Apesar das incertezas com o futuro da China, o rali do minério de ferro no exterior vem colocando de volta sob os holofotes as ações de exportadoras brasileiras de commodities, como Vale (VALE3) e siderúrgicas. Enquanto isso, a cotação do petróleo caminha em direção oposta, após frustrar expectativas e se afastar da marca simbólica de US$ 100 o barril, colocando Petrobras (PETR3; PETR4) sob pressão na B3.
O que chama a atenção é que enquanto o rali do petróleo antecedeu o ataque terrorista do Hamas contra Israel no início de outubro, com o barril atingindo a máxima do ano em meados de setembro, a disparada recente nos preços do minério de ferro se dá apesar da desconfiança com a China, onde o setor imobiliário ainda é um grande obstáculo à economia.
Aliás, a ação da Vale acumulava alta de 6,16% em novembro, acompanhando o rali do minério de ferro no mês. De quebra, impulsiona o Ibovespa, aliviando parte da pressão vinda do petróleo sobre a ação preferencial da Petrobras que, ainda assim, registra valorização de 4,15% no período.
Porém, o desempenho destoante entre as cotações do minério e petróleo vem sendo observado desde a virada do terceiro para o quarto trimestre (vide abaixo).
De um lado, o contrato futuro mais negociado do minério de ferro no mercado futuro chinês, em Dalian, referente a janeiro de 2024, atingiu na semana passada o maior valor desde agosto de 2021, ultrapassando a faixa de 960 yuans a tonelada métrica, após ajustes – o equivalente a pouco mais de US$ 130.
Já no mercado à vista em Singapura, o metal vermelho atingiu na segunda-feira (13) a máxima desde março, a US$ 128,80 a tonelada métrica, depois de três semanas seguidas de alta. Por outro lado, o petróleo retrocede aos menores níveis desde meados de julho, com o barril tanto do WTI quanto do Brent tentando se segurar na faixa de US$ 80.
China traduz os números
Diante desse comportamento díspar, os investidores voltaram a ficar mais atentos aos sinais de enfraquecimento da economia global. Afinal, é essa preocupação somada à expectativa de maior oferta que derruba os preços do petróleo, levando junto as petrolíferas.
Isso porque embora os dados recentes sobre atividade e inflação nos Estados Unidos não apontem para uma recessão, os números vindos da China emitem alerta sobre a perda de tração mundo afora. É essa mensagem – em chinês – que as commodities estão traduzindo.
Isso porque depois de registrar queda nas exportações pelo sexto mês seguido e maior que o esperado, os índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) chinês caíram mais uma vez – e mais que o previsto. No entanto, não é que a China vive uma deflação.
O que a segunda maior economia do mundo enfrenta é fraqueza na demanda, tanto interna quanto externa, sendo que esse baixo consumo se reflete em queda nos preços. Mas se o governo chinês pouco pode fazer para impulsionar as compras vindas do exterior, sabe-se que a “mão visível” do Estado é capaz de estimular a atividade doméstica.
Os indicadores econômicos divulgados na noite da última terça-feira (13) reforçam essa estratégia. As vendas no varejo chinês cresceram 7,6% em outubro, em base anual, acelerando-se em relação à alta de 5,5% no período e ficando acima do esperado (+7%). O mesmo ocorreu com a produção industrial, que subiu 4,6%, de +4,5% em setembro.
“Tomando os dados em conjunto, a sensação geral é de que a economia chinesa ainda está em dificuldades, mas está caminhando lentamente em uma direção mais positiva”, comenta o ING, em relatório. Porém, o grupo holandês alerta que os efeitos disso para o restante da economia mundial, é que as taxas de crescimento global seguirão “mornas”.
Daí porque o preço do minério de ferro se manteve acima da marca de US$ 100 durante a maior parte deste ano. Os estímulos à infraestrutura mantêm a procura por metais industriais, ao mesmo tempo em que a fraqueza do setor imobiliário chinês deixa os estoques nos níveis mais baixos em sete anos.
“Apesar da crise imobiliária na China, o governo chinês avançou com uma série de medidas de estímulo para reverter as dificuldades da economia, o que tem apoiado o minério de ferro”.
Ewa Manthey, estrategista de commodities do ING.
Além disso, a China está ponderando adotar medidas mais significativas para resgatar as incorporadoras. “As medidas anunciadas até agora carecem de força e foram muito fracas para reverter a profunda crise no setor imobiliário. Então, seguimos ansiosos para que essas e as anteriores funcionem”, afirmam em relatório as analistas da Ásia do Julius Baer, Magdalene Teo e Esther Yong.
Olhando para o minério de ferro, o sucesso dessas políticas parece certo.
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