se 1,77%, a 5.862,32 pontos.
Ásia e Pacífico
As ações da China subiram nesta quinta-feira com empresas de saúde e tecnologia da informação liderando os ganhos, já que fortes entradas de fluxos estrangeiros ajudaram o sentimento, apesar de volume fraco antes do feriado do Ano Novo Lunar.
- Em TÓQUIO, o índice Nikkei recuou 1,44%, a 26.405 pontos.
- Em HONG KONG, o índice HANG SENG caiu 0,12%, a 21.650 pontos.
- Em XANGAI, o índice SSEC ganhou 0,49%, a 3.240 pontos.
- O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em XANGAI e SHENZHEN, avançou 0,62%, a 4.156 pontos.
- Em SEUL, o índice KOSPI teve valorização de 0,51%, a 2.380 pontos.
- Em TAIWAN, o índice TAIEX permaneceu fechado.
- Em CINGAPURA, o índice STRAITS TIMES desvalorizou-se 0,41%, a 3.276 pontos.
- Em SYDNEY o índice S&P/ASX 200 avançou 0,57%, a 7.435 pontos.
*Com informações da Reuters | Matéria em atualização.
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