O balanço do Bradesco (BBDC3 e BBDC4), referente ao quarto trimestre de 2021, decepcionou o mercado. Não à toa, as ações preferenciais (BBDC4) da instituição despencaram nesta quarta-feira (9), um dia após a divulgação dos números, e chegaram a cair 9,75% no pior momento do dia, negociadas a R$ 20,70. No fim do pregão, a ação ordinária (BBDC3) da companhia caiu 8,80%, enquanto a preferencial cedeu 8,58%.
A maior decepção ficou por conta do lucro recorrente de R$ 6,613 bilhões, que recuou 2,8% ante o mesmo período de 2020 e ficou abaixo das previsões da maior parte das casas de análise (veja quadro abaixo). Sem levar em conta ajustes, o lucro caiu 42% no comparativo anual, para R$ 3,17 bilhões, em razão de reprecificação de ativos de tesouraria, despesas ligadas a redução da rede de agências, entre outros fatores.
Lucro de R$ 6,613 bilhões do Bradesco ficou abaixo das estimativas do mercado | ||
Casa de investimento | Lucro projetado para o 4° trimestre | Diferença entre o valor estimado e o reportado pelo Bradesco |
Inter | R$ 6,739 bilhões | -1,90% |
BofA | R$ 7,081 bilhões | -7% |
Ativa | R$ 7,249 bilhões | -8,80% |
BTG Pactual | R$ 6,868 bilhões | -3,70% |
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), que é quanto o banco consegue rentabilizar com base no patrimônio que possui, também recuou 2,5 pontos percentuais em relação ao resultado do quarto trimestre de 2020, ao atingir 17,5%.
As casas de investimentos pontuaram as provisões para devedores duvidosos (PDDs, reservas financeiras mantidas pelos bancos para casos de inadimplência dos clientes) e as despesas operacionais acima do previsto como as grandes responsáveis pelo número decepcionante reportado pelo banco.
Por outro lado, a carteira de crédito expandida do Bradesco cresceu 18,3% nos últimos três meses de 2021 ante o mesmo intervalo do ano anterior, para R$ 812,6 bilhões, o que foi considerado como um ponto positivo por analistas do mercado.
O Bradesco também divulgou guidance (projeção para o ano de 2022). A expectativa é de um crescimento entre 10% e 14% para carteira de crédito; entre 8% e 12% na margem com clientes; de 2% a 6% na receita de prestação de serviços; de 3% a 7% em despesas operacionais, e ainda entre R$ 15 milhões e R$ 19 bilhões em PDDs.
Confira abaixo a visão de cinco casas de investimentos sobre os números apresentados pelo Bradesco:
Inter Research
Em relatório, Matheus Amaral, analista do Inter Research, apontou que o bom resultado vindo do desempenho positivo da margem financeira e do resultado com seguros foi compensado por maior custo com PDD, que acompanhou o crescimento da carteira de crédito. O analista também mencionou as despesas operacionais, que foram pressionadas pelo acordo coletivo realizado em setembro, maior participação nos resultados e por gastos não recorrentes como fatores que contribuíram para um lucro mais fraco.
Em relação ao novo guidance (projeções) para 2022, Amaral acredita que haverá uma maior pressão no custo com PDD, o que deve implicar em um resultado para 2022 em linha ou abaixo das expectativas do Inter de cerca de R$ 28,7 bilhões para o ano.
“Acreditamos que o banco deve apresentar um ano de recuperação nos resultados com seguros, mas com manutenção do desempenho bancário, o que deve manter seu atual nível de lucratividade e ROAE (retorno sobre patrimônio médio) em torno de 18%. Contudo, ainda observamos uma oportunidade de melhora nos indicadores de eficiência operacional, que comparado aos pares é um pouco mais elevado”, afirmou o analista.
O Inter manteve recomendação de compra para os papéis BBDC4, com preço-alvo para 2022 em R$ 28.
Ativa Investimentos
Para Leo Monteiro, da Ativa Investimentos, o Bradesco apresentou um resultado misto, com margem financeira gerencial em linha com as expectativas da casa, mas resultado operacional e lucro líquido abaixo em função de maiores “despesas operacionais e tributárias”.
De positivo, o analista destacou o crescimento robusto na carteira de crédito e o aumento na margem financeira, que superaram o guidance no acumulado do ano. “Por outro lado, as despesas operacionais decepcionaram, subindo 1,1% no ano, acima da projeção de queda entre 1% e 5% no período”, explicou Monteiro.
