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Finanças

PCAR3 e ASAI3: 6 perguntas sobre a cisão de Pão de Açúcar e Assaí

Especialistas comentam o que esperar das ações após disparada e tombo no dia anterior.

GPA vende lojas ao fundo Barzel, que alugará imóveis ao Assaí

Muito esperada pelos investidores, a cisão do Pão de Açúcar e Assaí movimentou os mercados na segunda-feira (1), dia de estreia dos papéis do braço de atacarejo do grupo. Com forte oscilação atípica , os papéis ASAI3 chegaram subir mais de 400% e PCAR3 chegou a cair mais de 70% durante o pregão. Nesta terça (2), em dia negativo para a bolsa como um todo, os papéis têm queda perto de 1% e 4%, respectivamente.

Na segunda, as ações ASAI3 fecharam cotados a R$ 71,40, com valorização de 385,72%. Já PCAR3 fechou em baixa de 65,84%, cotado a R$ 23,33. O movimento veio no primeiro dia de negociações de ASAI3 e meses após os acionistas do Grupo Pão de Açúcar (GPA) e de sua subsidiária Sendas aprovarem a proposta de reorganização societária para cindir a unidade Assaí.

De acordo com dados da Economatica Brasil, o valor de mercado do Grupo Pão de Açúcar antes da cisão era de R$ 22.253 bilhões até sexta-feira (26). Para comparação: após o fechamento de segunda, o valor do Assaí era de R$ 19.160 bilhões, enquanto o Pão de Açúcar voltou praticamente ao patamar de uma smallcap, com R$ 6,255 bilhões.

No entanto, especialistas apontam que é preciso ter em mente que a valorização ou desvalorização incomum das empresas foi apenas um movimento de reprecificação de mercado para as companhias, e tamanha volatilidade não deve se repetir com frequência nos próximos pregões.

É o que adverte José Falcão, analista de investimentos da Easynvest. “Essa alta de quase 400% de Assaí e o tombo de Pão de Açúcar não foi um movimento especulativo, ou não significa que a cisão deu errado. É apenas um reequilíbrio de preços do que o mercado acha que cada empresa vale”, explica.

Segundo o analista, a alta e queda das ações deve diminuir nos próximos dias conforme o preço das companhias for se ajustando ao nível que o mercado acha razoável.

Então, se o investidor estava eufórico pelo salto de quase 400% no Assaí ou preocupado pelo tombo do Pão de Açúcar, o lembrete dos especialistas é de que nesta terça é que começa a verdadeira história.

Por este motivo, o InvestNews procurou alguns analistas para esclarecer as principais dúvidas em relação à cisão e tudo o que o investidor precisa saber de agora em diante para avaliar os fundamentos de Pão de Açúcar e Assaí como duas companhias independentes. Confira.

1. O que é cisão e o que mudou no grupo?

Segundo Rodrigo Yamamoto, analista da Levante Investimentos, a cisão é a separação de uma empresa controladora da sua subsidiária em termos de controle acionário e balanço.

Seguindo a ordem de hierarquia, antes o Assaí ficava embaixo do Pão de Açúcar, sua controladora, que por sua vez respondia para o grupo varejista francês Casino.

Mas, com a cisão, o Assaí deixou de ser controlado pelo Pão de Açúcar e passou a responder também diretamente para o Casino. Na bolsa de valores, suas ações também são agora negociadas de forma independente com o ticker ASAI3. E a empresa agora possui balanço e indicadores financeiros próprios.

Desta forma, Pão de Açúcar não controla mais Assaí e ambas companhias terão operações individuais e resultados independentes.

2. Por que a estreia do Assaí não foi um IPO?

Apesar de a ação ASAI3 ter estreado na segunda na bolsa, é importante entender que a cisão não foi considerada uma IPO (oferta pública inicial de ações) do Assaí.

Segundo Bruna Amalcaburio, analista de investimentos da Top Gain, o Grupo Pão de Açúcar era composto por diversas marcas, como Extra, Pão de Açúcar, Compre Bem, Grupo Éxito e o Assaí. Mas, com a cisão, o Assaí foi separado e não integra mais o grupo. “Então, no lugar de fazer um IPO, eles criaram a negociação em bolsa do Assaí a partir da segunda-feira (1)”, aponta.

Ela explica que o Assaí tinha cerca de 17,7% do capital do Grupo Pão de Açúcar. Então, na hora da cisão, foi calculado esse percentual sobre o valor de fechamento das ações PCAR3 na sexta-feira (26), que foi de R$ 83. Desta forma, as ações do Assaí estrearam com esses 17%, um valor equivalente a R$ 14,70.

Segundo Yamamoto, da Levante, se a cisão for comparada com o IPO da CSN Mineração, o formato é totalmente diferente. “A CSN ainda controla a subsidiária CSN Mineração, e isso não ocorre mais entre Pão de Açúcar e Assaí”, explica.

3. O que muda para o investidor?

Quem tinha investimentos nas ações do Pão de Açúcar (PCAR3) até sexta-feira (26) acordou na segunda com a mesma proporção de ações do Assaí (ASAI3).

Um investidor que tinha 100 ações do PCAR3 agora tem também 100 ações do ASAI3, exemplifica Bruna.

Mas o que muda é que agora são ativos independentes. Então, por exemplo, se o investidor vender 1 ação do Assaí, estará vendendo apenas Assaí, e não Pão de Açúcar, e vice-versa.

