Finanças

Ibovespa no 1º semestre: Braskem salta 152,65% e Pão de Açúcar lidera perdas

Apesar de superpedido de impeachment, analistas continuam otimistas com o Ibovespa e projetam valorização até a região dos 140 mil pontos.

Publicado

em

Tempo médio de leitura: 13 min

O primeiro semestre do ano chegou ao fim e para alegria dos investidores, o Ibovespa, principal índice da B3, não desapontou o mercado. Entre idas e vindas, o índice manteve seu ritmo de alta, renovando máximas, para fechar a primeira metade do ano na região dos 126.802 pontos.

Nesta quarta-feira (30), último dia do semestre, o Ibovespa encerrou as negociações em queda de 0,41% aos 126.802 pontos.

Como diria Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, na sua famosa frase “No Brasil, o futuro é duvidoso e o passado é incerto”, a realidade nacional não foi diferente neste semestre. O Ibovespa enfrentou gigantes de sete cabeças, entre estes: risco fiscal, atraso nas vacinas, ampliação do auxílio emergencial, um novo presidente americano, retomada da Selic e até crise hídrica, mas se manteve firme na sua tendência de alta.

Para você investidor, que vibrou a cada pico de alta do Ibovespa, acompanhe neste texto a trajetória do índice mais famoso da bolsa brasileira.

Segundo levantamento de Felipe Fernandes, chefe de análise da Flip Investimentos, o Ibovespa começou o ano de 2021 na região dos 119.024,29 pontos, após ter fechado o ano de 2020 no patamar de 119.017,24 pontos. Lembre nesta reportagem a trajetória do índice no ano passado.

Em janeiro, o Ibovespa teve uma forte tendência de alta e chegou a negociar próximo da região dos 125,323,53 pontos, mas segundo Fernandes, não conseguiu se manter nesse patamar devido a pandemia da covid-19. “A incerteza do controle do vírus e notícias a respeito do atraso na entrega da vacina de Oxford aguardada no período despertou receio entre os investidores”, explica.

Somado a esta incerteza, o cenário político dos EUA não era dos melhores, com a ameaça de um possível impeachment do então presidente Donald Trump, o que provocou volatilidade nos mercados globais. No Brasil, o pesadelo do risco fiscal bateu na porta, com a prorrogação do auxílio emergencial e a possibilidade de quebrar o teto de gastos.

Em consequência, o índice recuou até a região dos 107.319,15 pontos em pouco mais de uma mês. Mas depois da tempestade vem a calmaria, no Brasil isso ocorreu com a aprovação da PEC emergencial, que manteve o compromisso de respeitar o teto de gastos, acelerando o movimento de alta do Ibovespa até a região dos 116.750,66 pontos. “O Ibovespa também foi puxado pelos resultados corporativos divulgados e alta de petróleo”, afirma Fernandes.

Teve também otimismo no mercado de ações americano, com a aprovação do pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão proposto pelo presidente Joe Biden, que trouxe alivio econômico aos Estados Unidos. A recuperação da economia chinesa também impulsionou o desempenho do Ibovespa.

Contudo, em meados de março, o índice da B3 voltou a recuar. Investidores ficaram receosos com as posturas das autoridades monetárias Federal Reserve, nos Estados Unidos, e do Comitê de Política Monetária do Brasil, o índice caiu até a região dos 110.926,74 pontos.

Pesou neste contexto pessimista a volatilidade do cenário externo e o avanço da pandemia a nível nacional, com o fechamento de comércios e lockdown em alguns estados, entre estes São Paulo.

Fernandes aponta que o mês de abril foi marcado por um forte movimento de alta que acompanhou os preços do petróleo internacional, a criação da CPI da covid-19 também contribuiu, a pandemia estava mais controlada e a distribuição de vacinas avançava.

Neste cenário, o Ibovespa atingiu a margem dos 121.116,05 pontos, mas logo sofreu um movimento de correção puxado pelo aumento de casos de covid-19 no mundo e recuando para a região dos 117.870,75 pontos.

Em maio, o Ibovespa quebrou a famosa maldição do “sell in may and go away” (que significa venda em maio e vá embora), longe de acumular perdas o índice da B3 acelerou os ganhos com avanços na vacinação e reforma tributária.

No cenário externo, a recuperação da China e o relaxamento das restrições na Inglaterra também contribuíram com os ganhos, aponta Fernandes. “O Ibovespa foi influenciado pelo cenário otimista para romper o teto histórico dos 125.040,07 pontos“, explica o analista.

No começo de junho, uma nova máxima foi conquistada na região dos 130.883,66 pontos. O sexto mês do ano foi marcado por um movimento de correção pressionado pelo aumento da inflação nos EUA e consequentemente uma postura agressiva do Fed projetando alta nos juros.

No Brasil, o cenário não foi muito diferente. Com a inflação em disparada, no patamar de 8,06% em 12 meses até maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) aplicou um remédio na economia e elevou a taxa Selic para 4,25% ao ano. A autarquia também confirmou que pode promover novo aumento de 0,75 ponto porcentual da Selic em agosto.

