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Finanças

Joias como investimento: será que vale a pena?

Peças podem até salvar o orçamento em momentos de sufoco, mas é preciso ter cautela ao usar como investimento.

diamante

A empresária de São Paulo Márcia Adell, de 59 anos, sempre gostou de comprar joias. “Meu pensamento é que uma joia nunca se perde, você sabe que é um bem que pode ser transformado em dinheiro a qualquer momento”, diz.

Em 1997, ela chegou a vender quatro peças, entre relógios de grife e anéis com diamantes, para realizar um sonho: estudar inglês por três meses nos Estados Unidos. “A quantia foi suficiente para pagar todas as despesas da viagem”, garantiu.

O fato é que o ouro sempre foi considerado uma reserva de valor, uma espécie de porto seguro. Por ser um ativo físico, ajuda a blindar o patrimônio financeiro em momentos de guerras e grandes incertezas econômicas. A ideia é que, quando surgir uma necessidade, a pessoa pode se desfazer das peças e embolsar o dinheiro. O mesmo ocorre com as joias.

Mas, quando o assunto é investimento, ou seja, comprar com o propósito de obter ganhos no futuro, a compra de joias exige cautela. O Investnews conversou com especialistas para entender melhor esse mercado. Confira abaixo:

Márcia Adell
Márcia Adel sempre gostou de comprar joias. Crédito: Arquivo pessoal

Joias como investimento, vale a pena?

Primeiramente é primordial entender que as joias entram na categoria de investimentos alternativos, assim como relógios de luxo, vinhos, carros e obras de arte. “São investimentos que podem dar muito certo ou muito errado, dado que esse investidor não é especialista, ele está fazendo um investimento mais especulativo, descorrelacionado do mercado tradicional”, explica Virgínia Prestes, professora de finanças e investimentos da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) 

Na prática, Gabriel Ferreira Komatu, fundador e diretor de investimentos da gestora de recursos Komatu, lembra que enquanto o ouro é uma commodity (ou seja, uma mercadoria, assim como o arroz, o feijão e a soja, por exemplo), as joias ganham um valor colecionável.

“Tem algumas que são únicas, só existem uma ou duas unidades delas no mundo e que carregam um valor de exclusividade. Outras geram um sentimento afetivo, passam de pai para filhos”.

Anéis, brincos e pulseiras podem até salvar em momentos de sufoco financeiro, mas é preciso ter cautela na hora de usar as peças para fins de investimento. A docente da FAAP explica que a joia, assim como outros investimentos alternativos, contam com elementos subjetivos. “Não depende só do material que são feitas, depende muito mais de uma interpretação do mercado ou de apreciadores para saber se vai valorizar ou não”.

Luciana Ikedo, assessora de investimentos e sócio-fundadora do escritório Ikedo Investimentos, diz ainda que o investidor pode, inclusive, sair perdendo. “O design, as pedras preciosas e a criatividade são precificados quando alguém compra uma joia. Mas é bem provável que, na hora de vender, o comprador só consiga embolsar um quarto do valor que foi pago originalmente”.

É claro que também não dá para saber quanto vai ser possível ganhar com o investimento em ouro – seja por meio da compra de barras, da negociação de contratos futuro na bolsa e de aportes em fundos de investimentos. Afinal, o metal também sofre oscilações como boa parte das aplicações financeiras.

Mas o fato é que, na hora da venda, o investidor vai lidar com um só preço. “O ouro é um ativo negociado em bolsa. O investidor consegue se desfazer exatamente pelo valor que está sendo negociado naquele momento pelo mercado”, alertou Luciana.

Márcia Adell, por exemplo, afirma que vendeu suas joias exatamente pelo mesmo valor que havia comprado três anos antes – o que significa que ela teve uma depreciação do patrimônio, se levar em conta a inflação do período.

Nesse sentido, Luciana Ikedo explica que entre os investimentos que ajudam a proteger da depreciação estão, por exemplo, o Tesouro IPCA+, que são os títulos da dívida pública que têm rentabilidade atrelada à variação da inflação do período (IPCA); certificados de depósitos bancários (CDBs), que são dívidas dos bancos; Letras de Crédito Imobiliário (LCIs)Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), além dos certificados de recebíveis imobiliários (CRI) e do agronegócio (CRA).

Virginia alerta que, para quem gosta do ramo e acha que faz sentido investir, as joias, junto a outros investimentos alternativos, não devem representar mais de 3% do patrimônio. “É um investimento válido desde que esteja descorrelacionado aos demais investimentos da carteira e num percentual pequeno e considerado adequado aos investimentos alternativos”, explica.

Vender joias para pagar dívidas

O fato é que vender joias para obter algum dinheiro é uma decisão bastante pessoal, principalmente porque esses objetos podem ter um valor sentimental imensurável. “No momento em que vai vender, a outra pessoa não quer saber se aquele colar foi da sua tataravó, ela vai avaliar com base no preço do mercado atual”, explica Gabriel Ferreira Komatu.

Quem precisa de recursos extras, mas não quer se desafazer das peças a qualquer preço, o penhor de joias – que é a possibilidade de entregar peças valiosas como garantia de pagamento da dívida – pode ser uma alternativa, já que a taxa é mais barata do que outras modalidades financeiras.

Segundo a Caixa, único banco brasileiro autorizado a atuar com a modalidade, os bens aceitos como garantia são objetos confeccionados em ouro, prata, platina, pérola, relógios e canetas de grife.

A taxa de juros é de 1,99% ao mês quando se trata de um penhor tradicional, ou seja, o consumidor paga o valor devido ao banco em até 180 dias, e de 3,65% quando o pagamento é parcelado, o que poder ser feito em até 60 meses. Para efeito de comparação, a taxa média cobrada pelos bancos no crédito pessoal é de 3,95% ao mês, segundo dados da Anefac.

Segundo informações da Caixa, os consumidores que têm relacionamento com a instituição financeira podem contratar até 100% do valor das joias. Para quem não tem, é possível obter crédito de até 85%.

Pandemia acelera mercado

Gabriel Aron Mazuz, empresário e sócio da Vecchio Joalheiros, loja que atua com a compra e de joias e relógios de luxo em São Paulo e no Rio de Janeiro, atende a um público bastante diverso, que vai desde desde colecionadores de relógios até pessoas que trocam, por exemplo, um anel de diamante por zircônia para embolsar algum dinheiro.

Ele explica que, com a pandemia, o estabelecimento passou a receber consumidores que antes só compravam em lojas que atuam com peças novas. “Com a crise, esse cliente começou a perceber que joia usada fica nova depois do polimento”, disse o especialista ao afirmar que alguns brincos, por exemplo, podem sair até 70% mais baratos.

Segundo Mazuz, a compra e a venda de itens usados ganhou ainda mais força com o avanço do preço do ouro. Antes da crise sanitária, o valor médio da grama do metal estava na casa dos R$ 200, enquanto atualmente é negociada próximo aos R$ 300. Para 2022, a Vecchio avalia que a procura por serviços de compra de joias suba em 45% e as vendas, em 26%.

“Com esses índices, o momento é favorável para boas negociações. O valor da grama, entretanto, não é o único item que pesa na hora da compra ou venda. Existem outros, como a raridade, a coleção, acompanhar pedras preciosas ou não. Este movimento impulsiona algo além dos negócios, como o fortalecimento da cultura second hand (segunda mão)”, explicou Gabriel Aron Mazuz.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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