Desde que surgiu, em 1973, a corretora de seguros Wiz Soluções (WIZS3) mantinha uma relação “monogâmica” com a Caixa Seguridade (CXSE3), intermediando a venda de seguros do banco pelo sistema bancassurance. A dependência dessa relação para a receita era da ordem de 70%. No entanto, em 2018 o banco “rediscutiu a relação” e procurou um novo prestador de serviços, a partir de 2021. Desde então, a companhia precisou se reinventar.
Apesar do relacionamento de 47 anos com a Caixa Seguridade, a Wiz não foi escolhida como co-corretora no balcão de seguros do banco, perdendo para a concorrente Alper (APER3) os produtos das linhas de saúde, grandes riscos, automóveis e recuperação em produtos de seguridade, que representavam 44,5% da receita da Wiz. O fato preocupou investidores sobre o futuro da companhia.
Esta matéria faz parte da série Small Caps InvestNews, que trouxe a cada semana um panorama sobre as ações de empresas com grande potencial de valorização na B3. Veja abaixo tadas as publicações:
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- Aura Minerals (AURA33): 1ª mineradora de ouro na B3 é refúgio na crise
- Kepler Weber (KEPL3), a small cap conhecida como celeiro do Brasil
- Brasil Agro (AGRO3) lucra recuperando fazendas improdutivas
Ciente de que seria preciso mudar o modelo de negócios da empresa, Heverton Peixoto, CEO da Wiz Soluções, começou a se mexer ainda em agosto de 2018, quando a Caixa comunicou o processo competitivo. “Falamos que era crueldade a Caixa fazer um processo e a Wiz ser obrigada a trabalhar apenas com ela”, afirmou em entrevista ao InvestNews. Foi quando a empresa pediu liberação para trabalhar com outros bancos e seguradoras.
Foi o começo de uma metamorfose para a Wiz, que começou uma jornada árdua de aquisições nos últimos 2 anos e meio, em todas as linhas e segmentos possíveis, de seguros ao bancassurance e com as mais diversas companhias. A primeira foi a joint venture com o Inter Seguros, no qual a Wiz detém 40% de participação.
A parceria fechada em 2019 segue o formato de appassurance (comercialização de seguros via aplicativo do banco). Segundo Peixoto, é a operação mais completa do Brasil e do mundo, com seguros que passam pelos segmentos residencial, automóvel, vida, previdência, consórcio, imóvel e até de pets.
Em dois anos, dos 48 de vida da Wiz, a corretora de seguros fechou cerca de sete parcerias e tem planos de lançar uma plataforma para o mercado imobiliário em 2021, segundo confirmou o CEO da companhia em entrevista ao InvestNews. “A Wiz que a gente está começando é nada perto da Wiz que seremos daqui há 2 anos”, explica Peixoto.
Para você, investidor, que ficou curioso sobre como a “Wiz 2.0” pode beneficiar seu bolso, apresentamos alguns dos planos da companhia e a avaliação dos analistas a seguir.
Como ficou a relação com a Caixa?
Segundo Peixoto, CEO da companhia, a Wiz possuía cerca de 40 contratos com o ecossistema Caixa que inclui Caixa Seguridade, a maioria de longa duração. Ao perder a concorrência para Alper, a Wiz ficou apenas com contratos de backoffice e segmento de consórcios que representam 28,9% das receitas.
Já o principal contrato, que era a comercialização de produtos e representava 44,5% das receitas, a Caixa internalizou. Com isso, a prestação da Wiz nas áreas de saúde, grandes riscos, auto e recuperação em produtos de seguridade encerra em agosto deste ano.
Contudo, Peixoto esclarece que pelo menos 40% destas receitas eram fluxo, vendas do passado que o cliente continua pagando. Por exemplo, a comissão de um seguro habitacional, com uma vigência entre 10 e 12 anos, que ainda deve trazer retornos para a companhia. No total, estas receitas representam ainda 86,6% do valor que a Wiz pode receber no longo prazo.
Já no curto prazo, Peixoto afirmou que a receita vinda da Caixa deve ser entre 20% e 30% e deve perdurar até 2022. Ele também avalia que 2021, será um ano com receita forte até o 3º trimestre. “Isso se a Wiz não continuar crescendo nesta velocidade, então pode ser que a importância da receita da Caixa seja reduzida”, aponta Peixoto.
O que mudou na Wiz
Para substituir a receita perdida com a Caixa Seguridade, a Wiz fechou sete novas parcerias. Embora não seja uma regra, Peixoto pretende diversificar e que nenhum dos novos players seja responsável por mais de 25% da receita da Wiz, diferentemente do passado.
