O dólar fechou em alta e o Ibovespa, principal indicador da bolsa de valores brasileira, caiu nesta quinta-feira (23). Os mercados tiveram dia de volatilidade conforme investidores acompanhavam falas do chefe do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, e do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Também continuavam sob os holofotes temores globais de recessão e incertezas sobre as contas públicas no Brasil.

O dólar subiu 1,02%, a R$ 5,2292. O Ibovespa caiu 1,45%, a 98.080 pontos. Na mínima do pregão, chegou a 97.775 pontos, menor nível intradia desde 4 de novembro de 2020.

Na visão da equipe de economia do Bradesco, preocupações com a atividade econômica global continuam pesando sobre os mercados. “A cautela predomina em meio aos riscos de recessão à frente nos Estados Unidos e no mundo”, afirmou em relatório.

Discurso de Powell

Jerome Powell, chair do Fed
22/06/2021
Graeme Jennings/Pool via REUTERS

Investidores acompanharam o segundo depoimento de Jerome Powell ao Congresso dos EUA. Na quarta-feira, o chefe do Fed sinalizou comprometimento com o combate à inflação e reconheceu que a economia dos EUA enfrenta riscos.

Powell afirmou nesta quinta-feira que o comprometimento do Federal Reserve com o controle da inflação mais alta em 40 anos é “incondicional”, mesmo reconhecendo que taxas de juros acentuadamente mais altas podem elevar o desemprego.

“Nós realmente precisamos restaurar a estabilidade de preços… porque sem isso não seremos capazes de ter um período sustentado de pleno emprego em que os benefícios sejam amplamente disseminados. É algo que precisamos fazer, devemos fazer “, disse Powell ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos.

O rápido aumento dos preços de combustíveis, alimentos, moradia e quase tudo mais está minando os salários dos norte-americanos, o que prejudica empresas e alimenta preocupações de uma desaceleração econômica e um aumento acentuado do desemprego.

Temores de que o mundo está caminhando para uma contração da atividade ganharam força desde que o banco central dos Estados Unidos elevou sua taxa básica de juros no ritmo mais intenso desde 1994 na semana passada, em 0,75 ponto percentual. Juros mais altos tendem a restringir os gastos do consumidor e, assim, tirar força da inflação.

Discurso de Campos Neto

Roberto Campos Neto
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. 08/08/2019. REUTERS/Amanda Perobelli

O presidente do BC do Brasil disse nesta quinta que os movimentos das taxas de juros no exterior pode levar a um dólar mais forte. Roberto Campos Neto fez esses comentários depois que o BC elevou sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2022, para 1,7%, ante estimativa de 1% apresentada há três meses. Apesar da melhora, a instituição citou incertezas sobre as previsões.

Neto disse ainda que o elevado grau de incerteza no cenário atual fez o Banco Central modular sua estratégia para levar a inflação para “ao redor” da meta em 2023, não mais o patamar exato do alvo de 3,25%.

“A gente fala de uma taxa mais alta por um horizonte maior na mesma estratégia do ‘ao redor da meta’. Entendemos que isso é suficiente para atingir convergência. Isso foi feito porque o volume de choques e o grau de incerteza é tão grande, e tivemos medidas que geram mais incerteza, que entendemos que essa era a melhor forma”, afirmou.

Preocupações com as contas públicas

Longa fila de caminhões brancos em trânsito intenso numa rodovia, vistos de cima.
Caminhoneiros protestam na rodovia Régis Bittencourt na altura da cidade de Embu das Artes, no Estado de São Paulo
09/09/2021 REUTERS/Carla Carniel

Conforme acompanharam as falas de autoridades de política monetária, investidores também monitoraram com cautela o noticiário político-fiscal doméstico.

As iniciativas do governo para criar um auxílio aos caminhoneiros e ampliar o vale-gás a famílias de baixa renda neste ano eleitoral, por exemplo, levantava temores sobre qual será o impacto nos cofres públicos, num momento de aperto nas contas da União.

Kawa, da Tag, disse que esse tipo de discussão “pode continuar pressionando o dólar e a curva longa de juros, dada a perspectiva de piora fiscal”.

“Há o impasse do impacto fiscal que pode vir da crise com os reajustes da Petrobras e o governo tentando contornar a ameaça de greve dos caminhoneiros”, disse o diretor de investimentos da Reach Capital, Ricardo Campos.

Bolsas mundiais

Wall Street

O índice S&P 500 encerrou em alta nesta quinta-feira, após um dia de negociações agitadas, em que ganhos em ações defensivas e de tecnologia compensaram quedas de grupos economicamente sensíveis, à medida que persistiam preocupações sobre uma possível recessão.

De acordo com dados preliminares, o S&P 500 ganhou 0,96%, para 3.796,06 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 1,63%, para 11.233,10 pontos. O Dow Jones subiu 0,66%, para 30.683,73 pontos.

Europa

As ações europeias atingiram mínimas em mais de um ano nesta quinta-feira uma vez que a desaceleração da atividade empresarial da zona do euro aumentou as preocupações com o crescimento. O índice STOXX 600 caiu 0,8%, com os bancos da zona do euro recuando 4,5%.

Ásia e Pacífico

As ações da China subiram para uma máxima de fechamento de quase quatro meses nesta quinta-feira, enquanto o índice de Hong Kong ganhou mais de 1%, uma vez que empresas chinesas de tecnologia e montadoras saltaram devido ao suporte do governo chinês.

Os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa “têm aumentado as taxas de juros e encolhido os balanços, mas a China tem afrouxado as políticas monetárias para estabilizar o crescimento”, disse Linus Yip, estrategista chefe do First Shanghai Group.

*Com Reuters.