O pedido de impeachment de Jair Bolsonaro protocolado no final da tarde desta quarta-feira (30) pouco mexeu com dólar e Ibovespa. Apesar do cenário político conturbado, com denúncias de corrupção no governo na compra de vacinas, analistas ouvidos pelo InvestNews não esperam que o contexto político traga movimentos bruscos ao mercado financeiro – ao menos no curto prazo. O motivo é a falta de perspectivas de que um impeachment ocorra de fato.
Batizada de “superpedido” de impeachment, a medida foi tomada por partidos e parlamentares de diversos campos ideológicos, incluindo de direita, além de movimentos sociais, entidades e pessoas físicas, que apontam crimes cometidos por Bolsonaro desde o início do mandato. O pedido se soma a vários outros já feitos desde o início do mandato.
“Quem aceita pedidos de impeachment é o presidente da Câmara e, neste mandato, já foram enviadas mais de 100 solicitações, todas ignoradas pelo Arthur Lira (PP-AL), atualmente no comando da Casa. Por agora, o cenário não muda, apesar da ação simbólica de chamarem de ‘superpedido’”, comentou Felipe Berenguer, analista político da Levante.
Aldo Filho, analista da Aware Investments, acrescenta que “é sabido que o líder da Câmara é aliado do presidente, assim como o do Senado, e temos pautas relevantes, como a Reforma Tributária, a serem apreciadas”. “Acredito que não serão deixadas de lado para análise deste pedido de ex-aliados e oposição”, afirma.
Outro fator que alimenta as previsões do mercado de que não haverá impeachment de Bolsonaro é o calendário, comenta Caio Kanaan Eboli, sócio e diretor operacional da mesa proprietária Axia Investing. “Outro ponto a favor de Bolsonaro é o calendário de trabalhos da CPI, que deve se estender até o segundo semestre, e acredito que será tarde para iniciar um processo de impeachment – praticamente às vésperas do início do ano eleitoral”, diz ele.
Mercado financeiro x crise política
Fatos como denúncia de corrupção e pedido de impeachment “é o tipo de notícia que o investidor terá que se acostumar a partir de agora, conforme se aproxima o ano eleitoral que será enormemente polarizado, somado a um alto desemprego e um país ainda traumatizado pela covid-19”, diz João Beck, economista e sócio da BRA.
O especialista acredita que, para o investidor, “vai ser muito difícil separar notícias de impacto ou simples ruídos passageiros”.
Apesar de não acreditar que o mercado sofra forte impacto pelo noticiário político neste primeiro momento, Aldo Filho ressalva que “qualquer indício de descontentamento com o governo é motivo de alerta, e parte disso foi refletido na curva de juros hoje”. “Mas ainda há um caminho longo a percorrer para que haja efetivamente o impeachment do presidente”, diz ele.
Eboli diz que “tudo isso não significa que a CPI da Covid será um paraíso e com certeza será um desgaste para o governo e para o presidente”, mas também vê o impeachment como uma possibilidade improvável.
Nesse sentido, a expectativa é de que a tendência do mercado financeiro não seja alterada neste momento pela política, conforme afirma Rossano Oltramari, sócio e estrategista da 051 Capital. “Eu não acredito que esse pedido possa vir a afetar, mudar uma tendência do mercado. A não ser que tenhamos algum movimento mais consolidado, um fato novo que possa criar um ambiente para um impeachment. Eu, hoje, não vejo esse ambiente.”
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