E como no Brasil até o passado é incerto, encerramos o semestre com um requerimento coletivo de impeachment de Jair Bolsonaro, um “superpedido” que aponta crimes cometidos pelo presidente desde o início do mandato.

O compilado engloba argumentos dos mais de cem pedidos de impeachment já apresentados à Mesa da Câmara dos Deputados mas também aponta a atuação do presidente diante da pandemia de covid-19.

Frente a esta incerteza, o índice recuou para os 126.802 pontos, fechando assim as negociações do primeiro semestre.

O que esperar no segundo semestre?

Segundo Felipe Fernandes, chefe de análise da Flip Investimentos, o Ibovespa deve manter a sua tendência de alta no segundo semestre de 2021, apesar da crise política desencadeada pelo ‘super impeachment’.

O analista explica que este pedido, que reúne todos os anteriores feitos até agora, pode propiciar um desgaste político para Jair Bolsonaro. O presidente já está com a imagem prejudicada após polêmica de superfaturamento da vacina Covaxin, contudo Fernandes não acredita que o pedido de impeachment avance na Câmara e no Senado.

“No passado já houve diversos processos de impeachment protocolados e nenhum foi levado em consideração”, aponta. Segundo o analista, Bolsonaro tem hoje um relacionamento melhor com os líderes da Câmara e do Senado, o que pode acabar barrando o pedido.

Fernandes reforça que mesmo se o impeachment passar, o mercado não deve ter movimentos muito expressivos, dado que em 2022 teremos ano eleitoral com os investidores voltando a sua atenção para a cena política.

Neste atual cenário, o analista projeta que o Ibovespa ainda pode fechar 2021 no patamar dos 140 mil pontos.

Além dos conflitos políticos, ele vê um segundo semestre positivo para o índice, com diminuição do fluxo comprador no curto prazo, puxado pelo aumento de casos da covid-19 e preocupações com a inflação, mas com retomada nos próximos meses.

Ele destaca a atuação dos Bancos Centrais a nível global para manter os estímulos econômicos e sustentar a retomada econômica. No cenário nacional, ele também acredita na recuperação da economia brasileira no segundo semestre, com espaço para novas altas do Ibovespa.

Entre os setores que mais devem se beneficiar no segundo semestre, ele destaca o agronegócio, indústria e varejo.

Na outra ponta, o menos favorecido deve ser o setor de educação, muito dependente do FIES no passado, e que deve sentir falta dessa verba para sustentar seu crescimento. Já as companhias aéreas podem retomar caso não surjam novas variantes da covid-19.

Segundo o analista, as commodities também podem sofrer caso o real se valorize, diminuindo as receitas das companhias e impactando nas ações.

“Não vejo uma desvalorização muito forte no segundo semestre, por causa da forte injeção de recursos na economia, a maioria dos setores deve se recuperar, alguns menos que outros”, defende.

Maiores altas

A maior alta do semestre foi da Braskem (BRKM5), a companhia valorizou 152,65% no período.

Segundo Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, o avanço das ações da companhia se justifica com a base fraca dos papéis em 2020. Por este motivo, ao se recuperar a Braskem teve uma rentabilidade maior do que outras empresas negociadas na bolsa.

No passado, a companhia sofreu pelo problema geológico e ambiental em Alagoas, que finalizou com um acordo bilionário e o fechamento de minas de exploração de sal. Este conflito trouxe muita incerteza para o futuro da companhia, mas quando as compensações foram definidas a Braskem vislumbrou um novo caminho.

Komura explica que o cenário macroeconômico também contribuiu com a recuperação da companhia, com a forte demanda de países como China, Estados Unidos e Europa por commodities e produtos petroquímicos, entre estes resinas, polipropileno e polietileno.

Com uma oferta limitada, as receitas da Braskem aumentaram, mas o custo de produção continuou o mesmo, propiciando assim mais lucros para a companhia.

“Esse spread está ajudando a Braskem, com as perspectivas de normalização vejo uma geração de caixa forte para o segundo semestre, que deve impulsionar as ações”, aponta Komura.

Ainda entre os fatores que contribuíram com o salto dos papéis neste semestre, o analista cita a retomada das operações no México, com a sua unidade Braskem Idesa para fornecimento de gás natural. A companhia tinha enfrentado problemas em 2020 com a interrupção do contrato.

Komura destaca que nos meses de junho e maio, a notícia de que a empreiteira brasileira Novonor, antes conhecida como Odebrecht, queria se desfazer da sua participação na Braskem favoreceu ainda mais a petroquímica. “Esta é uma oportunidade da Braskem melhorar a sua governança”, reforça

Segundo o analista, a venda deve se concretizar nas próximas semanas e favorecer a companhia. Ainda no radar do segundo semestre, está também a saída da Petrobras, que também deve vender a sua participação na Braskem, fortalecendo ainda mais a governança da petroquímica. Komura acredita que a venda da fatia da Petrobras deve se concretizar no final do ano.

Embora a venda de participações relevantes possa exercer uma pressão baixista nas ações da Braskem no curto prazo, a médio e longo prazo isso deve contribuir com a valorização da companhia. Apesar do salto de 152,65%, o analista enxerga espaço para valorização nas ações BRKM5.