Ela também explica, que na declaração do próximo Imposto de Renda (com ano-calendário de 2021), as ações recebidas do Assaí deverão ser declaradas como bonificação de bens e direitos das ações da Rede Assaí. “Lembrando que a declaração só ocorre em 2022, porque a entregue agora é referente aos investimentos de 2020”, esclarece a analista

4. Quem já era acionista perdeu ou ganhou dinheiro?

Para o investidor que ficou confuso sobre a situação das suas ações, Pedro Serra, da Ativa Investimentos, afirma que a forte alta e queda dos papéis no primeiro dia nada mais foi que um ajuste de mercado.

No caso do Pão de Açúcar, as ações PCAR3 despencaram porque a companhia perdeu um pedaço, enquanto os papéis do Assai dispararam pela percepção dos investidores de um novo ativo que passou a ser listado sozinho como uma empresa separada. “Daqui em diante, o investidor de Assaí precisará percorrer a história da empresa, quantas lojas ainda vão abrir e fazer toda a análise, pois está investindo em uma nova companhia”, aponta Serra.

Para saber se o investidor ganhou ou perdeu dinheiro com a estreia de ASAI3, a conta é simples: o cálculo deve ser realizado com a soma das partes. Por exemplo, se um investidor tinha uma única ação de Pão de Açúcar (PCAR3) na sexta-feira (26), tinha R$ 83. Após o fechamento da segunda-feira, a soma deve unir os dois ativos. Então, considerando as cotações de fechamento, o investidor ficou com R$ 71,40 do ASAI3 e R$ 23,33 do PCAR3, um total de R$ 94,73. Se comparado ao valor que o investidor tinha na sexta-feira, ele ganhou R$ 11,73.

Para um número de ações maior, basta multiplicar. A somatória vale apenas para o valor obtido na segunda-feira, dia da estreia. A partir desta terça (2), a valorização das companhias deve ser considerada de forma independente, assim como seu retorno.

5. Ainda vale a pena investir em PCAR3?

Segundo Yamamoto, da Levante, a forte queda dos papéis do Pão de Açúcar nesta segunda-feira não deve preocupar o investidor. Isso porque a companhia passou por um rebalanceamento. Agora, o investidor precisará enxergar se vale também a pena investir em Assaí como ativo.

Olhando para a análise dos fundamentos de Pão de Açúcar, Yamamoto explica que não há muitas mudanças nas métricas da companhia de varejo. O investidor precisará ficar atento à evolução de receita líquida do Pão de Açúcar, perspectivas de crescimento da companhia e a rentabilidade em relação as margens.

“Quem investe em Pão de Açúcar precisará analisar o comportamento das operações do grupo e a rentabilidade de todas as operações, que inclui também o Extra, Compre Bem e a operação da América Latina do Grupo Éxito. Além da estratégia digital do grupo”, avalia o analista.

Olhando para o preço da ação, Falcão, da Easynvest, afirma que a melhor métrica para identificar se o ativo está barato ou caro é a relação entre preço e lucro (PL) da companhia e suas concorrentes.

Segundo o analista, na segunda-feira, o Pão de Açúcar (PCAR3) estava sendo negociado aproximadamente a 10x Preço/Lucro, enquanto os seus principais concorrentes, Carrefour (CRFB3) e Grupo Mateus (GMTA3), eram negociados acima de 20x preço/lucro.

“Se olhar os concorrentes, o Pão de Açúcar está descontado e tem uma expectativa de crescimento maior”, conclui Yamamoto. Desta forma, investidores que aplicam por estratégia de valorização poderiam ser beneficiados. Contudo, ele adverte que é preciso ficar atento aos desdobramento das ações do grupo nos próximos dias. “Às vezes a pressão da ação foi pontual pela cisão”, destaca.

No entanto, olhando setorialmente, ele enxerga potencial no setor de varejo alimentar, que passa por um momento de consolidação dos players, em que as empresas grandes estão ganhando o mercado rapidamente. “O Grupo Pão de Açúcar sem o Assaí terá um ganho forte de rentabilidade, além da sua estratégia de digitalização, o que vai a ajudar a voltar a se expandir”, diz.

6. Ainda vale a pena investir em ASAI3?

Já para o Assaí o caminho é inverso, segundo os especialistas. O fato da companhia ter saltado mais de 400% na segunda-feira não significa que é o fim da valorização a curto e médio prazo.

Embora a companhia esteja um pouco esticada, negociando no patamar de 14,5x Preço/Lucro, os seus principais concorrentes (Grupo Mateus e Carrefour, que também contam com unidades de atacarejo) estão acima de 20x Preço/Lucro.

Para Yamamoto, o salto de mais de 400% foi incomum para o mercado financeiro, mas reflete o reajuste feito pelo próprio mercado para a companhia. “Antes da cisão se falava que o preço do Pão de Açúcar estava barato e a operação do Assaí poderia até valer mais do que o grupo todo”, explica.

De olho nesse reajuste, o mercado precificou um valor que achava justo para o Assaí, e que destravou nesta segunda-feira. “Eles tiraram o valor contábil e deixaram o mercado precificar da forma correta, essa foi a causa dessa alta vertiginosa na bolsa”, afirma.

Yamamoto destaca que a partir desta terça pode começar um novo ciclo de estabilidade nos preços das ações. No caso do Assaí, prevalecem os fundamentos de expectativa de crescimento, geração de caixa, margem e o múltiplo de preço e lucro comparado com os concorrentes do varejo. “A companhia segue em expansão forte, abrindo 20 novas lojas por ano e um ganho de escala e rentabilidade de forma constante, e ainda tem espaço para crescer”, avalia.

Se olharmos para os múltiplos de 14,5x Preço/Lucro, concorrentes como o Grupo Matheus já negociam a 22 vezes. “Isso já aponta uma projeção de crescimento de Assaí para 2021, mas é importante olhar a expectativa da companhia”, diz.

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