Ainda criança, o atuário Pedro (nome fictício) sentiu um baque com a morte do pai, executivo de multinacional e o responsável financeiro pela casa. Embora tenha deixado uma quantia razoável para os filhos, a família não tinha reservas para pagar os custos do inventário, que na época beirava os R$ 100 mil.
“A gente não tinha liquidez. Por mais que tivéssemos imóveis, não dava para vender. Levamos quase 20 anos para resolver a situação”, explicou o atuário, hoje com 42 anos.
Histórias como a de Pedro se repetem aos montes por aí. Quando a sucessão patrimonial não é feita em vida e o herdeiro não tem recursos para pagar o inventário, o caos financeiro se mistura ao luto pela perda do pai ou da mãe. Não importa se o familiar deixou um patrimônio gordo, enquanto a papelada não sai, não dá para vender os bens e nem mexer no dinheiro.
Custa caro resolver questões de herança. André Rezende, gerente de treinamento e experiência da Azos, empresa de tecnologia voltada para o mercado de seguros, estima que os gastos podem representar, em média, 15% do patrimônio.
Os herdeiros precisam pagar: o imposto sobre herança, chamado de ITCMD – que pode chegar a 8% do patrimônio em alguns estados –; honorários de advogado e custas de cartório.
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Na ponta do lápis, isso significa que quem herda um patrimônio de R$ 7 milhões vai precisar desembolsar cerca de R$ 1 milhão. “Quando a pessoa não tem esse dinheiro, ela tem que dilapidar o que tem. Tem que vender casa, carro e, muitas vezes, pedir empréstimo, para poder desenrolar toda a parte do inventário”, explica Rezende da Azos.
A contratação do seguro de vida para fins de sucessão é um caminho recomendado por especialistas para evitar esses transtornos.
O pagamento aos herdeiros é isento de imposto de renda e traz alívio financeiro nas horas difíceis, já que as seguradoras costumam pagar a indenização menos de 30 dias após a data do falecimento.
Além disso, é possível acionar o seguro por morte, por exemplo, 24 horas após o pagamento da primeira parcela. “É o que a gente chama de alavancar o patrimônio. O beneficiário pode ter desembolsado somente R$ 130, mas pode receber R$ 1 milhão” caso venha a acontecer uma fatalidade, diz o especialista da Azos.
A lógica de pagar um valor menor do que o recebido é a mesma dos demais seguros. “A gente lida com probabilidade [uns vão usar, outros não]. É diferente de um investimento financeiro, que você coloca R$ 1 milhão, para ter R$ 1 milhão ou mais”, explica Bernardo Castello, membro da comissão de produtos de risco da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
Diferentemente da herança, que é dividida entre os herdeiros, o seguro de vida não necessariamente precisa seguir o mesmo caminho. Quem contrata a apólice pode indicar qualquer pessoa para receber o dinheiro – seja ou não da família.
Confira abaixo quanto custa, em média, contratar um seguro de vida; como eles funcionam e os fatores que podem impactar nos preços e decisões das seguradoras.
Como escolher?
Há uma série de seguros disponíveis no mercado, com o pagamento de indenizações para diferentes situações. A cobertura por morte, também chamada por especialistas como “cobertura para inventário”, é a que mais ajuda na hora de resolver os tramites da herança.
Os especialistas recomendam escolher um valor de cobertura (indenização que a seguradora vai pagar) que corresponda entre 15% e 20% do patrimônio – justamente o que se espera gastar com o pagamento de impostos e documentação para fazer o inventário.
É importante frisar que o seguro pode ser vitalício ou temporário. O vitalício – como o próprio nome sugere – é válido pela vida inteira e não precisa ser renovado.
Já os seguros temporários têm prazo para terminar (quem contrata pode escolher o período de validade) e são indicados para situações mais específicas. “Pais que têm filhos em idade escolar podem contratar uma cobertura que acompanhe esse período, para que os filhos tenham algum suporte financeiro em caso de falecimento”, afirma André Rezende, da Azos.
Em ambos os casos, o prêmio pago (mensalidade) é ajustado anualmente com base na idade do segurado e por um indicador de inflação – em geral o IPCA.