Entre as novas parcerias da Wiz, estão:
- Inter Seguros: a Wiz tem 40% de participação da companhia e trabalha no sistema appassurance (seguros via aplicatvo do banco) com a oferta de todo tipo de seguros, desde residencial, automóvel, seguro de vida, previdência, consórcio até seguro de imóvel e pet. A aquisição aconteceu em 2019. Em 2020, o Inter Seguros dobrou de receita.
- Banco BMG: em 2020, a Wiz adquiriu 40% da corretora de seguros da BMG, a CMG, com foco nas vendas. A parceria agregou R$ 24,4 milhões à receita do Banco BMG no 4º trimestre de 2020.
- Caoa: a joint venture com a rede de concessionárias Caoa criaria uma nova empresa chamada Caoa Seguros com exclusividade de 20 anos na exploração para a oferta, distribuição, promoção e comercialização de seguros e produtos financeiros. Segundo Peixoto, a parceria com a Caoa, que ainda está em fase final de negociação, faria parte de um projeto maior focado apenas no segmento de automóveis.
- Itaú Consórcios: No começo de 2021, a Wiz fechou uma parceria com o Itaú para comercializar consórcios, uma iniciativa da plataforma Wiz Parceiros que conectava 17 mil vendedores no Brasil, para ofertar os consórcios do Itaú, entre estes os de veículos pesados.
- Paraná Banco: segundo Peixoto, a parceria com o Paraná Banco segue o mesmo modelo do Itaú Consórcios, com acesso a 17 mil pontos de venda, mas focado em empréstimos e crédito consignado.
No final de abril, a Wiz fechou mais uma parceria. Foi uma joint venture com o Banco de Brasília (BRB), que vai ofertar seguros com exclusividade de 20 anos pelo modelo bancassurance, incluindo consórcio, capitalização e todos os produtos de seguridade. Segundo Peixoto, o modelo é muito semelhante a do Inter Seguros mas, neste caso, a Wiz possui um controle maior que a BRB na joint venture.
Para o CEO da Wiz, o BRB é um banco em ascensão com forte potencial que vai ajudar a Wiz a vender mais, ampliar sua penetração de mercado e entregar melhores resultados em serviços e qualidade de atendimento. “O BRB deu um salto brutal nos últimos anos, a agora daremos outro salto assim juntos”, afirma Peixoto.
Nesta segunda-feira (3), a Wiz fechou uma nova parceria com o banco Santander Brasil para a operação de consórcios. O acordo prevê a distribuição de consórcios e produtos correlatos por meio da rede de parceiros comerciais da Wiz Soluções em mais de 16 mil pontos pelo Brasil.
A ideia do Santander é também ampliar as vendas de consórcios no segmento imobiliário para não clientes. Segundo Peixoto, todas estas parcerias devem render frutos para pelo menos os próximos dois anos.
Mercado imobiliário à vista
Peixoto também confirmou ao InvestNews que um projeto da Wiz no mercado imobiliário está em gestação e deve nascer ainda em 2021.
A ideia da nova plataforma será conectar milhares de imobiliárias, pequenas e grandes, para oferecer serviços como seguro, consórcio, crédito, financiamento e antecipação de aluguel. “Buscamos empoderar os corretores de imóveis”, explica.
A nova plataforma também deve nascer dentro do conglomerado Wiz, embora Peixoto não descarte fazer algumas aquisições para o projeto.
O objetivo é transformar uma imobiliária em banco, de modo que o cliente não precise mais ir ao banco fazer um financiamento e possa fazer isso via aplicativo. O crédito para financiamento deve vir de parceiros da empresa ou via Wiz Capital junto a investidores institucionais. Outra meta é simplificar o acesso da imobiliária a fiança no mercado de aluguel.
Vantagens de investir em WIZS3
Victor Bueno, analista da Top Gain, aponta que a perda de participação da Caixa Seguridade acabou impactando nas ações da companhia em março, com investidores preocupados com novas fontes de receita da companhia.
No entanto, houve um movimento de recuperação, com o mercado acompanhando as novas parcerias, que devem mudar o valor da empresa. Segundo Bueno, o mercado está bastante animado com o potencial de conseguir superar as receitas com a Caixa, e principalmente pela diversificação.
“No passado, a receita concentrada na Caixa Seguridade trazia riscos para o investidor”, avalia o analista. Para ele, essa concentração de capital é sempre ruim. Na nova Wiz, é possível ver uma receita diversificada em sete companhias, mas também em segmentos diversos. “Isso garante forte geração de caixa”, defende.
Entre as vantagens de investir em Wiz, Bueno destaca o pagamento de dividendos, que historicamente é elevado, com uma média superior a 6% de dividend yield desde 2016. “É um setor bom, sustentável, e a companhia tem mostrado regularidade no pagamento de proventos”, diz.