Além disso, embora ainda em patamares bem acima da série histórica, os indicadores de qualidade de crédito apresentaram deterioração no período. Por fim, o guidance para 2022 foi considerado “factível” pelo analista da Ativa e, de maneira geral, semelhante às projeções da casa de investimento para o ano.
“Apesar do resultado, ainda gostamos do case do Bradesco. O atual nível de cobertura do banco e a boa colateralização de sua carteira de crédito devem suportar o aumento na inadimplência ao longo de 2022. Além disso, gostamos dos constantes ganhos de eficiência operacional e de sua receita bem diversificada, com relevante participação da operação de seguros. Diante disso, mantemos a recomendação de compra enquanto revisamos o valuation com os números e projeções mais atualizadas”, reiterou Amaral.
A Ativa tem preço-alvo de R$ 25,40 para os papéis preferenciais do Bradesco.
BofA
Mario Pierry, Flavio Yoshida, Antonio Ruette e Ernesto Gabilondo, do Bank of America (BofA), mencionaram que a queda no lucro do Bradesco refletiu encargos de provisão (13% acima das expectativas do banco de investimentos) e despesas (5% superiores). Do lado positivo, os analistas da casa de investimento pontuaram que a margem financeira liquida com clientes (NII) aumentou 12% no comparativo anual, evidenciando a melhoria dos spreads (diferença entre custo pago pela instituição financeira para captar recursos e quanto ela cobra quando empresta dinheiro).
A equipe do BofA reiterou que o lucro líquido reportado de R$ 3,2 bilhões inclui uma perda de R$ 1,9 bilhão com a reclassificação de ativos, que foi tratada como não recorrente, mas provavelmente enfrentará resistência dos investidores.
“Embora esperemos uma reação negativa do mercado aos resultados fracos e às orientações decepcionantes, especialmente após o forte desempenho das ações no acumulado do ano (de 18%), reiteramos nossa classificação de compra em uma avaliação atraente e seu perfil de ganhos defensivos”, disseram os analistas.
A equipe do BofA informou que o guidance para 2022 implica um crescimento de 8% do lucro líquido, abaixo da estimativa da casa de 12%.
O BofA manteve preço-alvo de R$ 29 para os papéis preferenciais do Bradesco.
BTG Pactual
Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, do BTG Pactual, pontuaram que os números reportados pelo Bradesco foram mais fracos do que o esperado. “Além da perda de resultados, a qualidade dos lucros foi pior do que o esperado e o valor contábil não cresceu muito em 2021”, explicou a equipe do banco de investimento.
Além disso, na visão dos analistas, as expectativas para o guidance de 2022 podem ter sido “excessivamente” otimistas e, na verdade, decepcionaram. Dado o cenário macro e o que foi observado no quarto trimestre, a equipe do BTG acredita que o guidance de provisão para 2022 parece ter mais risco de queda do que de alta.
“Portanto, apesar de nossa visão mais positiva para os bancos incumbentes este ano, não esperamos uma reação positiva do mercado hoje”, disseram os analistas. A equipe do banco afirmou esperar que o Itaú (ITUB3 e ITUB4) apresente o melhor conjunto de resultados do quarto trimestre.
O BTG tem preço-alvo de R$ 29 para as ações preferenciais do Bradesco.
Levante Investimentos
Na opinião da equipe da Levante Investimentos, o resultado do Bradesco abaixo das expectativas parece seguir a tendência de outros bancos no quarto trimestre, como o Santander (SANB11) .
“No entanto, devemos destacar o crescimento de mais de 23 % na carteira de pessoas físicas em relação ao quarto trimestre de 2020”, pontuou a casa ao reiterar que a margem financeira teve uma alta de 8% em relação ao terceiro trimestre de 2021, terminando o período na casa dos R$ 17 bilhões. Na comparação anual, houve um crescimento de 1,8 % novamente devido a uma boa performance de margem com clientes.
Entretanto, na opinião da Levante, os números apresentados pelo Bradesco “acendem” o sinal amarelo para os resultados dos bancos, uma vez que é o segundo banco que entrega resultados abaixo da expectativa do mercado e com tendências semelhantes (melhores) às observadas no resultado do Santander. “Dessa forma, esperamos impacto negativo nas ações do banco no curto prazo”.
A Levante também lembrou que os principais motivadores que seguraram o resultado do Bradesco foram a continuação da recuperação das operações de seguros e o desempenho das receitas com a margem financeira com clientes e prestação de serviços, em contrapartida com maiores despesas com PDD.