Vale lembrar que algumas opções temporárias, que não renovam automaticamente, são excluídas automaticamente no fim do prazo de vigência. Se isso acontecer, o cliente que quiser continuar segurado, vai precisar contratar uma nova apólice, o que exigirá uma nova avaliação pela seguradora. “Dependendo de como estará a saúde da pessoa na data, pode ser que a seguradora não aceite vender uma nova apólice”, diz Rezende.
Na prática, o especialista da Azos explica que como há uma chance maior do pagamento de uma indenização – seja por doença, invalidez ou morte – a empresa pode entender que não é mais vantajoso ter aquele cliente.
Há produtos, porém, que não são vitalícios, mas que podem ser renovados e que ‘congelam’ o risco do cliente, permitindo a continuidade da apólice. “Nesse caso, há apenas um reenquadramento etário, qualquer mudança que se tenha no estado de saúde, por exemplo, não é alterada na apólice”.
Custos
A esteticista Bianca Reis, de 46 anos, decidiu contratar um seguro de vida este ano. A luz amarela ascendeu depois que sua mãe faleceu vítima de um câncer no fígado. “O falecimento dela mexeu bastante com a gente, porque ela não teve sintomas. Por mais que a gente nunca espere, pode acontecer.”
Mãe de três filhos, dois ainda pequenos, Bianca paga cerca de R$ 57 por mês na apólice, que inclui cobertura por morte, acidente, invalidez e assistência funeral, no valor de R$ 56 mil. “É para que elas tenham um mínimo de segurança caso eu venha faltar, a minha ideia é aumentar esse valor”, diz.
A exemplo do valor pago pela esteticista, os seguros, em geral, não costumam pesar no bolso – embora existam muitas variáveis que podem encarecer a apólice.
Simulação feita pela Azos a pedido do InvestNews mostra que uma mulher de 40 anos precisa desembolsar cerca de R$ 100 por mês em um seguro com renovação automática – para ter acesso a uma cobertura de R$ 1 milhão, por exemplo. Veja outros exemplos abaixo:
O cálculo acima considera pessoas que trabalham em escritório; não fumantes e sem questões de saúde pré-existentes. Mas os hábitos de vida, peso e idade podem encarecer a apólice.
“O segurador vê o histórico de saúde daquela pessoa para poder estipular o valor que ela vai pagar. Quanto mais debilidade, mais caro fica. Um fumante pode pagar de 10% a 30% a mais, por exemplo”, diz Patricia Zacarias, do Grupo É Seguro, ao lembrar ainda que quanto mais jovem uma pessoa contrata um seguro, menor será o desembolso.
O preço também aumenta à medida que novas coberturas são adicionadas à apólice. Simulação feita pela É seguros mostra que ao adicionar outras coberturas, além de morte – como invalidez por acidente ou doença, pagamento de despesas médicas, funeral, doenças graves e diária por internação hospitalar – uma mensalidade de R$ 100, se levado em conta uma pessoa de 40 anos e não fumante, pode saltar para R$ 285, quase o triplo.
Seguro resgatável
Um seguro que também pode ser usado para situações pontuais – como o pagamento da escola dos filhos no caso da falta dos pais – é o resgatável. Na prática, ele funciona num modelo híbrido: você paga pela cobertura de seguro que deseja e por uma parte que pode ser resgatável no futuro.
“Tudo que você pagar a mais, eu [seguradora] guardo e te dou no final”, explica Bernardo Castello Branco, membro da comissão de produtos de risco da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).
Patricia Zacarias, gestora de vida do Grupo É Seguro, explica que assim como ocorre com o seguro temporário, no resgatável, o segurado escolhe por quantos anos quer pagar. No final do prazo, caso não usufrua da cobertura – seja por morte ou invalidez, por exemplo – ele escolhe se quer usar os recursos para manter o seguro ativo ou embolsar parte do valor. “Geralmente, o valor gira em torno de 35% do que a pessoa pagou. Vem crescendo muito a procura por esse seguro, já que o contratante tem um valor para receber, enquanto o normal é pagar e não receber”, conclui.
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