Outra vantagem seria a margem líquida, que segundo o analista sempre foi superior a 25% desde 2013, com indicadores de rentabilidade excepcionais. Já o ROI (retorno sobre o investimento) foi de 65% em 2020, segundo Bueno.
Ele destaca que, apesar da perda de receita da Caixa, a Wiz possui dívida controlada e alavancagem negativa (nível de endividamento) na ordem de -0,79 dívida/ebitda. “Ter mais caixa do que dívida bruta ajuda a sobreviver e buscar oportunidades”. A dívida da companhia é de R$ 52 mil, enquanto a da Caixa é de R$ 250 milhões.
Para Rodrigo Weinberg, analista de small caps da Suno Research, além de ser uma ótima pagadora de dividendos, a vantagem da Wiz está nas parcerias que fechou, sem exclusividade de negociação pelos canais bancários.
Segundo o analista, a companhia tirou o risco de depender de um contrato tão grande como a Caixa, para recompor o volume da sua receita, e penetração em novos mercados. “Ela tem o know-how, mas não é no primeiro ano que atingirá seu potencial máximo de vendas. Leva um tempo, mas está no caminho certo”, avalia.
Weinberg explica que, longe de tentar reinventar a roda, a Wiz está replicando o modelo de negócios que tinha com a Caixa da forma mais próxima possível, adaptando esta ao mercado. No seu potencial máximo, o analista acredita que a Wiz deve manter esse ritmo de consolidação e terá um fluxo de receita mais previsível e menos dependente de um único player.
Desvantagens de investir em WIZS3
Entre as desvantagens, Bueno, da Top Gain, aponta a dificuldade da ação valorizar no curto prazo, porque já teriam sido precificadas todas as novas parcerias. “Em 2021, não vejo uma forte valorização ou a ação dobrando de preço”, explica.
Por este motivo, a recomendação do analista é neutra, com preço-alvo de R$ 10. que pode mudar a depender dos resultados das novas parcerias. Atualmente, a ação negocia perto dos R$ 11,65.
Segundo dados da Comdinheiro, no acumulado de 2021 até o fechamento de 3 de maio, as ações da Wiz valorizaram 49,55%, enquanto o índice Small Caps (SMLL) e o Ibovespa (IBOV) acumularam ganhos de 4,50% e 0,30%, respectivamente.
Nos últimos dois anos, em meio ao seu processo de reinvenção e também enfrentando a pandemia, a Wiz saltou 103,87%, enquanto o índice Small Caps (SMLL) subiu 59,57% e o Ibovespa (IBOV) avançou 30,98%.
Apesar dessa evolução, Bueno destaca que, nos próximos anos, o resultado das novas parcerias pode destravar ainda mais o preço, mas reforça o investimento para uma estratégia de dividendos.
Ainda entre as desvantagens, Weinberg, da Suno, cita o desafio de todas as novas parcerias suprirem o espaço da Caixa, frente a um mercado de startups diversas crescentes no mercado financeiro. “A Wiz, que é uma geradora de caixa, saiu de uma posição confortável a brigar pelo mercado”, avalia.
Outro desafio é a desintermediação do mercado de seguros. Hoje é simples cotar seguros pela internet e as corretoras acabam perdendo espaço. No imobiliário, por exemplo, a Wiz teria que concorrer com plataformas como Quinto Andar, que já trabalham com isso. “Já aconteceu com o mercado de ações, na corretagem, quem sabe não ocorra com seguros também”, reforça.
Bons dividendos
Se existe uma semelhança entre a velha e a nova Wiz é que ela sempre foi procurada pelo investidor como pagadora de dividendos. Segundo sua política de distribuição, a Wiz paga 50% do lucro líquido aos acionistas e esse payout não deve mudar no curto prazo, segundo confirmou o CEO da companhia ao InvestNews.
Com um caixa na ordem de R$ 250 milhões, a empresa já estaria negociando parcerias com grandes instituições financeiras. Peixoto esclarece que está confortável com a ideia de tomar dívida por debêntures, para alavancar as novas aquisições.
“Estamos priorizando a emissão de dívida porque nossas ações ainda não estão em um momento ideal para follow-on”, explica. Segundo o CEO da Wiz, a ideia é continuar distribuindo 50% do lucro em dividendos. “Apesar das aquisições, temos caixa e capacidade de alavancar”, comenta.
Veja o retorno em dividendos nos últimos 5 anos da Wiz, segundo dados da Comdinheiro:
Data | Dividend yield (%) |
31/12/2020 | 8,62% |
31/12/2019 | 12,59% |
31/12/2018 | 4,69% |
31/12/2017 | 3,69% |
31/12/2016 | 7,01% |
31/12/2015 | 2,14% |