O volume de negociações na bolsa brasileira, a B3, vem caindo nas últimas semanas. Segundo a provedora de dados financeiros Economatica, o montante está diminuindo desde a semana terminada em 26 de fevereiro e, desde então, já foi reduzido em mais de 45%. Até agora, já foram 6 semanas seguidas de queda no volume negociado – a maior sequência já registrada.
Na semana terminada em 9 de abril, o volume médio diário de negociações ficou em R$ 24 bilhões, segundo a Economatica. O número fica abaixo da média de janeiro (R$ 28 bilhões), fevereiro (R$ 33 bilhões) e março (R$ 32 bilhões).
Analistas e operadores do mercado têm dito que a queda no volume negociado na bolsa reflete o clima de incertezas no mercado, com investidores evitando se expor em meio a persistentes dúvidas sobre a situação fiscal, cenário político conturbado e piora da situação da pandemia da covid-19. Os receios pesam especialmente sobre investidores estrangeiros.
Isso ajuda a explicar por que investidores de fora seguem puxando uma saída líquida do mercado acionário secundário brasileiro. Até o dia 7 de abril, o saldo estava negativo em R$ 47,7 milhões. No mês de março, o déficit foi de R$ 4,6 bilhões. Em fevereiro, de R$ 6,8 bilhões.
Cenário interno
José Falcão, analista de renda variável da Easynvest, aponta que as incertezas do cenário interno podem, sim, motivar uma queda do volume de negócios. “Porém, pode ser algo temporário, um ajuste, e quando a economia reabrir deve dar uma puxada no volume”, diz ele.
Existem também fatores mais técnicos que podem motivar essa tendência. Um deles é a volta do after market. Para acompanhar o fechamento das bolsas nos Estados Unidos durante o horário de verão por lá, a bolsa brasileira passou a fechar mais cedo, e “o mercado perde quase uma hora de liquidez por dia”, conforme explica Falcão.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, cita ainda a redução da volatilidade como um fator que pode causar queda no volume negociado. Nos últimos 20 pregões, o Ibovespa não teve um fechamento com variação que chegasse a 2%. “Com menor oscilação, há menos expectativa de ganho ou perda. O risco cai e os agentes trocam menos de posição. Trocando menos de posição, fazem menos negócios”, resume.
Efeito Petrobras
Se o volume total negociado caiu 45% em 6 semanas na bolsa, considerando apenas a ação preferencial da Petrobras (PETR4) o tombo foi ainda maior: 79% de queda, ainda de acordo com a Economatica.
O montante passou da disparada de R$ 5,8 bilhões da última semana de fevereiro para R$ 1,1 bilhão na semana terminada em 9 de abril. O forte volume negociado no final de fevereiro coincide com o episódio da saída do então CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, após queixas do presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a política de preços da empresa.
O “efeito PETR4” também ajuda a explicar por que a bolsa como um todo bateu um pico de aumento no volume de negociações na última semana de fevereiro, já que o incidente afetou todo o mercado.
Os temores dos investidores sobre ingerência política fizeram com que os papéis da estatal despencassem na bolsa. No dia 22 de fevereiro, a ação PETR4 desabou 22%, a R$ 20,75. Desde então, acumulam alta de mais de 10%, para R$ 23,09 no fechamento desta quinta-feira (15). O papel, no entanto, ainda não recuperou o patamar anterior à desabada. No dia 19 de fevereiro, a ação valia R$ 26,44.