Investidores apostam que o rali de meses nos mercados emergentes ainda tem espaço para continuar, mesmo com as ameaças tarifárias e o aumento das tensões geopolíticas sinalizando um caminho turbulento pela frente.
Gestores de recursos da Lazard Asset Management Ltd. à Pictet Asset Management Ltd. têm comprado títulos locais da América Latina, moedas asiáticas e alguns títulos soberanos de alto rendimento. O otimismo — alimentado pelo alívio das preocupações com as políticas comerciais de Trump — ganhou novo impulso na semana passada após uma série de dados fracos de inflação nos EUA reacender as apostas de que o Federal Reserve reduzirá os juros mais de uma vez este ano. Isso derrubou o dólar para mínimas desde 2022, ampliando os ganhos dos ativos de mercados emergentes no ano.
“Com o aumento do impulso na narrativa de um dólar mais fraco e o nível ainda estruturalmente elevado da moeda, há muito mais espaço para os mercados emergentes como classe de ativos”, disse Chris Preece, gestor de portfólio da Pictet. “Claro, pode haver uma correção — mas não acho que possamos dizer que o movimento no câmbio foi exagerado.”
As moedas dos emergentes têm o melhor começo de ano desde 2009, com o real e o peso mexicano subindo um pouco mais de 10% em relação ao dólar. As ações superam o S&P 500 e os títulos locais engataram altas. O avanço reduziu o prêmio adicional exigido pelos investidores para deter dívida em dólar com grau especulativo de países emergentes para o menor nível em quase quatro anos.
Isso torna os ativos mais vulneráveis a riscos vindos da política dos EUA e ao agravamento do conflito no Oriente Médio. O último lembrete veio no fim da semana passada, após os ataques aéreos de Israel ao Irã.
Para os estrategistas do Morgan Stanley, isso significa que os traders “precisarão manter a calma” ao entrar no segundo semestre.
“Os próximos dias serão críticos, mas achamos que o mercado exigirá um nível mais alto de risco para entrar em pânico”, escreveram estrategistas do JPMorgan Chase & Co., incluindo Jonny Goulden e Saad Siddiqui, na sexta-feira. Eles reafirmaram recomendação de sobrepeso para moedas de mercados emergentes.
Um índice de moedas de países em desenvolvimento terminou a sexta-feira com queda de apenas 0,2%, mesmo com a escalada do conflito. O índice teve alta em oito das últimas nove semanas.
Retomada de Fluxos
A classe de ativos também está registrando retomada de entradas de recursos após saídas bilionárias nos últimos três anos. A recuperação ocorre à medida que gestores buscam diversificar para fora dos EUA, onde as dúvidas sobre crescimento e política corroem o sentimento após anos de forte desempenho.
Os fundos de títulos de dívida emergente tiveram entrada líquida de US$ 738 milhões na semana encerrada em 11 de junho, a maior do ano, segundo o JPMorgan Chase & Co., com base em dados da EPFR Global. Um ETF de US$ 3,2 bilhões focado em títulos locais de governos emergentes atraiu US$ 255 milhões em maio, o maior valor mensal desde 2019.
“Estamos vendo os fluxos voltarem para essa classe de ativos, tanto de investidores estrangeiros quanto de domésticos”, disse Nicolas Jaquier, gestor de portfólio da Ninety One Plc. “Além disso, os investidores locais em emergentes estavam muito expostos ao dólar há muito tempo, e agora estamos vendo uma reversão desse movimento.”
Sinal de Alerta
Ainda assim, alguns gestores alertam que as negociações sobre o teto da dívida nos EUA e a postura oscilante de Trump sobre tarifas podem reacender a volatilidade — que diminuiu após o Dia da Libertação.
“Embora acreditemos que as moedas emergentes tenham muito potencial de alta no médio prazo, reduzimos taticamente a exposição a elas”, disse Antonina Tarassiouk, analista sênior da Reams Asset Management.
O real brasileiro, que acumula alta de 11% frente ao dólar este ano, provavelmente sofreria em um cenário de aversão ao risco provocado por tarifas, disse ela.
“O mercado meio que se adiantou demais e está ignorando completamente os riscos comerciais ou políticos relacionados a Trump”, disse Aaron Gifford, analista sênior de dívida soberana emergente da T. Rowe Price. “Seria prudente os investidores realizarem algum lucro.
(Por Vinícius Andrade, Zijia Song e Maria Elena Vizcaino)