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Finanças

‘Jejum’ de IPOs deve perdurar na B3, enquanto possíveis ‘novatas’ adiam ofertas

Espera para abrir capital é oportuna para empresas se adequarem às regras de governança, diz especialista.

O ano de 2024 começou com a expectativa de que seria marcado pela retomada das ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) na B3, depois de mais de dois anos de “seca”. Mas, ao que tudo indica, ainda será preciso esperar mais um pouco para que o mercado de capitais brasileiro testemunhe novas aberturas de capital.

No período conhecido como o “boom dos IPOs”, entre 2005 e 2008, houve certo “atropelo” entre as novas entrantes, com muitas precisando ajustar a rota depois de terem lançado o “plano de voo” de abrir capital. Na última janela de IPOs, entre 2020 e 2021, mais de 50 empresas – muitas com poucos anos de existência – chegaram à bolsa. 

Sede da B3, em São Paulo. Crédito: Patricia Monteiro/Bloomberg

Em agosto de 2021, a B3 fez suas últimas cerimônias de lançamento de ações estreantes, com a chegada de Raízen, Vittia e Oncoclínicas. De lá para cá, não faltaram previsões sobre o “retorno dos IPOs na B3”, ainda não concretizado. O Bank of America, por exemplo, estima captações de até R$ 120 bilhões na bolsa em um período de 18 meses.

Porém, esse cálculo considera tanto ofertas primárias quanto secundárias (follow-ons), feitas por empresas já listadas na bolsa e, portanto, que já abriram o capital. Aliás, no ano passado foram registradas 24 operações de ofertas subsequentes de ações, movimentando R$ 31 bilhões, enquanto a retomada de IPOs foi adiada.

Já o Itaú prevê a chegada de cinco empresas à bolsa brasileira, de um total de 30 a 40 operações que devem ocorrer na B3, incluindo follow-ons. O problema é que, da lista de cerca de 20 possíveis candidatas apontadas pelo mercado financeiro neste início de ano, ao menos três já desistiram da operação. 

Quem vem?

É o caso do Grupo Fartura Hortifruti, dono da rede Oba Hortifruti. Após tentativa frustrada, a Crescera Capital (ex-Bozano), investidora do grupo desde 2017, vendeu sua participação de volta aos fundadores da companhia. Porém, a decisão não se dá apenas no setor de varejo, tido como um dos mais promissores a puxar a fila de IPOs.

A Oceânica Engenharia, que havia contratado bancos para coordenar a operação, também deve postergar a oferta. Já a Cimed, outra empresa apontada como provável estreante na bolsa brasileira, mudou de ideia e deve seguir o caminho das aquisições, fortalecendo o negócio da farmacêutica, em termos de produtos e distribuição.

Obs Hortifruti. Divulgação

Ainda estão no páreo as incorporadoras imobiliárias Pacaembu, Tegra, Kallas e Diagonal; as empresas de saneamento Aegea e Iguá; as farmacêuticas Eurofarma e União Química; além das varejistas Flora e Kalunga e da subsidiária da gigante de energia chinesa CTG Brasil, entre outras. O InvestNews tentou contato com as empresas citadas, sem êxito. 

Para o consultor financeiro Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, a ausência de IPOs não é fruto de uma “conspiração” e nada impede uma reinvenção do mercado, recuperando sua importância para a economia brasileira. Em artigo publicado na Revista RI, ele afirma que as empresas brasileiras fizeram “uma lição de casa caprichada” durante a pandemia.

Por isso, Rivero avalia que, apesar do cenário atual desafiador, há 20 anos era bem pior. “A bolsa parecia condenada à irrelevância, quando o surgimento do Novo Mercado e de uma geração de empresários dispostos a aprimorar a governança e a melhorar a transparência de suas empresas garantiu uma safra frutífera de IPOs”, comenta, no artigo. 

Preparando o ‘plano de voo’

Diante da demora nos IPO, o que fazer? Para o advogado André Camargo, responsável pela área de governança no escritório Tauil & Chequer, o momento é oportuno para as empresas se prepararem para quando a “janela de IPOs” abrir. A questão, porém, é que ninguém sabe exatamente quando isso vai acontecer.

Segundo ele, existem dois fatores que influenciam a chegada de “novatas” ao mercado de ações. O primeiro é macroeconômico e está relacionado ao ambiente global de taxas de juros mais altas, a começar pelos Estados Unidos. Mesmo com a taxa Selic em queda, com o juro básico terminal podendo ficar abaixo dos dois dígitos, é preciso aguardar esse impulso. 

Já o segundo fator é o “dever de casa” que as empresas devem fazer e está relacionado à estrutura, processos e gestão. Ou seja, preencher os requisitos de uma companhia aberta, o que envolve, principalmente, um aperfeiçoamento da prática de governança corporativa – barreira para muitas candidatas.

“É a hora para fazer uma avaliação qualitativa e os ajustes finos para estar pronto quando a janela abrir e vir forte frente ao competidor”

André Camargo, responsável pela área de governança no escritório Tauil & Chequer

O especialista lembra que esse segundo fator se refere ao “custo de transação”. A começar pela transformação societária, com as empresas passando a ser sociedade anônima (S.A.) e a ter um conselho de administração, com um membro independente, além de diretorias específicas, envolvendo toda uma nova cultura corporativa.

“O movimento de abertura de capital é uma mudança forte no mindset da empresa. Não dá para desprezar o custo disso, direta e indiretamente, pois existe todo um investimento para essa transformação”, acrescenta Camargo. O advogado avalia que as empresas devem se planejar enquanto a bolsa brasileira vive um dos maiores jejuns de estreias de sua história.

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