Além de prever no passado que inteligência artificial seria o grande hype, Scott Galloway agora aponta que o valuation das gigantes de tecnologia que lideram tais ferramentas está “exagerado”, além de fazer considerações sobre o futuro dos mais jovens – uma geração isolada pelo distanciamento social gerado pela dependência de IA.
Reconhecido entre os “Líderes Globais do Amanhã” do Fórum Econômico Mundial, Galloway também teceu, durante o CEO Conference, nesta quarta-feira (7), declarações polêmicas quanto ao Vision Pro, o novo óculos de realidade aumentada da Apple, apontando que “é uma das coisas mais idiotas inventadas” (veja no decorrer da matéria).
Valuations no pico
Galloway apontou que é complicado racionalizar a capitalização de mercado de companhias, como a Nvidia, ao se olhar para os múltiplos de receitas. E por isso, as oportunidades de investimento em ações das empresas que lideram avanços em IA não serão mais tão atrativas por estarem valorizadas ao máximo.
“Do ponto de vista de valuation, já vimos o pico. Acho que está exagerado e cada vez mais complicado racionalizar o valor das big techs”, disse.
Como exemplo, o professor de marketing na Stern School of Business da New York University citou que o valor de mercado do S&P, medido pelo preço/lucro, está sendo negociado a 23 vezes, puxado pelas “Magnificent Seven” (em tradução livre, as “Sete Magníficas”).
Em 2023, Apple, Nvidia, Alphabet, Microsoft, Amazon, Tesla e Meta acumularam ganhos de quase 70% no S&P. Juntas, as sete representam 27,4% do valor de mercado do índice americano, o que segundo o Goldman Sachs, é a maior capitalização de mercado já dominada por apenas sete papéis.
“Essa concentração não é comum e não é saudável. E infelizmente a maioria de ganhos são concentrados em um pequeno grupo”.
Scott Galloway
O custo de poder computacional massivo da IA alto demais justifica, de certa forma a concentração entre as big techs e, por isso, não há novos players para mudar o jogo, segundo Scott.
Mas no campo econômico, o ganho de produtividade real pela IA ainda não foi medido e, com certeza, está só começando, disse.
Jovens e solitários
Galloway fez outras observações em torno de inteligência artificial, desde aplicações em setores como saúde, educação, riscos, até os impactos gerados nas novas gerações. Sobre esse último, o especialista aponta que haverá uma epidemia da solidão.
“Prevejo que teremos uma geração de pessoas que vão pagar o preço da rejeição e do trauma emocional por sua busca de parceiros e amigos através de telas, avatares ou bonecos artificiais sem estabelecer vínculos na vida real. Será uma epidemia de solidão, o que tende a resultar em depressão e ansiedade”.
Segundo Scott, há muitas pesquisas científicas sobre o quão saudável é ter amigos, mas que infelizmente, a sociedade mais jovem tende com a inteligência artificial a não socializar na vida real e ficar presa em seus quartos e headsets .
“Uma das coisas mais idiotas inventadas são os óculos de realidade aumentada. Quando você usa um, você diz ao universo que não quer ninguém próximo e que não quer procriar”, disse. “É rídiculo”.
Scott Galloway
Ainda segundo o professor de marketing, esses dispositivos, como o Vision Pro, da Apple, vão enfrentar sérias limitações para adoção em massa, restringindo a aplicações de nicho – de robótica, games à pornografia.
Como copo meio cheio, apesar das declarações polêmicas, Galloway diz ver um benefício social de IA na área de saúde, visualizando um futuro promissor com uma mudança na forma como as pessoas lidam com o tema, passando de uma abordagem reativa para proativa.
“As pessoas buscam assistência apenas quando estão doentes, e com IA, teremos um bot para mandar mensagens sobre sua saúde através dos dados do seu consumo, estilo de vida, alimentação, exames de sangue, fornecendo recomendações personalizadas e preventivas.”
Scottt também acredita que IA deve levar acesso à saúde aos rincões mais pobres do país, assim como educação via acesso por dispositivos móveis.
Desinformação
O professor e também autor de livros traduzidos para 28 idiomas apontou que uma ameaça real da IA é a desinformação. “Nos EUA, teremos um apocalipse em torno das eleições presidenciais, com sérios riscos sobre os resultados a depender dos esforços que serão colocados em criar fake news”, prevê.
O professor acrescentoa ainda que os riscos aumentam caso plataformas sem moderação e checagem dos conteúdos disseminem possíveis ofensivas.
Já sobre o Brasil, Galloway fez elogios apontando que é um modelo de democracia, diferente dos Estados Unidos. “Temos alguém que lidera uma insurreição e segue à frente na corrida eleitoral [Trump]. Mas graças ao Brasil, sabemos que isso não vai acontecer novamente nos EUA. E é muito bom ver a maior economia da América Latina servindo de exemplo para outros países ocidentais”.
O americano, que apontou visitar Florianópolis há 20 anos, além de elogiar as praias e comida brasileira, vai lançar um novo livro chamado “A álgebra da riqueza”.
Mesmo sem entrar no mérito do conteúdo, ele ofereceu dicas para construção de patrimônio. “Tenha foco, encontre algo em que seja bom e que tenha alta taxa de empregabilidade, e daí sim você terá paz e dinheiro. Encontre seu talento, e não sua paixão. Você vai se apaixonar voando de executiva, pode acreditar”.
Já sobre investimentos, Scott foi categórico. “Escolher ações é para idiotas, isso é impossível no longo prazo”.
“Mercado acionário é uma bolha, então compre uma pilha de palha para encontrar a agulha, e não queira encontrar a agulha no palheiro”.
scott galloway.
Isso porque o professor acredita na tese de que o tempo é o melhor aliado, e é preferível investir por fundos indexados (como ETFs).
“Foco, diversificação, ser estoico e apreciação do tempo são o segredo”.
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