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Finanças

Real mais forte abre janela para aumentar posição em ativos dolarizados

Segundo CIO da Empiricus, ações americanas, em especial, ligadas a IA devem registrar ganhos expressivos em 2024.

Investidores estrangeiros voltaram a colocar dinheiro na B3, dado o cenário externo positivo para o Brasil. Corte de juros nos Estados Unidos, dólar mais fraco e China estimulando sua economia recolocam o Brasil na rota de investidores. E com uma inflação em nível historicamente baixo – o que favorece o real –, o preço das ações fica mais atrativo, abrindo espaço para alocar em bolsa brasileira. Mas os ativos em dólar perderam o apelo?

Embora a moeda norte-americana tenha desvalorizado, gestores e analistas avaliam que é prudente não esquecer sua força ao longo do tempo. Em momentos de euforia, o investidor local pode acabar deixando o dólar de lado, um impulsionador de ganhos em qualquer cenário – direta ou indiretamente.

Apesar de o real estar mais valorizado e com projeções do boletim Focus para o câmbio sendo revisadas para baixo, especialistas ouvidos defendem que o dólar não deve deixar de ser considerado um lugar seguro, especialmente durante tempestades econômicas e pelo fato de empresas americanas terem registrado elevados ganhos, em especial as de tecnologia na última década. 

João Piccioni, gestor de fundos e CIO da Empiricus, alerta para os ganhos expressivos que ativos atrelados ao dólar têm gerado nas carteiras.

Segundo a Economatica, o retorno do S&P 500 na última década foi de 161,5%. Excluindo o efeito do dólar e colocando em reais, o retorno seria de 23,35%. Isso mostra que o retorno oriundo do ativo em que se investe não depende única e exclusivamente dele, e que o dólar contribui – e muito. Já analisando 32 fundos cambiais nos últimos 10 anos, apenas um superou o retorno do índice americano no período.

No acumulado da década até quinta-feira (20), o índice DXY, que monitora a força do dólar frente a uma cesta de moedas, registrava alta de 25,5%. Em relação ao real, a moeda dos EUA (Ptax) valorizou 104,7% no mesmo período.

Mas quando se olha um prazo menor, o comportamento da moeda americana vai em sentido oposto. No acumulado de 2023, o indicador recuava 1,45%. Já frente ao real, o dólar depreciava 6,5% na mesma base de comparação.

“O dólar vinha em 2023 se fortalecendo bastante em relação a outras moedas, e o Brasil estava fora dessa toada. Os juros aqui estavam altos demais, enquanto nos EUA, investidores direcionaram recursos para bolsas americanas. Europa e Reino Unido estavam à beira de uma recessão. Agora, o cenário mudou e o dólar segue perdendo força”.

João Piccioni, CIO DA EMPIRICUS.

Segundo o gestor, a maré virou a favor do Brasil, valorizando o real por conta das exportações e crescimento do PIB puxado pelo agronegócio. Logo, um suporte tanto da política monetária quanto da economia real. “Somado a isso, o país segue como um dos primeiros a fazer um afrouxamento monetário mais rápido, o que favorece a entrada de capital, abrindo janelas de captações na renda fixa e variável”, disse. 

Sob esta ótica, o momento parece propício para o investidor começar a ter uma diversificação comprando um pouco de dólar dado o preço mais baixo, na visão do especialista. Porém, não parece razoável que investidores brasileiros se posicionem em fundos de dólar puros pelo alto carrego, especialmente por conta da Selic no primeiro trimestre do ano que virá.

“Ele [fundo] precisaria render pelo menos 6% no semestre, e não me parece razoável, dado o cenário positivo para o real”.

João PiccionI, CIO DA EMPIRICUS.

Onde investir, então?

No entanto, o gestor reitera que agora abre-se uma janela interessante para comprar ativos de risco nas bolsas americanas, assim como juros de longo prazo dos EUA. 