A segunda maior alta do Ibovespa no semestre foi do Banco Inter (BIDI11), as ações do banco digital saltaram 137,1%.

Para Komura, o Inter deixou de ser visto apenas como um banco digital e passou a ser enxergado pelo investidor como um player de tecnologia, o que contribuiu com melhorias no valuation e múltiplos da companhia.

O analista, da Ouro Preto Investimentos, destaca que o banco conseguiu entregar as metas projetadas, com crescimento, abertura de contas, chegando a 11 milhões de correntistas.

Olhando para a monetização, o Inter conseguiu monetizar sua base de clientes com oferta de crédito e serviços dentro do seu aplicativo. “Eles trabalharam com a ideia de um super app, semelhante aos do mercado chinês, que possa satisfazer todas as demandas do cliente”, explica.

O Inter também avançou no ecossistema de fusões e aquisições com parcerias para complementar suas soluções financeiras, entre estas o recente acordo com a  Qualicorp (QUAL3) e a Inter Seguros para comercialização de planos de saúde coletivos por adesão, que deve impactar os 11 milhões de clientes do Inter.

Além do anúncio da Stone, fintech no mundo das maquininhas, como investidor âncora. A credenciadora investirá até R$ 2,5 bilhões no banco e terá uma fatia de 4,99%, além de poder indicar um membro para o conselho de administração.

Segundo Komura, a Stone e o Inter devem formar uma boa dupla, combinando a expertise da adquirência com o mercado de pequenas e médias empresas.

O analista enxerga que o Banco Inter tem um potencial forte de valorização no segundo semestre, muito superior ao da Braskem, ele defende que o mercado de fintechs está cada vez mais aquecido, prova disso é o aporte recente da Berkshire Hathaway no Nubank e entrada do JPMorgan no C6 Bank “Todo mundo quer entrar nos bancos digitais pelo forte potencial de crescimento”, afirma.

Veja as 10 maiores altas do Ibovespa neste semestre:

AçãoAlta semestral
Braskem (BRKM5)152,65%
Banco Inter (BIDI11)137,1%
Embraer (EMBR3)113,22%
Hering (HGTX3)100%
CVC (CVCB3)40,11%
CSN (CSNA3)39,97%
PetroRio (PRIO3)38,84%
Vale (VALE3)37,81%
Locaweb (LWSA3)34,51%
Marfrig (MRFG3)33,39%

*Fonte Valor Pro

Maiores quedas

A maior queda do semestre foi do Pão de Açúcar (PCAR3) que recuou 34,22%. Segundo Gustavo Gomes, operador sales desk da Acqua-Vero Investimentos, os papéis da companhia foram inicialmente pressionados pela cisão com o grupo Assaí (ASAI3). No entanto, ele considera que a companhia é uma grande oportunidade no setor de varejo.

Para o segundo semestre de 2021, Gomes tem boas perspectivas para a ação. Ele afirma que o mercado e as principais casas de análise estão com recomendação de compra do papel. “A companhia deve ser puxada pela recuperação do varejo e a venda da participação de 41,2% pelo seu controlador, o Grupo Casino”, defende.

Na segunda posição entre as maiores baixas do semestre está a IRB Brasil Resseguros (IRBR3) que desvalorizou 29,46% no período. Gomes explica que a companhia enfrentou dificuldades para aumentar os prêmios dos resseguros internacionais, o que acabou impactando no seu crescimento e lucro líquido.

No entanto, ele destaca que a administração da empresa está investindo em um processo de ‘limpeza” para logo iniciar um turnaround. Neste novo cenário, Gomes destaca que a IRB deve focar nos negócios da América Latina.

O fim do processo de fiscalização da Susep também deu lugar a novos horizontes para a IRB Brasil. “O Banco BTG e outras casas de análise enxergam oportunidade na IRBR3 para o segundo semestre, com preço-alvo de R$ 6,50″, destaca.

Ainda entre as quedas, a incorporadora Eztec (EZTC3) fechou o semestre recuando 26,53%, pressionada pela inflação do índice IGP, com efeitos no índice INCC.

Com a inflação, os custos da construção civil aumentaram e impactaram nos lucros da companhia.

Contudo, Gomes tem uma percepção otimista para a Eztec no segundo semestre. Ele defende que o setor de construção civil deve se beneficiar com taxas hipotecárias menores no longo prazo e maior disponibilidade de crédito nos bancos. “A vantagem da Eztec frente aos concorrentes é seu enorme banco de terrenos e um caixa de mais de R$ 1 bilhão”, explica.

Veja as 10 maiores quedas do semestre:

AçãoQueda semestral
Pão de Açúcar (PCAR3)-34,22%
IRB Brasil (IRBR3)-29,46%
Eztec (EZTC3)-26,53%
Ultrapar (UGPA3)-20,73%
BB Seguridade (BBSE3)-20,72%
Tim (TIMS3) -20,53%
Cyrela (CYRE3)-17,3%
Lojas Americanas (LAME4)-17,14%
Sabesp (SBSP3)-17,03%
SulAmerica (SULA11)-16,56%

*Fonte Valor Pro

Mais Vistos