Isso porque as empresas americanas passaram por um processo de reestruturação de seus balanços neste ano, entrando “mais leves” em 2024 e capazes de gerar mais caixa para seus acionistas.

O CIO da Empiricus comenta que empresas de tecnologia são reconhecidas pelas altas despesas associadas a bonificação em ações de seus executivos, mas por conta do ano difícil, houve uma redução desses pagamentos. 

“Depois da grande recessão, com juros muito baixos, empresas de tecnologia cresceram e tiveram uma profusão de negócios na última década. Houve uma dinâmica propícia para atrair dólar. E se a inteligência artificial criar os mesmos mecanismos de geração de negócios da forma que vimos, o dólar deve ter uma vantagem em relação a outras moedas”.

João Piccioni, CIO DA EMPIRICUS.

Ainda assim, o gestor aponta que o investimento no S&P 500 talvez não seja o mais brilhante de todos, mas deve render bons frutos. Já para aqueles que gostam de tecnologia, há fundos comprados em ações do setor e que devem superar as “7 Magníficas” – “dado que o preço em bolsa das sete gigantes está elevado e tem empresas boas negociando a preços menores”, segundo Piccioni.

A Empiricus tem o fundo “Tec Select” cuja carteira conta com big techs e empresas de inteligência artificial. Ele sobe mais de 40% no ano, apesar do vento contrário do dólar. 

“No ano, o real valorizou 7,8% em relação ao dólar. Se o fundo não tivesse o efeito dolarizado, ele teria subido 50% no ano”.

Da mesma forma, a Verde Asset apontou em relatório que sua estratégia de ações em dólar no seu fundo global teve um impacto positivo de 7,59% em novembro, mas com o câmbio impactando negativamente o resultado em 2,43% no período. Em carta, a gestora aponta ter aumentado posições nos setores de tecnologia e defensivos.

Olhando para 2024, o gestor da Empiricus aponta que deve ficar no radar o quão rápido a economia americana desacelera,” isso porque no clima de recessão, muitos alocam em títulos do governo americano (Treasuries), considerados os mais seguros do mundo”.

Atualmente, paga-se menores taxas pelos títulos da dívida pública americana, o que fez  investidores passarem a aceitar correr mais riscos, gerando fluxo de investimento para outros países, principalmente  emergentes. Mas como Piccioni alerta, caso “dê ruim”, é para os braços das Treasuries que os investidores tendem a voltar. 

Por isso, o Wells Fargo prevê uma maior valorização do dólar pelo menos até o primeiro trimestre de 2024 “e talvez por mais tempo”. 

“Dado um cenário incerto à medida que avançamos para 2024, acreditamos que o dólar americano continuará a ser um lugar seguro para se estar, pelo menos nos próximos meses”.

wells fargo, em relatório.

A perspetiva de mais ganhos para a moeda decorre da resiliência da atividade nos EUA e da melhoria das perspetivas para uma “aterrissagem mais suave”, o que deixou aberta a possibilidade de uma nova subida dos juros pelo Federal Reserve (Fed). O banco não acredita em um corte inicial da taxa de juros americana antes do 1º semestre.

Isso contribui para rendimentos ainda altos das Treasuries, que ofereceram algum apoio direto ao dólar, bem como um apoio indireto de refúgio seguro.

Por essa entre outras coisas, Picciani acredita que a posição de dólar na carteira do investidor tem de ser perene, “já que a maior parte do consumo está atrelada ao dólar. Logo, diversificação entre renda fixa e variável deve estar na carteira, mesmo que através de fundos multimercados”. 

Para onde vai o dólar?

O gestor aponta que há chances de o dólar caminhar para os R$ 4,50 no 1º semestre. A projeção do relatório Focus para o câmbio se manteve em R$ 5 na última divulgação. 

Em relatório, o Bank of America projetou o dólar encerrando o próximo ano a R$ 4,75, com uma combinação de juros mais baixos pelo mundo com as fortes contas externas.

A XP também vê o dólar encerrando 2024 em um patamar similar, a R$ 4,80.

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